À 15ª tentativa, e depois de prometer tudo a toda a gente que se senta na bancada que agora dirige, Kevin McCarthy lá acabou por ser eleito speaker da Câmara dos Representantes do Capitólio. Mas entretanto, o espectáculo que os republicanos ofereceram ao mundo foi degradante.
Dan Crenshaw: os 20 representantes do Partido Republicano que se recusam a votar em McCarthy são ‘terroristas’.
Crenshaw, um dos mais agressivos representantes do complexo industrial e militar que o Partido Republicano tem no Congresso, disse à Fox Radio na quarta-feira passada que tinha sido encostado à parede pelas duas dezenas de dissidentes, cujo pecado máximo terá sido recusarem-se a votar num homem que representa tudo o que é corrupto e está podre no Partido Republicano. E assim sendo:
“Não votaremos em mais ninguém a não ser em McCarthy. Não podemos deixar que os terroristas ganhem.”
Rep. Dan Crenshaw on the 20 Republicans who oppose McCarthy:
“We cannot let the terrorists win.” pic.twitter.com/toZlSdikpk
— Greg Price (@greg_price11) January 4, 2023
Os “terroristas” são representantes do partido dele, eleitos como ele. Têm um problema: não apoiam, como ele, a guerra na Ucrânia nem querem financiar Zelensky. Não estão a soldo, como ele, do Pentágono nem da Boeing, nem da Lockheed Martin nem da Northrop Grumman. Não querem, como ele, ceder nem mais um milímetro a movimentos como o Black Lives Matter ou o LGBTQ+. Não querem pactuar, como ele pactua, com o pântano de Washington. Não são, como ele é, pessoas simpáticas à redacção do Wall Street Journal ou do New York Times. Nunca foram, como ele foi, passar uns dias a Davos.
Alguém terá que explicar a Dan Crenshaw o significado da palavra “terrorista”, apesar de ser estranho que um veterano de guerra que optou, segundo ele próprio, pela carreira militar a propósito dos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, não consiga na verdade entender o termo.
Crenshaw já tinha usado retórica semelhante no dia anterior, quando rotulou de “inimigos” todos aqueles que não se alinham de acordo com os grupos de interesse instalados no Capitólio e que acham que foram eleitos para representar os interesses dos seus eleitores e não da elite burocrática do GOP. O representante eleito pelo segundo distrito eleitoral do Texas falou verdade, porque os dissidentes são de facto inimigos dele e de tudo o que ele representa.
Na quarta-feira acrescentou ainda que o pequeno grupo de representantes do seu Partido precisam de dizer o que realmente querem (projectando que todos têm agendas de interesse individual, como ele tem) ou “calar a boca” e obedecer aos seus líderes partidários.
Rep. @DanCrenshawTX is pissed.
“I’m tired of your stupid platitudes that some that some consultant told you to say on the campaign trail, alright. Behind closed doors tell us what you actually want, or shut the fuck up,” he said of the 20 defectors.
— Dylan Wells (@dylanewells) January 4, 2023
Quando foi eleito, Dan Crenshaw surgiu como um nobre veterano de guerra, um oficial e um cavalheiro que anunciava aos quatro ventos que a política americana precisava desesperadamente de “civilidade”, mas agora está a rotular os seus adversários políticos de “terroristas” e “inimigos” domésticos. Este neoconservador, como todos os neoconservadores, é de facto uma pessoa bastante cordial. Com os democratas. Porque com os populistas do seu partido é um ordinário sem nome.
Brian Kilmeade: quem não votar em Kevin McCarthy é um ‘insurrecto’.
O co-apresentador do Fox & Friends Brian Kilmeade declarou em directo na Fox News, na quinta-feira passada, que
“Os representantes do Partido Republicano que não querem votar em Kevin McCarthy são insurrectos”.
Só depois de lhe ter saído o disparate monumental pela boca fora é que Killmeade pensou no que estava a dizer:
“Provavelmente não deveria usar esta palavra…”
Mas os seus colegas deram-lhe uma ajuda:
“São Sabotadores.”
“Sim, Sabotadores” confirmou Kilmeade, aliviado.
Brian Kilmeade’s Freudian slip speaks volumes . They’re all in for the swamp. pic.twitter.com/1frZ20VA9n
— First Amemedment (@_the_corner_pub) January 5, 2023
Brian Kilmeade gosta de se projectar como um desalinhado em relação aos poderes instituídos, mas quando as coisas aquecem é tão instituído como qualquer apparatchik.
A brief list of Brian Kilmeade’s books: they’re all about a few standing against many, the American Revolution, desperate fights against the odds.
