Depois da tempestade que assolou o Dubai ter provocado o caos total, inundações de carácter bíblico, dezenas de mortos e milhões de dólares de prejuízos em infra-estruturas, com os índices de pluviosidade mais intensos alguma vez registados neste país desértico, as suspeitas de que o fenómeno possa ter sido auto-infligido acumulam-se.

Os Emirados Árabes Unidos, caracteristicamente escaldantes, desenvolvem inúmeros projectos de sementeira de nuvens – uma técnica em que os aviões disparam foguetes de sal para as nuvens para acelerar a condensação e induzir a precipitação.

A Associated Press analisou os dados de voo e verificou que um avião ligado aos esforços de sementeira de nuvens dos Emirados Árabes Unidos voou pelo país no domingo.

Entretanto, Ahmed Habib, meteorologista do Centro Nacional de Meteorologia dos Emirados Árabes Unidos (NCM), disse à Bloomberg que foram efectuadas várias missões de sementeira de nuvens nos dias que antecederam a precipitação sem precedentes.

À medida que a especulação sobre a sementeira de nuvens aumentava, o NCM negou mais tarde, em comentários à CNBC, que a operação tivesse tido lugar na terça-feira, nas horas que antecederam a tempestade – mas confirmou que a operação foi efectuada no domingo e na segunda-feira.

 

 

Vídeos chocantes partilhados nas redes sociais mostraram como os carros ficaram submersos, obrigando centenas de automobilistas a abandonar os seus veículos e a nadar para um local seguro.

Um vídeo incrível partilhado nas redes sociais mostra como as trovoadas se sucederam e o céu ficou negro antes de a cidade ser coberta por um manto de chuva.

 

 

A água da chuva também provocou a derrocada de residências, expulsando as pessoas das suas casasem busca de abrigo em estruturas mais altas.

As terríveis chuvas inundaram o aeroporto e muitas das estradas circundantes, obrigando ao cancelamento de dezenas de voos. Os viajantes amontoaram-s no átrio para se abrigarem da chuva torrencial.

 

 

O governo do país ainda não forneceu qualquer informação sobre os danos globais ou sobre os feridos, uma vez que o executivo foi incapaz de operar, até porque muitos dos ministros, secretários e burocratas ficaram retidos nos seus automóveis ou em abrigos improvisados.

Mas em Ras al-Khaimah, o emirado mais a norte do país, a polícia disse que um homem de 70 anos morreu quando o seu veículo foi arrastado pelas águas das cheias. E no estado vizinho de Oman, também afligido pela tempestade, as autoridades reportaram a morte de 19 pessoas. Fontes não oficiais especulam que o número de mortos nos EAU será superior a este número.

Alguns comentadores argumentam que a sementeira de nuvens não pode ser responsável pelas inundações, uma vez que os especialistas estimam que esta técnica só pode aumentar a precipitação sazonal em 10 a 30%. Em vez disso, sugeriram que um sistema meteorológico anormal já se dirigia para a região e atribuíram as inundações brutais aos fracos sistemas de drenagem do Dubai.

Giles Harrison, Professor de Física Atmosférica na Universidade de Reading, afirmou:

“Os EAU efectuam a sementeira operacional de nuvens, mas há uma enorme diferença entre o que isto pode conseguir – atingir nuvens individuais em desenvolvimento com material de sementeira libertado de um avião – e a precipitação no Dubai, que estava associada a um grande sistema meteorológico que avançava pela região”.

O seu colega, o Professor Maarten Ambaum, acrescentou:

“Os Emirados Árabes Unidos têm um programa operacional de sementeira de nuvens para aumentar a precipitação nesta região árida do mundo, mas não existe qualquer tecnologia que possa criar ou mesmo modificar severamente este tipo de fenómeno de precipitação”.

