O novo especial da Netflix, “Armageddon”, do comediante Ricky Gervais, que caiu no dia de Natal, para além de ser hilariante como só o tabalho do performer britânico é capaz de ser hilariante, é um demolidor manifesto anti-woke e um veemente elogio da liberdade de expressão, cujo saudável consumo o Contra recomenda vivamente.
Grande parte espectáculo centra-se precisamente na moderna e extrema susceptibilidade que os radicais do politicamente correcto ostentam em relação às palavras em geral e ao humor em particular. E expõe a dualidade de critérios sobre aquilo que é considerado ofensivo e o que não é. Por exemplo, se eu disser que um qualquer sujeito não é homossexual, nada me acontece. Mas se disser do mesmo sujeito que é homossexual, estou a meter-me em sarilhos, o que, bem vistas as coisas, é um preconceito homofóbico:
Num dos momentos mais divertidos e polémicos do espectáculo, Gervais tenta provar que afinal é woke porque adora imigrantes ilegais, embora sublinhe o estranho facto de que os barcos que chegam a Inglaterra carregados de”refugiados” transportem apenas homens jovens:
“Eu amo imigrantes ilegais, sim, processem-me. Às vezes vou a Dover durante o dia e fico a olhar à procura de um barco [com imigrantes], vejo um bote com 60 deles e vou lá chamo-os e puxo-os para terra enquanto digo ‘mulheres e crianças primeiro’. Eles dizem-me ‘não há mulheres nem crianças’. Ah. são apenas vocês, rapazes, vamos lá rapazes, vamos lá rapazes.”
Gervais prossegue com um directa dirigida a Gary Liniker, o ex-futebolista e celebridade do Reino Unido que mente constantemente sobre a identidade dos “refugiados” que chegam ao Reino Unido, clamando por um política de fronteiras abertas, apesar de, que se saiba, nunca ter acolhido na sua mansão imigrante nenhum.
A rábula desmonta a falsa noção, constantemente amplificada pela imprensa corporativa, que praticamente todos os que chegam ilegalmente a Inglaterra são “refugiados” genuínos, quando é óbvio que são migrantes económicos, jovens e quase sempre masculinos. Os números oficiais mostram que cerca de 87% de todos os ilegais que chegam de barco à costa de Inglaterra são homens, embora mesmo esse número seja contestado e possa ser maior.
Gervais enfrentou a reacção habitual dos pides woke que se ofendem com o humor, dias antes do programa ter sido disponibilizado na plataforma de streaming americana. Talvez adivinhando isso, há um segmento que lhes é dedicado:
Num outro segmento genial, o comediante aponta as suas inesgotáveis baterias para os “antifas” da vida, que na verdade são mais fascistas que os imaginários fascistas que dizem combater, e de como o termo “fascista” deixou de definir as ideologias totalitárias nacional-socialistas do século XX para servir agora como insulto para alguém que faz um gosto num vídeo do Joe Rogan…
Ricky Gervais é um liberal ateu e, nesse sentido, não é propriamente um ídolo do ContraCultura. Mas tem a coragem e a lucidez para dizer o que é preciso ser dito, no contexto da guerra cultural em que vivemos. E para além disso, tem mesmo muita piada e um talento mimético que lhe permite, com gestos muito simples, encher um palco. Reparem no uso brilhante dos dedos indicador e médio, nesta espirituosa dissertação sobre a evolução das espécies:
O simples facto da Netflix incluir na sua plataforma o bom do Ricky já é motivo de regozijo, considerando a ideologia da plataforma e a indústria da censura que reina em Silicon Valley e Hollywood.
Seja como for, há que respeitar Gervais, pelo menos desde que em 2020, na cerimónia dos Golden Globe Awards, deixou de rastos as estrelinhas de Hollywood e os tecnocratas de Silicon Valley, com um monólogo que constitui um daqueles momentos épicos em que a verdade, que tem sido escandalosamente escondida e disfarçada e manipulada, rebenta em glória pirotécnica através do mais corrosivo e corajoso humor que se possa imaginar. Gervais lançou nesses minutos lendários, sobre a corja de elitistas retardados que constituía a sua audiência, uma fabulosa, inspirada e merecidíssima carga de cavalaria. E basta olhar para as carinhas constrangidas dos ilustres para percebermos o acerto militar da ofensiva.
Caro leitor e estimada leitora, se, porque na altura tinham ido de férias para Marte ou meditavam num mosteiro no Tibete, perderam essa magnífica palestra, não a devem evitar agora:
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