Mesmo quando contracena com os glaciares do Alasca, James Maitland Stewart é um homem enorme. O corpo dele é astronómico. Todo o Klondike encolhe um pouco de cada vez que o herói-anti-herói entra em cena.
O herói-anti-herói não quer saber senão de si e não está cá para mariquices e não deixa que o juiz bandido lhe fique com o gado. O herói-anti-herói não é objector de consciência, desde que lhe seja o gatilho útil ao interesse próprio. Não há causas nobres. E muito menos em Dawson City, causa plebeia, canadiana, fim da linha para a febre do ouro.
E se a avalanche cair sobre quem foi avisado da possibilidade de uma avalanche, de que vale voltar atrás para cuidar dos imbecis?
O espectador tem paciência com o herói-anti-herói porque o James Maitland Stewart é maior que a tela. Se não fosse o tamanho do James Maitland Stewart, toda a gente ia achar que ali estava um vilão. Mas um vilão não pode ser assim tão grande.
No entretanto, vão caindo mortos os que estão ali para serem inocentes e não é de frio que caem. É a tiro de bala.
O herói-anti-herói porém, não parece lá muito comovido. E o espectador que expecta, paciente, a justa justiça, impacienta-se. Mas não duvida. Ao gigante resta apenas ser um bom gigante.
Chegará enfim o fim e, para alívio grato e genuíno da audiência, o herói-anti-herói encontra a inevitável redenção, a tiro de bala.
E tudo por causa de um sininho de latão, que tilinta pela paz irrecuperável.
“The Far Country”, de Anthony Mann: uma oratória do gatilho feliz, uma ópera do oeste gelado, um triunfo cinemático, para ver e rever e prestar homenagem ao cinema americano, que já foi épico, que é hoje defunto.
The Far Country (1954) de Anthony Mann, com James Stewart, Ruth Roman, Corinne Calvet, Walter Brennan.
Relacionados
18 Mar 25
“Severance”: televisão acima da média.
"Severance", que navega num imaginário de espaços liminares e ficção científica do género noir, é ainda assim um produto televisivo de carácter original e guião competente, que se sobrepõe claramente à média contemporânea, e cujo consumo o ContraCultura recomenda.
15 Mar 25
A Morte de Marat: Entre a dor e a propaganda.
Clássicos do Contra: Um revolucionário jaz morto na banheira. O retrato é uma obra de propaganda jacobina, emblemática da Revolução Francesa. Mas para além da manipulação, Jacques-Louis David também expressa a dor de quem perde um amigo.
15 Fev 25
Paixão, angústia e êxtase: O “Adagietto” de Gustav Mahler.
O quarto andamento da Quinta Sinfonia de Mahler é uma joia do romantismo tardio, que resultou em duas histórias de amor: a do compositor e de Alma e a de gerações de melómanos que se apaixonaram por esta obra-prima de contenção e vontade de infinito.
14 Fev 25
Disney suspende programas DEI devido à pressão dos accionistas.
A Walt Disney Company parece estar prestes a ser a última grande empresa a interromper as suas iniciativas de diversidade, equidade e inclusão, devido à pressão dos investidores. Mas é duvidoso que os conteúdos fílmicos e televisivos sigam para já a mesma tendência.
10 Fev 25
Teatro francês à beira da falência depois de acolher centenas de ilegais que se recusam a sair.
Um teatro francês de militância esquerdista está à beira da falência depois de ter aberto as suas portas a cerca de 250 imigrantes africanos que se recusaram a abandonar o local depois de lá terem permanecido durante cinco semanas.
3 Fev 25
Quadro comprado por 50 dólares numa venda de garagem é um Van Gogh que vale 15 milhões.
Uma pintura descoberta numa venda de garagem em 2016, e adquirida por 50 dólares, será uma obra autêntica do mestre holandês Vincent van Gogh, que vale cerca de 15 milhões, com base num exaustivo relatório forense.