Cúpula da Basílica do Santo Sepulcro . Jerusalém

 

Os cristãos estão a ser perseguidos e atacados, vilipendiados e maltratados em Israel, sob o regime de Benjamin Netanyahu, e as autoridades não estão a fazer nada para responsabilizar os seus agressores, de acordo com os líderes cristãos na Terra Santa.

Igrejas estão a ser vandalizadas, estátuas de Jesus Cristo esmagadas e locais de sepultura cristãos estão a ser profanados.

 


O chefe da Igreja Católica Romana na Terra Santa advertiu numa entrevista que o regresso de Benjamin Netanyahu à liderança do governo israelita veio piorar a vida dos cristãos no local de nascimento do cristianismo. O influente Patriarca Latino nomeado pelo Vaticano, Pierbattista Pizzaballa, disse à The Associated Press que a comunidade cristã da região, com 2.000 anos de história, tem vindo a ser cada vez mais atacada, com o governo a incentivar os extremistas religiosos, que têm assediado o clero e vandalizado a propriedade das igrejas cristãs a um ritmo cada vez mais acelerado.

Durante a semana da Páscoa, Pizzaballa, refugiado no seu gabinete do Bairro Cristão da Cidade Velha, declarou que:

“A frequência destes ataques, as agressões, são algo novo. Os agressores sentem-se protegidos já que o ambiente cultural e político justifica e tolera agora as acções contra os cristãos”.

O Padre Don Binder, pastor na Catedral Anglicana de St. George em Jerusalém, corrobora estas afirmações:

“Os cristãos sentem que as autoridades não protegem os seus locais de ataques direccionados. Os elementos da ala radical do partido de Netanyahu estão a tentar judaizar a Cidade Velha e outras terras, e sentimos que nada os está a deter agora. As igrejas têm sido o principal alvo destes ataques.”

 


Os arménios encontraram grafites ofensivos nas paredes do seu convento. Sacerdotes de todas as denominações dizem ter sido perseguidos, cuspidos e espancados durante as suas caminhadas até à igreja. Em Janeiro, judeus zelotas derrubaram e vandalizaram 30 sepulturas marcadas com cruzes de pedra num cemitério cristão histórico da cidade. Apesar de dois adolescentes terem sido presos por danos e ofensas, os cristãos alegam que a polícia israelita não leva a sério a maioria dos ataques. Num outro caso, George Kahkejian, de 25 anos de idade, foi espancado, preso e detido durante 17 horas depois de uma multidão de colonos judeus ter assaltado o seu convento no início deste ano.

O Padre Aghan Gogchian, chanceler do Patriarcado Arménio, denunciou recentemente que as autoridades insistem que os casos de profanação e assédio derivam não do ódio religioso, mas de doenças mentais, queixando-se que “A maioria dos incidentes no nosso bairro ficaram impunes”.

 


Miran Krikorian, o proprietário de uma casa de vinhos na Cidade Velha de Jerusalém não ficou surpreendido ao receber a notícia de que uma multidão de colonos israelitas tinha atacado a sua loja no Bairro Cristão. Enquanto destruía o bar, a turba de fanáticos gritava “Morte aos árabes! Morte aos cristãos!”.

Não o surpreendeu também o débil esforço que a polícia fez para apanhar os perpetradores; após terem surgido algumas notícias na imprensa sobre o ataque e confrontada com a ausência de detenções, a polícia disse-lhe dois meses mais tarde que tinha capturado três dos suspeitos, mas que os processos judiciais dependiam de imagens de vigilância que a polícia não tinha, apesar de os vídeos que ilustravam o ataque já estarem online e as câmaras de vigilância serem omnipresentes na Cidade Velha.

Foi fácil para ele identificar muitos dos perpetradores já que estes foram à web e deram ao seu restaurante uma revisão de 1 estrela minutos após o ataque – mas quando ele foi à esquadra de polícia naquela noite, um agente repreendeu-o: “Não me incomode com isso”.

Uns dias mais tarde, cristãos que saiam de um serviço fúnebre no Bairro Arménio foram atacados por colonos israelitas armados com varas. Um arménio foi aspergido com pimenta enquanto os colonos escalavam as paredes do convento, tentando derrubar a bandeira com a cruz de Cristo. Quando os arménios os perseguiram, os colonos começaram a gritar: “Ataque terrorista!”, incitando a polícia a apontar as suas armas aos arménios, espancando-os e detendo um deles. Um dos jovens cristãos disse à Al Jazeera:

“Em vez de acalmarem ou deterem os colonos judeus, os soldados atacaram-nos a nós”.

 


A hostilidade dos judeus fundamentalistas contra a comunidade cristã de Jerusalém não é nova, e não são apenas os cristãos arménios que sofrem com ela. Sacerdotes de todas as denominações têm denunciado maus tratos durante anos. Desde 2005, as celebrações cristãs em torno da Semana Santa, particularmente o Sábado de Fogo Sagrado, trouxeram barricadas militares e tratamento severo por parte de soldados e de zelotas, com o número de adoradores permitidos dentro da Igreja do Santo Sepulcro drasticamente limitado, de 11.000 para 1.800 desde o ano passado, com as autoridades a citarem preocupações de segurança.

 


No mês passado, dois membros influentes do Knesset de Israel introduziram um projecto de lei para ilegalizar o ensino do Evangelho de Jesus Cristo em Israel e condenar os violadores à prisão.

Após indignação generalizada, Netanyahu disse que vetaria o projecto lei e um dos legisladores que o introduziram afirmou que não tencionava avançar com a proibição “nesta fase”.

Os cristãos representam actualmente 1,9% da população de Israel.

Como sempre tem acontecido em casos de perseguição e violência sobre cristãos desde que o anti-papa Francisco assumiu o pontificado, o Vaticano permanece em silêncio sobre o assunto.