O Século das Luzes não é de todo o do Iluminismo oitocentista. O Século das Luzes é este, que vivemos agora, em que a cada dia mágico que passa, ficamos a saber montes de coisas absolutamente espantosas.
Ficamos a saber que Aquiles era natural do Uganda, que Cleópatra era negra, que os vikings eram transexuais (e negros, também), que os pigmeus africanos são originários da Irlanda e que a Branca de Neve é porto-riquenha e que o 007 é uma mulher (negra e, se possível, lésbica).
Ficamos a saber (como é que foi possível passarmos cem mil anos a ignorar isto) que os homens podem parir e que as mulheres transportam testículos.
Ficamos a saber, segundo um novo livro de história para crianças, promovido por um organismo financiado pelo governo inglês, que foram os negros que construíram Stonehenge, e que a Grã-Bretanha era um país povoado por africanos antes da chegada dos brancos:
E a seguir?
A seguir vamos ficar a saber que Roma foi fundada, não por Rómulo, mas por Shaka Zulu.
Vamos ficar a saber que o palácio de Versalhes foi mandado construir por Mustafá I e que Buckingham foi levantado por Genghis Khan e que os Jerónimos foram obra do Preste João e que a Torre Eiffel devia chamar-se Torre Saladino, porque foi na verdade projectada pelo famoso sultão do Egipto.
A seguir vamos perceber que afinal foi um génio magrebino que inventou a máquina a vapor e que Thomas Edison roubou a ideia da lâmpada eléctrica de um dos Manuscritos do Mar Negro que por acaso encontrou, quando estava de férias, nas cavernas de Qumran.
A seguir vamos ficar a saber que Clark Gable era um imigrante chinês, que Marilyn Monroe, sem a maquilhagem, era mestiça e que Brad Pitt, antes de chegar a Hollywood, tinha carapinha.
A seguir vamos ficar a saber que não foi Péricles que liderou Atenas, no seu apogeu civilizacional. Foi Nelson Mandela.
A seguir vamos ficar a saber que os pais de Albert Einstein pertenciam à tribo dos Apaches, que Newton foi parido no Cazaquistão, que Leibniz era uma mulher, que Heisenberg era judeu e que entre os antepassados de Winston Churchill se contam vários patriarcas aborígenes.
Alexandre, o Grande? Um dia chegaremos à conclusão, óbvia, que era natural de Zanzibar. Platão? Toda a gente vai descobrir que nasceu na Palestina. Immanuel Kant? É provável que, como o nome indica, fosse persa e que foi a soldo do imperador Xerxes que engendrou os Imperativos Categóricos.
A seguir vamos ficar a saber que o Papa Bento XVI abdicou por causa de ter encontrado a verdade no Corão, que Marinho Lutero abjurou por causa de ter lido os Vedas e que Calvino cismou depois de ter conversado com Buda.
A seguir vamos ficar a saber que quem escreveu a Ilíada foi Confúcio, quem escreveu a Eneida foi o chefe índio Touro Sentado, quem escreveu os Lusíadas foi o Mamadou Ba e quem escreveu Guerra e Paz foi um obscuro escriba filipino.
Picasso será peruano, Hopper será neo-zelandês (indígena), Caravaggio será esquimó e quanto a Rembrandt, tudo parece indicar que foi dado à luz algures no arquipélago do Havaí.
Já o senhor Casanova, mais tarde ou mais cedo será homossexual.
A História passou a ficção, completamente, agora.
Jorge Luís Borges: volta que estás perdoado.
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