Acontece que os efeitos destas experiências são impossíveis de calcular, já que a complexidade das dinâmicas que governam o clima não é de todo dominada pela ciência contemporânea. E a tempestade que se aproximava pode ter ganho especial intensidade graças à intervenção humana na atmosfera. A especulação dos académicos vale assim tanto cono a de qualquer leigo. Não é ciência. É política.

 

 

As chuvas começaram no final da segunda-feira, encharcando as areias e as estradas do Dubai com cerca de 2 centímetros cúbicos de chuva por m2, de acordo com dados meteorológicos recolhidos no Aeroporto Internacional do Dubai. As tempestades intensificaram-se por volta das 9 horas locais de terça-feira e continuaram ao longo do dia, despejando mais chuva e granizo sobre a cidade.

No final de terça-feira, mais de 12 centímetros cúbicos de precipitação tinham inundado o Dubai em 24 horas. Em média, durante um ano, chove cerca de 5,5 centímetros no Aeroporto Internacional do Dubai, o mais movimentado do mundo em termos de viagens internacionais e o centro de operações da companhia aérea de longo curso Emirates.

 

 

Uma operação de limpeza parecia estar em curso noo início da manhã de quarta-feira, com camiões-cisterna colocados nas ruas e estradas para bombear a água. As autoridades fecharam as escolas e o governo instituiu uma política de trabalho a partir de casa enquanto a operação de limpeza continua.

As autoridades do Dubai apelaram ontem aos viajantes para se manterem afastados do aeroporto, que foi atingido por mais de um ano e meio de chuva em apenas algumas horas.

As imagens divulgadas na terça-feira do interior do aeroporto – o mais movimentado do mundo para viagens internacionais – mostravam passageiros a dormir no chão enquanto outros eram afastados do terminal. A água parada nas pistas de aterragem obrigou os operadores a fechar completamente o tráfego aeronáutico durante quase uma hora.

O centro aéreo mais movimentado do mundo para passageiros internacionais confirmou a suspensão das chegadas por volta das 15h30 GMT, antes de anunciar uma “retoma gradual” duas horas mais tarde.

Fora do aeroporto, as pessoas que ficaram reféns do vendaval partilharam vídeos e imagens apocalípticas.

 

 

Alguns condutores corajosos que lutavam contra os elementos foram vistos sentados em cima dos seus carros e à espera de salvamento sob o céu negro, mas muitos outros optaram por abandonar os seus veículos e nadar para um local seguro.

Centenas de edifícios e lojas foram destruídos ao longo do dia, à medida que as grandes massas de água atravessavam as janelas e faziam com que os veículos atravessassem as paredes.

O Centro Nacional de Meteorologia dos Emirados Árabes Unidos informou que as condições meteorológicas instáveis deveriam continuar na região até quarta-feira, embora a maior parte da chuva pareça ter-se deslocado para leste.

As autoridades municipais aconselharam as pessoas a permanecerem em casa até ao fim do “fenómeno meteorológico excepcional”.

 

 

A água das cheias foi vista a cair em cascata nos luxuosos centros comerciais subterrâneos, enquanto os consumidores, vestidos com roupas de marca, se arrastavam pela água.

À superfície, ventos uivantes levantavam no ar o mobiliário das varandas das torres, enquanto o céu negro era iluminado por relâmpagos constantes.

As imagens de terça-feira mostraram também a água a atravessar o teto de um Flying Tiger, enquanto as lojas começavam a ficar inundadas e as infra-estruturas a ceder sob a pressão.

A chuva não é comum nos Emirados Árabes Unidos, mas ocorre periodicamente durante os meses mais frios do Inverno. Nunca desta forma, que muito provavelmente resultou do trabalho de aprendizes de feiticeiro que, como o ContraCultura tem documentado, está muito em voga nos tempos que correm.

Esta será a primeira vez que os geoengenheiros são confrontados com os resultados desastrosos da sua aventureira actividade.

Talvez aprendam a lição. Talvez não.