“As ideias pós-modernas são prejudiciais à humanidade. Se aceitares que tudo é destituído de significado, estarás a assumir a morte espiritual.”
Jordan B. Peterson
A Bienal de Veneza, já de si uma espécie de feira de horrores, foi presenteada em 2019, em nome de Portugal, com a presença equívoca da escultora/instaladora/decoradora de áreas cimentadas Leonor Antunes, que a expensas do contribuinte para lá transportou esta mercadoria:
Não que o trabalho da autora seja completamente despido de interesse. Conseguimos ler uma componente gráfica interessante e trata-se de um esforço experimental que será talvez pertinente na disciplina da arquitectura de interiores. Mas não vale pela representação de um País numa feira de artes internacional, porque desobedece a imensos critérios que utilizamos para identificar uma obra de arte. Não é belo nem promove a consolação. Não comunica transcendência. Não resistirá à crueldade do tempo. Não faz perguntas nem apresenta respostas. É uma estrutura que está ali e pronto:
As instalações de Leonor Antunes enquadram-se numa perversa e pós-moderna filosofia da arte que a desvaloriza ao ponto do absurdo. Desafio o paciente leitor a retirar de uma destas duas composições um qualquer significado. Um qualquer ensinamento. Um qualquer momento de génio, de espanto, de inspiração. Onde raio está a glória disto?
Jordan Peterson, com a sua eloquência de sempre, expõe lindamente, em apenas 7 saborosos minutos, a falácia do pós-modernismo e a destruição que criou e cria na cultura ocidental.
Lamentavelmente, a arte da segunda década do Século XXI permanece aprisionada ao pior momento das artes visuais da segunda década do século XX, quando o insustentável Marcel Duchamp fez isto e considerou que isto era a sua obra-prima:
Sendo uma das mais célebres provocações da história da arte, isto não é obra prima nenhuma, claro está. Isto é precisamente o oposto: é iconoclastia, é uma brincadeira de mau gosto, é um escatológico manifesto. Mas não nos leva a lado nenhum, no labirinto da existência, pois não? Esta latrina não faz de mim nem de si, estimado leitor, pessoas mais sensíveis ou inteligentes. Não experimentamos os dois, estou certo, qualquer vestígio de êxtase: somos meramente submetidos a um exercício básico e pueril de disrupção. Não é através do recurso a este estranho ideal que se edifica a posteridade. O que é feio não tem nem nunca terá futuro. O que é banal não se imortaliza. E sem significado que lhe dê substância metalinguística, a produção pretensamente artística produz apenas objectos. Coisas inanimadas que perdem rapidamente a sua frívola e efémera função. A latrina de Duchamp, é verdade, resistirá na memória colectiva durante mais uns séculos. Mas menos como objecto artístico do que como anedota contada entre críticos.
Hoje em dia pode ser doloroso passear por um museu de arte contemporânea, no Ocidente. Podemos sempre ser insultados por esses objectos inanimados que estão lá porque lá estão e é assim, como as instalações da Leonor Antunes, ou por coisas estética e eticamente deploráveis como a latrina de Duchamp ou esta impropriedade tirada do conjunto de disparates pavorosos a que Berardo decidiu chamar Colecção.
É mais que visível, para quem não tem graves problemas oftalmológicos ou dependência ideológica extrema, que os outrora nobres ofícios da pintura, da escultura, da literatura, da música, do cinema, do teatro e da arquitectura apresentam um declínio arrepiante, ao ponto de podermos falar hoje em dia na extinção das artes, como as conhecíamos há cem anos atrás.
Diga-me, cara leitora, que obra-prima produzida neste século pode apresentar para contradizer esta minha impressão? Que grande génio escultor conhece, que lhe seja contemporâneo? Que edifícios vê nascer, na sua cidade, que prometam uma ideia utópica, que proponham um valor universal, que sejam capazes de permanecer vivos e belos sobre as gerações? De que pintor não perde uma exposição? Quando foi a última vez que sentiu o poder comunicacional, a força redentora, o brilho único de um artista do seu tempo?
Fale-me por gentileza de um compositor nascido nos últimos 50 anos cuja obra será tocada nos salões eruditos do século vinte e sete? E tente eleger um filme que tenha sido realizado nos últimos dez anos para uma lista dos melhores cem filmes de sempre (lembro que Gran Torino, a sublime pièce de résistance de Eastwood, foi produzido em 2008, pelo que não faz parte do leque disponível).
Estas coisas não acontecem por acaso. Acontecem porque nós, os herdeiros da mais brilhante, da mais inspirada, da mais produtiva civilização da história universal dos símios, permite que assim aconteça. Já não há picassos porque ninguém está preocupado com a súbita ausência de picassos. Parece que, para além da religião, também passamos bem sem a arte.
Desenganem-se.
Relacionados
18 Mar 25
“Severance”: televisão acima da média.
"Severance", que navega num imaginário de espaços liminares e ficção científica do género noir, é ainda assim um produto televisivo de carácter original e guião competente, que se sobrepõe claramente à média contemporânea, e cujo consumo o ContraCultura recomenda.
15 Mar 25
A Morte de Marat: Entre a dor e a propaganda.
Clássicos do Contra: Um revolucionário jaz morto na banheira. O retrato é uma obra de propaganda jacobina, emblemática da Revolução Francesa. Mas para além da manipulação, Jacques-Louis David também expressa a dor de quem perde um amigo.
15 Fev 25
Paixão, angústia e êxtase: O “Adagietto” de Gustav Mahler.
O quarto andamento da Quinta Sinfonia de Mahler é uma joia do romantismo tardio, que resultou em duas histórias de amor: a do compositor e de Alma e a de gerações de melómanos que se apaixonaram por esta obra-prima de contenção e vontade de infinito.
14 Fev 25
Disney suspende programas DEI devido à pressão dos accionistas.
A Walt Disney Company parece estar prestes a ser a última grande empresa a interromper as suas iniciativas de diversidade, equidade e inclusão, devido à pressão dos investidores. Mas é duvidoso que os conteúdos fílmicos e televisivos sigam para já a mesma tendência.
10 Fev 25
Teatro francês à beira da falência depois de acolher centenas de ilegais que se recusam a sair.
Um teatro francês de militância esquerdista está à beira da falência depois de ter aberto as suas portas a cerca de 250 imigrantes africanos que se recusaram a abandonar o local depois de lá terem permanecido durante cinco semanas.
3 Fev 25
Quadro comprado por 50 dólares numa venda de garagem é um Van Gogh que vale 15 milhões.
Uma pintura descoberta numa venda de garagem em 2016, e adquirida por 50 dólares, será uma obra autêntica do mestre holandês Vincent van Gogh, que vale cerca de 15 milhões, com base num exaustivo relatório forense.