O pecado original, com o qual a serpente tentou Eva, não é o mero conhecimento do bem e do mal. Tal interpretação desta passagem do Gênesis é, em última análise, gnóstica. O que a serpente prometeu a Adão e Eva era o conhecimento Divino do mesmo mas nós, em nossa ignorância, tomamos tal versículo como a capacidade cotidiana de cometer ou deixar de cometer tal ato ou de considerar determinado objeto ou ação como boa ou má.

Cabem as perguntas: é assim que Deus conhece o bem e o mal? Existe algo que esteja fora de Deus, para que ele venha a conhecer?

Não. Para Deus, o bem e o mal advém de seu poder de instaurá-lo, determinar que tal coisa ou tal ato é bom ou mal e, esta sim, foi a tentação oferecida aos nossos avós bíblicos.
Não cabem dúvidas quanto a isso: Adão e Eva conheciam já o mesmo bem e mal que entendemos hoje. Deus disse que “tudo era-lhes permitido, menos comer dos frutos daquela árvore no meio do jardim” – uma vez assim instruídos, nossa concepção de bem e mal já existia no primeiro casal.

Mas a tentação de tal poder, de determinar o que é bom ou mal e deter um “conhecimento” Divino, além do humano, foi maior e assim resultou na expulsão de ambos do Paraíso.
Não é de hoje que o pecado original – esta pretensão em possuir um conhecimento que não é mental, mas um poder que faz parte da própria estrutura da realidade – habita entre nós, mortais. Podemos dizer que o avanço mais feroz de tal ambição se deu no Iluminismo pós-Revolução Francesa, gênese de tantos descaminhos filosóficos que pariram o cientificismo – divinizado – e o empirismo como instâncias últimas das luzes humanas.

Esta certeza arrogante produziu criaturas tão díspares, à primeira vista, quanto Bergoglio e Alexandre de Moraes (Ministro da Suprema Corte do Brasil e atual ditador), por exemplo. Um, independente das circunstâncias que o elevaram a mais alta Corte de Justiça de um país, arroga-se a capacidade de determinar o bem e o mal, o válido e o não-válido nos jogos de poder cotidianos da nação, segundo seu bel-prazer – e o mesmo se passa entre seus colegas, todos formados em idênticos caldos acadêmicos, portanto teoricamente Divinos, de cultura.

Bergoglio entretanto cumpre a triste e pior sina, já observada pelo filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, de fazer parte do tipo de ameaça mais séria contra a Igreja Católica Apostólica Romana: “Se você estudar a história da Igreja desde seu surgimento, verá que o maior problema que ela enfrenta não são aqueles que a atacam, mas os que a falsificam” – e o cidadão que faz, atualmente, as vezes de Vigário de Cristo na terra, é um deles e assim atua, despudoradamente.

A infiltração esquerdista dentro da Igreja Católica produziu tais frutos e nem mesmo a sólida formação filosófica de seus sacerdotes teve força superior à potência das ambições ideológicas pois, ao fim e ao cabo, ideologias sempre favorecem aquilo que de mais obscuro o ser humano possui, em sua alma.

Minha afirmação é comprovada exatamente pela referência feita a “frutos”, no parágrafo anterior: qual a justificativa para que um Santo Padre se imiscua, dê palpites e faça julgamentos de valor sobre os acontecimentos políticos de um país? Alguma catástrofe humanitária se abateu sobre tal nação? Tragédias naturais? Guerras terríveis? Não, e nada disso importa a Bergoglio, que faz vistas grossas à perseguição e morticínio de católicos na África e no oriente bem como, igualmente, cala-se diante das condições desumanas de vida enfrentadas pelos povos de Cuba, Venezuela e outros tantos. Omite-se diante de desgraças nacionais como nos países citados mas opina sem meias medidas sobre a política de outros, e tudo isso motivado pelo único fato de que, em comum, tais nações são governadas por “companheiros” ideológicos – tal como a própria esquerda diz no Brasil, “ninguém larga a mão de ninguém”, e a canalha mundial se ajuda.

Mas, parafraseando um ilustre do passado, podemos perguntar: quantos tanques tem o Papa? Quais os seus exércitos?

Bergoglio – tal como a unanimidade da governança contraventora e subversiva atual – dispõe de um poder muito maior e mais letal que qualquer canhão já inventado: ele tem, em seu apoio, a grande mídia mundial e a mesma já fez troar seus obuses cá nestes tristes trópicos, publicando em destaque, no passado, as críticas bergoglianas a um julgamento supostamente “injusto” e proclamando – sim, este é o termo – a inocência do maior ladrão que já governou o país, o alcoólatra e cleptomaníaco Luís Inácio Lula da Silva.

Por mais desmoralizada que esteja, é impossível fazer pouco ou desdenhar da força que a grande mídia ainda possui pois, como dizia Hitler, “uma mentira contada mil vezes torna-se verdade” e hoje impera, nas redações dos grandes conglomerados e “consórcios” midiáticos a preguiçosa e conveniente política profissional do “copia e cola”: o que um jornal publica, em minutos estará replicado em todos os outros veículos de informação do país – e o poder da multiplicação das mentiras é o retrato em negativo de tudo o que Bergoglio, um dia, aprendeu no seminário.

E há muito esqueceu.

 

WALTER BIANCARDINE
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Walter Biancardine foi aluno de Olavo de Carvalho, é analista político, jornalista (Diário Cabofriense, Rede Lagos TV, Rádio Ondas Fm) e blogger; foi funcionário da OEA – Organização dos Estados Americanos.

As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.