“A astrologia é verificável, se alguém se der ao trabalho de a verificar. Porque motivo os astros nos influenciam é uma pergunta difícil de responder, mas não é uma pergunta científica. A pergunta científica é: influenciam-nos ou não? A razão pela qual nos influenciam é de ordem metafísica e não perturba o facto, uma vez que verifiquemos que se trata de um facto.”
Fernando Pessoa

 

Os antigos confundiam duas disciplinas que para os modernos são irreconciliáveis: astrologia e astronomia. Os milhões de pessoas que diariamente devoram os seus horóscopos não estão à espera de encontrar neles o cálculo matemático para uma teoria unificadora da física e aqueles mais racionais de entre nós, não procuram dicas para a sua vida pessoal, nem influências no seu carácter, no trânsito de Neptuno.

Mas afinal, parece que, a cada momento do seu movimento celeste, a posição que ocupam no firmamento os objectos astrais pode muito bem exercer gravidades enigmáticas sobre a vida biológica na Terra. Por exemplo: causar cientificamente demonstráveis perturbações no santo sono dos mamíferos Sapiens.

Mas se esse padrão de noites mal dormidas coincide com as fases da Lua, podemos especular: não será Júpiter, 400 vezes maior e outras tantas mais pesado, capaz de poderosas e majestáticas interacções? Não influenciará a órbita de Saturno as marés e as pescarias? E Marte, que sendo bem mais pequeno que a Terra é quarenta vezes maior que a Lua, não inspirará a discórdia entre gregos e troianos, naqueles momentos cíclicos em que fica mais perto do Mediterrâneo que é este mundo? E Vénus, que num dado instante da sua viagem sideral é o planeta que como mais nenhum se chega à nossa esfera, despertará paixões terríveis no momento dessa sideral intimidade?

E não imperará o Sol, duzentos tamanhos acima de Júpiter, sobre todas as formas de vida terráquea, animais ou vegetais? A resposta é sim, impera de facto.

Bom Deus, isto é conversa de faraó renegado, de romano pagão, de astrólogo de taberna ou de saloio supersticioso. Não pode ser. E quando aquilo que a actividade científica produz não está de acordo com o seu paradigma, acontecem falências técnicas e paragens cerebrais como aquelas que no clip em baixo testemunhamos: o confrangedor espectáculo de patinagem artística em gelo de espessura capilar que nos é oferecido pelo bom do Anton Petrov.