O ser humano vive num quadro existencial com quatro dimensões: a largura, a altura e a profundidade que constituem as coordenadas do mundo físico que nos é perceptível e o tempo, que estabelece um vector cronológico sobre as nossas vidas.

Acontece que, aparentemente, a matéria também integra o tic tac dessa quarta dimensão. Pelo menos no que diz respeito à fase da matéria cristalizada.

Um cristal é um sólido no qual os constituintes, sejam eles átomos ou moléculas, estão agregados regularmente e organizados num padrão tridimensional bem definido, formando uma estrutura geométrica com elevado grau de simetria.

Agora imagine o leitor um cristal que é em simultâneo feito de matéria e de tempo. E que se movimenta perpetuamente sem consumir nem criar energia. A profecia contra-intuitiva que o Prémio Nobel da Física Frank Wilczek anunciou em 2012 foi comprovada em laboratório cinco anos depois, por uma equipa liderada por Norman Yao, da Universidade de Berkeley-Califórnia. Esta experiência resultou na primeira evidência empírica de que a realidade material pactua com quatro dimensões: largura, altura, profundidade e tempo.

Em 2021, uma outra equipa de físicos liderados por Nick Träger criou um cristal do espaço-tempo e filmou-o.

 

 

No paper, os cientistas confessam até que não percebem bem como é que o fenómeno acontece, mas as aplicações do Cristal do Tempo num futuro a médio prazo são alucinantes. Primeiro porque se trata de um fenómeno sub-atómico que apresenta movimento sem consumo de energia, o que, como é óbvio, faz explodir com toda a termodinâmica. Depois, porque é muito provável que as suas propriedades tetra-dimensionais possam ser integradas na computação quântica, potenciando performances que já de si se adivinham brutais.

Anton Petrov disserta sobre esta surpreendente fase da matéria, ajudando-nos a compreender a sua natureza e as suas implicações científicas e tecnológicas.