A arte, antes e depois da loucura.
Sim, estas duas obras foram pintadas pelo mesmo génio. Francisco Goya (1746/1828) foi um muito bem sucedido retratista de reis e cronista de cortes e replicador de bucólicos piqueniques – e assim viveu grande parte da sua vida – até que a doença, a traição e o desespero lhe estragaram o olho idílico.
Depois de experimentar os horrores da Guerra da Península, de ser perseguido pelas obsessões e delírios de Fernando VII e da Santa Inquisição e de ficar progressivamente insano, cego e surdo – envenenado pelos pigmentos das tintas que usava – Francisco Goya enclausurou-se e começou a pintar como um monstro sagrado.
E, sendo um dos grandes pioneiros do Romantismo Europeu, soube enlouquecer um bocado e viver o suficiente para inventar o Expressionismo.
A Maia, antes e depois da censura.
E a propósito dos padecimentos com o Santo Ofício: muito sofreu Goya por causa da “Maia Nua” (em cima), a primeira representação dos pelos púbicos da mulher na história da arte ocidental. 15 anos depois de a ter concluído é chamado ao tribunal da Inquisição para responder pela heresia e, por ela, perder o seu muito querido lugar de pintor da corte espanhola.
O pintor foi ainda obrigado a executar uma réplica muito menos ousada (em baixo), e muito mais aborrecida, perante o escândalo que causou a nudez da senhora amante do Duque de Alcudia, que tinha encomendado o retrato ao Mestre, e que de pronto o recusou.
A imortalidade sai sempre muito cara.
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