Tim Gurner, fundador da empresa imobiliária Gurner Group, com um património líquido estimado em 584 milhões de dólares, ganhou fama global após declarações que fez na Financial Review Property Summit, em Sydney, na semana passada.
A dada altura da sua intervenção, Gurner proclamou:
“Precisamos de ver o desemprego a aumentar. Na minha opinião, o desemprego tem de aumentar 40-50%. Precisamos de ver a economia a sofrer. Precisamos de lembrar às pessoas que elas trabalham para o empregador e não o contrário”.
Esta afirmação extrema demonstra por si só a ferocidade da guerra que as elites declararam às massas.
Gurner também disse que os trabalhadores têm sido “pagos muito para fazer pouco nos últimos anos”, afirmação que não é de todo verdadeira. No Ocidente, há décadas que os salários estão dissociados da produtividade, com esta a aumentar enquanto os primeiros estagnaram.
É no mínimo estranho que Gurner sonhe com aumentos brutais de desemprego num contexto recessivo do mercado de trabalho, a que já chamam a “Grande Demissão”. Milhões saíram do mercado de trabalho por causa da Covid-19. Muitos abandonaram os seus empregos por causa dos confinamentos – ou do pânico que foi libertado nas sociedades – e quando voltaram, as suas tarefas tinham sido eliminadas ou estavam a ser realizadas por tecnologias de automação ou inteligência artificial. Outros chegaram simplesmente à conclusão que preferiam viver subsidiados pelo estado. Houve também quem perdesse o emprego por ter recusado os mandatos de vacinação.
Além do mais, as pessoas fartaram-se dos seus empregos sem futuro. Uma sondagem da Pew Research aos americanos, realizada em março de 2022, revelou que
“A maioria dos trabalhadores que abandonaram o seu emprego em 2021 afirmam que os baixos salários (63%), a falta de oportunidades de progressão (63%) e o facto de se sentirem desrespeitados no trabalho (57%) foram as razões pelas quais se despediram, de acordo com o inquérito realizado entre 7 e 13 de Fevereiro”.
Embora este factor de frustração se refira sobretudo aos Estados Unidos, verifica-se com maior ou menor intensidade na generalidade dos outros países desenvolvidos. A incongruência de poder entre trabalhadores e corporações tem sido tão parcial a favor destas, e durante tanto tempo, que a guerra de classes se tem tonado cada vez mais óbvia.
Não deixa de ser curioso que os comentários de Gurner sobre o desemprego se inspirem quase directamente num dos princípios fundamentais do marxismo:o conceito da reserva de mão de obra. Karl Marx argumentou em “O Capital” que, à medida que o capitalismo se desenvolve, a necessidade de tirar mais trabalho de um grupo mais pequeno de trabalhadores cria um grupo redundante, a força de reserva. Este “exército” de trabalhadores desempregados e subempregados irá expandir-se ou contrair-se em função do estado da economia e das necessidades de acumulação de capital.
A ideia comum é que quanto mais a economia se desenvolve, mais empregos são criados; toda a gente beneficia da acumulação de capital e este passa dos patrões para os trabalhadores. Marx argumenta, no entanto, que o capital encontrará novas formas de maximizar a produtividade com menos trabalhadores e de aproveitar a força de reserva de mão de obra (os desempregados) para suprimir o crescimento dos salários. Ao defender o aumento do desemprego para diminuir a influência dos trabalhadores, Gurner está essencialmente a fazer o que Marx disse que os capitalistas fariam na sua obra magna.
Ou seja: o capitalismo corporativo contemporâneo, aqui esplendidamente ilustrado por Tim Gurner, é de tal forma desviado do senso e da ciência económica que até consegue dar razão a Marx.
Gurner e outros multimilionários que possam estar a pensar como ele mas que, pelo menos, têm o bom senso de não o dizer em voz alta, deviam dar um passo atrás, respirar fundo e adaptar a sua linha de pensamento ao século XXI e não a políticas de emprego saídas da Revolução industrial. Gurner deve lembrar-se de que as reivindicações actuais dos trabalhadores, que têm as suas raízes na social-democracia do século XX, não se destinam principalmente a ajudar os trabalhadores – destinam-se, sim, a salvar pessoas como ele da ira das classes descontentes.
É também importante perceber que há pessoas por trás dos números do desemprego; seres humanos com vidas, famílias e uma experiência existencial tão válida como a de Gurner e dos seus amigos globalistas. Sugerir o aumento do desemprego como política económica é extraordinariamente cruel e manifestamente anti-humano. Dada a actual fragilidade das democracias ocidentais, as pessoas em posições de destaque que estão a conceber tais mecanismos intelectuais precisam de se lembrar que há limites, na História Universal, para a servidão a que é possível submeter as massas.
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