Quase seis anos após o termo do mandato de Joe Biden como vice-presidente, foram descobertos materiais classificados – incluindo alguns ficheiros supostamente ultra-secretos – no armário de um Think Tank localizado no sexto andar de um edifício de escritórios privado em Washington. Um segundo lote de documentos classificados foi encontrado num local “não revelado”, que neste momento se supõe ser a garagem da residência pessoal do agora Presidente.

A notícia chega menos de quatro meses depois do Presidente Biden ter acusado o Donald Trump de irresponsabilidade na sequência da apreensão, na sua casa de Mar-a-Lago, de documentos marcados como classificados, que levou o FBI a invadir a residência do Ex-Presidente, no ano passado.

Todos os chefes de estado armazenam indevidamente, muito provavelmente, documentos confidenciais. As hipóteses de qualquer deles ser processado com sucesso por ter arrumado dossiers classificados durante uns anos na biblioteca pessoal são infinitesimais.

No entanto, agora que sabemos que Joe Biden teve o mesmo comportamento com este tipo de documentos que Donald Trump – talvez pior, considerando que os vice-presidentes têm menos margem de manobra em relação este tipo de documentação – é legítimo inferir que o aparelho judicial americano reaja com o mesmo zelo. E, surpresa das surpresas, o Procurador-Geral Merrick Garland, completamente um homem do sistema democrata, nomeado por Joe Biden, assumiu a delicadeza da situação, nomeando de facto um procurador especial independente para investigar o caso. É que nem é preciso chamar o FBI para fazer uma rusga no domicílio particular de Biden, como aconteceu com Trump. Basta que a justiça americana aja de acordo com os mínimos previstos pela lei, e com equidade.

 

 

O problema sério para Joe Biden é que o procurador independente que vai presidir ao inquérito é republicano. E nestes casos de embate entre super-procuradores de um partido e presidentes de outro, as coisas podem correr mal para os presidentes, se bem nos lembrarmos do que se passou com Bill Clinton.

Na sexta-feira à noite, Tucker Carlson prometia, a propósito deste caso, a queda de Joe Biden, na medida em que o aparelho democrata permitiu que Merrick Garland levasse a situação à consequência do inquérito independente. Na sede do Partido Democrata em Washigton (DNC), haverá quem não queira arriscar um segundo bilhete eleitoral Biden-Harris e, para que Kamala tenha alguma hipótese como “candidata natural” nas próximas presidenciais, convinha que entretanto montasse um mesmo que breve estaminé na Sala Oval, no caso do actual presidente ser deposto.

Tanto mais que os documentos foram alegadamente descobertos em meados de Março do ano passado, mas só ouvimos falar deles novos meses mais tarde e depois das eleições intercalares. Merrick Garland tem aparentemente carta verde pode ferir Joe Biden, mas não os restantes líderes democratas.

Tucker começa por dar o exemplo da deposição de Andrew Cuomo, o poderoso governador do estado de Nova Iorque, tão popular que até ganhou um Emmy. Num dia um herói, noutro dia um vilão, de acordo com as lógicas de poder dos líderes do DNC. E daí para a conclusão de que os líderes do Partido Democrata não vão ter qualquer problema na manobra de deixar cair Joe Biden, se preciso for, para não perder a Casa Branca.

 

 

A imprensa corporativa entre o instinto e a curiosidade.

O primeiro instinto da imprensa convencional, quando rebenta contra sua vontade um qualquer caso que afecte os regimes globalistas de esquerda, é o de encobrir, relativizar e escamotear os factos. Mas neste momento, nenhuma das racionalizações oferecidas pelos meios de comunicação social para as acções de Biden é admissível.

Quando a história surgiu pela primeira vez, os meios de comunicação social salientaram que uma das distinções vitais entre os dois incidentes era que Biden estava na posse de menos documentos do que Trump, e que estavam “trancados” nos escritórios pessoais do think tank do presidente – como se a localização ou o número de documentos, ou a alegada tranca, em vez do seu conteúdo e da aparente negligência (ou intenção mais danosa ainda), fossem o aspecto relevante da história.

Depois, quando se soube que um segundo “lote” de documentos classificados fora descoberto, começou a gestão de danos. Biden, segundo nos disseram os media mainstream, começou a vasculhar diligentemente as caixas para garantir que estavam em total conformidade com a lei. Uma fonte completamente independente até garantiu que

“A busca foi exaustiva, com o objectivo de obter uma contabilidade completa de todos os documentos classificados que possam ter sido inadvertidamente embalados em caixas quando Joe Biden saiu do espaço do gabinete do vice-presidente em Janeiro de 2017”.

No correr da semana passada foi-nos dito que uma outra diferença importante, muito importante, entre os dois casos residia no facto dos documentos se encontrarem num escritório “sério”, em vez de terem sido “despejados numa casa”. Definiçãod e areia para os olhos. Isto enquanto o advogado de Biden declarava que “um pequeno número” de documentos classificados também foi encontrado “fechado” na garagem de Biden e numa sala “adjacente” da sua casa em Wilmington e que foi guardado “em segurança” ao lado do seu amado Corvette. E que é até natural que se venha a encontrar mais um ou outro “pequeno número” de documentos confidenciais na residência.

 

 

Ainda assim, a curiosidade, que já foi a pulsão primeira da profissão jornalística, foi em certos casos mais forte que o seguidismo, talvez porque nas redacções mainstream americanas já tenha soprado um vento de direcção diferente. Com zelo inusitado, se bem que telegráfico, uma peça da CNN relatou que os documentos encontrados no think tank estavam relacionados com a Ucrânia, o Irão e o Reino Unido, pelo que não se tratam apenas de circulares banais. No fim da semana soubemos também, num outro relatório do The New York Times, que Biden, apesar da sua insistência em não saber nada sobre os envolvimentos estrangeiros do seu filho Hunter, se tinha encontrado com uma delegação que representava interesses da energética ucraniana Burisma, entre muitas outras revelações. Artigo sintomático de que o actual inquilino da Casa Branca está a perder o apoio dos poderes estabelecidos.

 

 

E se, de uma maneira geral, a imprensa americana não tem conseguido fugir ao reportar do escândalo, na Fox News, estão em modo de banquete:

 

 

O trigo e o joio.

O que é importante agora, não é que Biden tenha contactado “imediatamente” as autoridades e que esteja a “cooperar plenamente”. Não faltava mais nada que a Casa Branca optasse por mentir ou por não cooperar. Mas há que considerar que Biden (ou outros por ele) escolheu um momento oportuno para cooperar com a sua própria administração, num esforço coordenado que pode até evitar o risco de um processo transparente. Até porque, longe de “imediatamente” entregar estes materiais a quem de direito, o presidente continua na posse de documentos classificados que, como a própria administração admite, têm sido “exaustivamente contabilizados”. Como é que a Procuradoria Geral sabe que não há mais documentos perdidos e se parte deles foram ou estão a ser destruídos? E que razões levaram esses documentos à residência e ao think tank de Joe Biden, para lá permanecerem durante 6 anos? Foi um acto calculado ou inadvertido?

Estas questões serão muito provavelmente satisfeitas, se o Procurador Especial souber e puder levar o seu trabalho a bom porto. E, se cumprirem as piores expectativas, podem conduzir Joe Biden a sarilhos grandes.