Catarina e a beleza de matar.
A prova provada de que vivemos num regime ideologicamente condicionado está no título desta produção do Teatro Nacional D. Maria II: “Catarina ou a Beleza de Matar Fascistas“. Se em vez de matar fascistas Catarina se visse obrigada pela sua família de assassinos a matar comunistas, que Carmo e que Trindade não cairiam nas páginas dos jornais? Sim, se o D. Maria II levasse ao palco uma peça que se chamasse “Catarina e a Beleza de Matar Comunistas” (que são tão fascistas ou mais fascistas que os fascistas que a Catarina tem que matar), que incomensuráveis indignações pelejariam pelas redes sociais? Que vontade censória não triunfaria imediatamente nos corredores do Ministério da Cultura? Que apoio financeiro seria consignado à produção de tal horror? Que orçamento geral do estado poderia receber a conivência do Partido Comunista Português?
É verdade que, entre as várias e militantes ambiguidades presentes no texto de Tiago Rodrigues, a moral dramatúrgica parece incidir na condenação, mais ou menos tímida, mais ou menos dialéctica, do assassinato por motivação política. Mas isso não invalida de todo o presente argumento, porque se alguém tivesse a coragem de escrever e encenar uma “Catarina e a Beleza de Matar Comunistas”, toda a gente se recusaria a investigar sequer a moral da história. Toda a gente ia partir logo para o insulto e a censura e o cancelamento da liberdade de expressão. Porque a liberdade de expressão, em Portugal – e cada vez mais no todo do Ocidente – só existe para aqueles que não valorizam a liberdade de expressão. Para aqueles que a combatem em nome de um ideal essencialmente comunista: a igualdade. E como igualdade e liberdade são conceitos organicamente antagónicos, ninguém conseguiu ainda inventar um modelo social que os harmonize. Acontece apenas que a brigada igualitária está, nitidamente e apesar de todas as catastróficas evidências históricas, a ganhar o campeonato ideológico. E a ganhar sem que ninguém se levante para dar luta. Porque as direitas dos regimes ocidentais – a existirem – desistiram, há muito, de lutar.
O bardo é condenado e executado no seu próprio teatro.
O que não faltam, é verdade, são conteúdos no ContraCultura que lamentam o facto dos conservadores terem perdido a guerra cultural para as forças woke que agora condicionam o pensamento individual, o discurso colectivo, a verdade histórica, a manifestação artística, o fluxo informacional e as indústrias de entretenimento no Ocidente. Mas convém insistir nesta tecla, que é fundamental e o Paul Joseph Watson, como sempre, sublinha esse lamento com uma crónica completamente deprimente sobre o Globe Theatre, o venerando teatro que Shakespeare construiu e que agora serve para aniquilar o legado de… Shakespeare. Porque o dramaturgo era, claro, um racista e um sexista de primeira e é preciso normalizar, descolonizar, adulterar e obliterar a sua obra.
No Globe dos pidescos dias que correm, até a Joana d’Arc de Henrique VI, Parte 1, perde a sua identidade feminina, encapsulada numa trans-humana condição “não binária”, assexuada e politicamente correcta.
Se esta gente consegue aniquilar a obra de William Shakespeare, o que é que não consegue aniquilar?
Capitão América Vs. Jordan Peterson
Num recente número do comic “Capitão América”, um dos autores proeminentes da Marvel, Ta-Nehisi Coates, representa o infame vilão Red Skull (uma espécie de zombie nazi) como Jordan B. Peterson, o célebre psicólogo-filósofo de “Ten Rules For Life” e de “Maps of Meaning”.
O ridículo disto não tem qualificação, na verdade, mas arrepia pensar que a Marvel vende milhões e milhões em revistas e filmes e outros subprodutos de propaganda, zeros absolutos em criatividade e repletos da mais destrutiva e niilista ideologia que podemos imaginar. Há gente que compra este lixo abominável. Muita gente. E há gente, como o insuportável Ta-Nehisi Coates, que prospera com este lixo abominável.
Que mundo perverso, bom Deus.
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