That he’s now attacking the few Republicans taking a stand on principle shows he’s a fraud. He doesn’t believe in what he sells. https://t.co/q5wC62GxUG pic.twitter.com/C1d1xmE0QT
— Pedro L. Gonzalez (@emeriticus) January 5, 2023
A juíza Jeanine Pirro, outra estrela da Fox News que gosta de se mascarar de rebelde e gerrilheira contra o establishment, atacou a representante Lauren Boebert e o resto do grupo anti-McCarthy, acusando os dissidentes de egomania.
“Estão a fazer os republicanos parecer ridículos. Eu gosto de Kevin McCarthy! Isto é uma vergonha, eles são egomaníacos que não têm respostas e deviam ficar calados e alinhar com a maioria neste ponto!”
Calar a boca e obedecer. A definição de rebeldia segundo Jeanine Pirro.
Jeanine: Lauren Boebert, with all due respect, the woman barely won her race… this is an embarrassment.. They’re egomaniacs who have got no answers and they ought to just be quiet and just go along with the majority pic.twitter.com/FVfxL3bQia
— Acyn (@Acyn) January 5, 2023
Coligação Judaica: Os que não votam como nós achamos que devem votar são ‘infiéis’.
Entretanto, o director executivo da Coligação Judaica Republicana, Matt Brooks, rotulou os rebeldes do Partido Republicano de “infiéis” e ameaçou-os com “consequências”.
“Quando toda a poeira assentar, espero que os infiéis paguem o preço real por todo o caos e os problemas que estão a causar. As acções devem ter consequências”.
When all the dust settles I hope the infidels pay a real prices for all the chaos and problems they’re causing. Actions should have consequences.
— Matt Brooks (@mbrooksrjc) January 3, 2023
Deve ter sido a essas consequências que Mike Rogers, o representante eleito pelo Alabama, se deve ter referido quando foi visto a proferir insultos e ameaças a Matt Gaetz, na sexta-feira à noite (no fim do clip em baixo), logo depois deste último ter votado “presente” e contribuído assim para mais uma votação inconclusiva.
É pena que Rogers, e McCarthy, que também foi tirar satisfações ao adversário político, não tenham mostrado esta fibra temperamental nos últimos anos, quando a maioria democrata estava empenhada em destruir o país.
So if members who refused to Coronate Kevin McCarthy are “terrorists”, what do you call McCarthy and Mike Rogers going after @MattGaetz and trying to intimidate him for voting present?
— ALX 🇺🇸 (@alx) January 7, 2023
Esta imagens são bem eloquentes sobre a pressão, não só psicológica como física, a que os 20 dissidentes estiveram sujeitos, durante toda a semana passada.
Graças a Deus por Tucker Carlson.
Ao contrário de outros campeões temporários, messias que se tornam rapidamente em vendilhões do templo, super-heróis que têm passado a vilões a uma velocidade prodigiosa ou perdido a sua capa vermelha pelos caminhos infernais que a vida política e mediática trilha actualmente, Tucker Carlson nunca desilude. Está sempre do lado certo nas questões fundamentais. É impressionante. E este segmento sobre o que aconteceu nos últimos dias na Câmara dos Representantes do Congresso americano é bem sintomático desse acerto e dessa coragem e dessa lucidez.
If there’s one thing Washington hates, it’s accountability, and unfortunately the GOP is no different. No one’s ever punished or forced to explain their failures, and as a result, no one ever improves. They just keep getting rewarded for producing the same disasters. pic.twitter.com/Zmf2WOJzue
— Tucker Carlson (@TuckerCarlson) January 6, 2023
O que ganharam os dissidentes?
No fim de uma semana caótica os rebeldes do Partido Republicano conseguiram obter algumas concessões, principalmente no que diz respeito aos mecanismos de apresentação e votação das leis que são aprovadas na Câmara dos Representantes, impondo um prazo maior entre a formalização da lei e a sua respectiva votação, para que os gabinetes dos representantes possam ter tempo para perceber as cláusulas e as implicações das leis; bem como colocando restrições ao âmbito das medidas que podem ser integradas numa única lei.
Isto pode parecer uma pequena vitória, mas se pensarmos que o Inflation Reduction Act, um documento com milhares de páginas, que implicava o dispêndio público de 500 biliões de dólares, foi aprovado em 24 horas pela maioria democrata e incluia sobretudo medidas de reconversão energética com vista ao objectivo das emissões zero, acabando por ter tido muito pouco ou nenhum impacto na curva inflaccionária, percebemos que é nestes detalhes que se faz a grande batota.
Seja como for, a pressão a que foram sujeitos não lhes permitiu margem de manobra para muito mais. No fim das contas, o sistema prevalece sempre.
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