Uma das conclusões que somos obrigados a tirar das eleições nos EUA é que as celebridades já não são o que eram. Emagreceram drasticamente e de pesos pesados passaram a pesos plumas no espaço de uma década. Actores, músicos, comediantes, apresentadores televisivos e outros famosos influenciadores já não influenciam como influenciavam.

Senão vejamos uma necessariamente curta lista de algumas destas personalidades que endossaram a candidatura de Kamala Harris (porque são aos milhares):

Actores: George Clooney, Julia Roberts, Oprah, Robert DeNiro, Will Ferrel, Richard Gere, Harrison Ford, Reese Witherspoon, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Jennifer Aniston, Arnold Schwarzenegger, Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Ben Stiller, Jeff Bridges, Sigourney Weaver, Michael Keaton.

Músicos: Madonna, Bono Vox, Taylor Swift, Beyoncé, Eminem, Jennifer Lopez, Mick Jagger, Lady Gaga, Cher, Neil Young, Bruce Springsteeen, Billie Eilish, Stevie Wonder.

Comediantes: John Oliver, Jimmy Kimmel, Stephen Colbert, Jimmy Fallon.

Tantos, tão famosos e ninguém lhes ligou nenhuma.

Alguém lhes devia dizer que a sua opinião política é irrelevante, que a sua sobranceria moral é desajustada, e que a sua pretensão elitista é constrangedora.

São aves raras, criaturas do jardim zoológico da demência humana, alienígenas de luxo, cuja opulência alimentamos para que nos matem o tédio. E mais nada.

São artistas de circo. E, com o devido respeito a trapezistas, equilibristas e domadores de leões, cujo ofício tem a dignidade do risco, ninguém no seu perfeito juízo os quer ouvir sobre as questões mais sérias da existência. Até porque um eleitor que se decide por um candidato por causa da recomendação de Madonna, uma criatura de tal forma abstrusa que nem sabe envelhecer, nem merece o privilégio do voto.

Se querem permanecer relevantes, será talvez preferível falarem às massas dos assuntos em que são peritos. Se são pantomineiros, falem de cinema. Se são jograis, falem de música. Se são bobos, contem anedotas. Como ‘monstros sagrados do entretenimento’, limitem-se a entreter. E poupem-nos à consultoria ideológica.

Porque a verdade é esta: Se estas figurinhas de polipropileno manifestassem capacidade cultural e fôlego intelectual para a ciência política, não seriam pantomineiros, nem jograis, nem bobos.

E, sinceramente, já não há pachorra para os palhaços ricos.

 

 

Paulo Hasse Paixão
Publisher . ContraCultura