O governo francês está a considerar “todas as opções”, incluindo o estado de emergência a nível nacional, após várias noites de violência, destruição e pilhagem em dezenas de cidades do país, que se traduziram em centenas de detenções e de polícias feridos, milhares de incêndios, propriedade privada vandalizada e destruição de símbolos do Estado, como câmaras municipais, escolas, estações de correios e autocarros.

 

 

Cerca de 40.000 polícias foram destacados por todo país desde quinta-feira à noite, numa tentativa, vã, de estancar a violência. No Domingo, forças militares ocupavam locais estratégicos em várias cidades.

A súbita explosão de violência foi desencadeada pela morte, na terça-feira, de um adolescente em Nanterre, um subúrbio de Paris. Conhecido da polícia por conduzir repetidamente sem carta de condução ou seguro, e já com um cadastro que registava mais de uma dezena de contra-ordenações, Nahel foi mandado parar depois dos agentes o terem visto a infringir as leis rodoviárias e a por em risco a vida de peões e ciclistas na via pública. No entanto, a interação com os agentes deteriorou-se rapidamente quando o jovem tentou fugir no seu carro, o que fez com que um desses agentes decidisse disparar a sua arma, matando o jovem. O agente que disparou foi detido e aguarda procedimentos judiciais.

 

 

 

De acordo com o jornal francês Le Figaro, só na quinta-feira à noite houve 875 detenções em todo o país, Os números que sublinham a dimensão considerável dos ataques revelam que foram ateados cerca de 3880 incêndios durante essa noite, 249 polícias ficaram feridos e 492 edifícios foram danificados.

Entre os edifícios danificados, há várias câmaras municipais e escolas incendiadas, segundo os relatórios. Le Parisien cita o Ministério do Interior para informar que 80 esquadras de polícia foram danificadas, 34 câmaras municipais arderam ou foram vandalizadas, junto com 28 escolas e 57 outros edifícios do Estado. Os ataques aos símbolos da República parecem ser tão direccionados que até caixas de correio individuais foram atacadas. O presidente do Partido Republicano Francês, Eric Ciotti, publicou nas redes sociais imagens que alegadamente mostravam um presidente da câmara francês a ser atacado por uma multidão enquanto o seu carro era incendiado.

 

 

Em Marselha, dois polícias que não estavam de serviço foram reconhecidos sem uniforme e ficaram “gravemente feridos” no que foi descrito como um “linchamento”. A polícia tem sido um alvo preferencial por vários grupos radicais islâmicos e há relatos de que armas e veículos da polícia foram entretanto capturados pelos amotinados.

 

 

Foram igualmente registados saques a estabelecimentos comerciais, incluindo estações de serviço, tabacarias, lojas de electrodomésticos, telecomunicações e vestuário. Num subúrbio parisiense, um camião foi utilizado para arrombar as portas de um centro comercial para que os saqueadores pudessem aceder às lojas no interior. Em Paris, os amotinados soltaram animais do Jardim Zoológico, que agora andam livres pelas ruas.

Numa imitação barata do concerto apocalíptico do imperador Nero, Macron dançava ao som de Elton John enquanto a república ardia. Regressado depois aos seus deveres, o Presidente francês responsabilizou as redes sociais, os jogos vídeo e a má educação pelos motins gigantescos. Nem uma palavra sobre as políticas de imigração que levaram a este apocalipse. Elisabeth Borne, a primeira-ministra, disse que

“O governo não deixará nada de fora para restaurar a ordem. A declaração do estado de emergência não está fora dos nossos planos”.

Mas o recolher obrigatório decretado em algumas cidades mais afectadas pelos motins não teve qualquer efeito. No sábado à noite, a França continuava a arder. E no domingo também, com relatos de fogo de morteiro e de metralhadoras de calibre militar por parte de grupos islamitas.

 

 

Os meios de comunicação social franceses compararam repetidamente a violência atual com os motins de 2005, que, de tão intensos que foram, se tornaram a referência com a qual todos os distúrbios urbanos no país têm sido comparados desde então. Michel Aubouin, funcionário público francês de topo, especialista em violência urbana e na gestão da integração dos migrantes na sociedade, alertou entretanto numa entrevista para possibilidade desta insurreição poder vir a ser pior que a de 2005. O líder populista francês Eric Zemmour culpou a política de imigração do século XXI, afirmando acreditar que o país está agora à beira de uma guerra civil.

O escritor descreveu os acontecimentos assim:

“É uma guerra étnica, racial… Em 2005, apenas os subúrbios foram afectados. Agora, toda a França é afectada, de Paris às pequenas cidades. E porquê? Porque, durante 20 anos, distribuímos imigrantes por todo o país.”

 

 

Os acontecimentos dos últimos dias, que entretanto alastraram para a Bélgica e para a Suíça, sugerem que mais problemas podem ainda estar para vir, uma vez que certos actos coordenados implicam o planeamento de acções futuras. No subúrbio parisiense de Seine-Saint-Denis, uma rectroescavadora foi roubada de um estaleiro de construção e utilizada para destruir 39 câmaras CCTV na cidade durante a noite. Entretanto, uma loja de artigos de caça desportiva em Bordéus foi saqueada na quinta-feira à noite, tendo sido levadas todas as espingardas e munições.

Por outro lado, para além da intervenção da polícia e de forças militares, estão a ser tomadas outras medidas estatais a nível local para evitar ou, pelo menos, reduzir a violência. Alguns municípios franceses proibiram a venda ou o transporte de fogo de artifício e mesmo de gasolina. O Presidente da Câmara da cidade de Drancy deu instruções a todos os pais para que os seus filhos – “mesmo os jovens adultos” – permaneçam em casa durante a noite.

Os transportes públicos estão suspensos na região parisiense a partir de hoje e até nova ordem. Embora se diga que é para a segurança dos passageiros e do pessoal, talvez o número de autocarros e eléctricos incendiados nas últimas noites também tenha influenciado a decisão.

Na sequência das afirmações orwellianas e delirantes de Macron, a censura sobre as redes sociais já foi instalada em França. Porque não há guerra civil se não soubermos dela. E porque o presidente francês pode contar com a imprensa corporativa para respeitar a narrativa que o regime preferir divulgar.

 

 

Entretanto, e perante o selvático quadro de destruição, as Nações Unidas decidiram criticar a França por “questões profundas de racismo e discriminação racial na aplicação da lei”, reforçando assim a legitimidade dos movimentos de insurreição e colocando gasolina no incêndio que parece neste momento incontrolável.