Kane Parsons, melhor conhecido por Kane Pixels, nasceu em 2005 e este é um dos poucos dados biográficos que sobre ele podemos encontrar na Web. Está ainda na sua adolescência, portanto. Apesar disso, está a realizar, sozinho, um dos produtos audiovisuais mais populares da Web, uma série dentro do género “creepypasta”, baseada na lenda urbana de um labirinto de salas de escritório vazias e sinistras, de paredes amarelas, luzes fluorescentes e alcatifas humedecidas, que nos tempos da Web 1.0 serviam de ambiente para histórias de terror e jogos online.
Os 12 episódios de “The Backrooms” já publicados no momento em que são redigidas estas linhas somam 90 milhões de visualizações no Youtube.
A narrativa inicia-se em 1996, quando um jovem cineasta amador é subitamente transportado para o labirinto e perseguido por uma estranha e aterrorizadora entidade espectral. Nos episódios seguintes, publicados de forma não cronológica, percebemos que estes backrooms resultam de um projecto científico privado, que explora o que aparentemente parece ser uma outra dimensão da realidade.
A produção emprega filmagens de ação ao vivo, renderizações executadas no Blender, um programa open source de modelação 3D, e diversas técnicas de manipulação digital áudio e vídeo, que lhe emprestam a textura analógica que caracteriza todo o ambiente cinemático.
Apesar das cenas mais assustadoras serem usadas com parcimónia, o suspense permanece, intenso, ao longo de todos os curtos episódios, muitos deles destinados apenas a contextualizar o espectador sobre a natureza do projecto científico que está por trás do fenómeno retratado.
Produto exemplar da contracultura contemporânea, “The Backrooms” é um trabalho genial de ficção científica e terror, feito com um orçamento muitíssimo limitado, recursos minimais e explosivas doses de criatividade e virtuosismo técnico. Nos actuais catálogos da HBO e da Netflix não existe nada do género com este patamar de qualidade. Mais: a Apple TV lançou em fevereiro deste ano uma série, “Severance”, que é precisamente inspirada nesta brilhante produção de Kane Pixels.
Este é o primeiro episódio da série: “The Backrooms (Found Footage)”. Os restantes episódios são de acesso livre e gratuito, no canal Youtube do autor.
Relacionados
18 Mar 25
“Severance”: televisão acima da média.
"Severance", que navega num imaginário de espaços liminares e ficção científica do género noir, é ainda assim um produto televisivo de carácter original e guião competente, que se sobrepõe claramente à média contemporânea, e cujo consumo o ContraCultura recomenda.
15 Mar 25
A Morte de Marat: Entre a dor e a propaganda.
Clássicos do Contra: Um revolucionário jaz morto na banheira. O retrato é uma obra de propaganda jacobina, emblemática da Revolução Francesa. Mas para além da manipulação, Jacques-Louis David também expressa a dor de quem perde um amigo.
15 Fev 25
Paixão, angústia e êxtase: O “Adagietto” de Gustav Mahler.
O quarto andamento da Quinta Sinfonia de Mahler é uma joia do romantismo tardio, que resultou em duas histórias de amor: a do compositor e de Alma e a de gerações de melómanos que se apaixonaram por esta obra-prima de contenção e vontade de infinito.
14 Fev 25
Disney suspende programas DEI devido à pressão dos accionistas.
A Walt Disney Company parece estar prestes a ser a última grande empresa a interromper as suas iniciativas de diversidade, equidade e inclusão, devido à pressão dos investidores. Mas é duvidoso que os conteúdos fílmicos e televisivos sigam para já a mesma tendência.
10 Fev 25
Teatro francês à beira da falência depois de acolher centenas de ilegais que se recusam a sair.
Um teatro francês de militância esquerdista está à beira da falência depois de ter aberto as suas portas a cerca de 250 imigrantes africanos que se recusaram a abandonar o local depois de lá terem permanecido durante cinco semanas.
3 Fev 25
Quadro comprado por 50 dólares numa venda de garagem é um Van Gogh que vale 15 milhões.
Uma pintura descoberta numa venda de garagem em 2016, e adquirida por 50 dólares, será uma obra autêntica do mestre holandês Vincent van Gogh, que vale cerca de 15 milhões, com base num exaustivo relatório forense.