Mesmo quando contracena com os glaciares do Alasca, James Maitland Stewart é um homem enorme. O corpo dele é astronómico. Todo o Klondike encolhe um pouco de cada vez que o herói-anti-herói entra em cena.

O herói-anti-herói não quer saber senão de si e não está cá para mariquices e não deixa que o juiz bandido lhe fique com o gado. O herói-anti-herói não é objector de consciência, desde que lhe seja o gatilho útil ao interesse próprio. Não há causas nobres. E muito menos em Dawson City, causa plebeia, canadiana, fim da linha para a febre do ouro.

E se a avalanche cair sobre quem foi avisado da possibilidade de uma avalanche, de que vale voltar atrás para cuidar dos imbecis?

O espectador tem paciência com o herói-anti-herói porque o James Maitland Stewart é maior que a tela. Se não fosse o tamanho do James Maitland Stewart, toda a gente ia achar que ali estava um vilão. Mas um vilão não pode ser assim tão grande.

No entretanto, vão caindo mortos os que estão ali para serem inocentes e não é de frio que caem. É a tiro de bala.

O herói-anti-herói porém, não parece lá muito comovido. E o espectador que expecta, paciente, a justa justiça, impacienta-se. Mas não duvida. Ao gigante resta apenas ser um bom gigante.

Chegará enfim o fim e, para alívio grato e genuíno da audiência, o herói-anti-herói encontra a inevitável redenção, a tiro de bala.

E tudo por causa de um sininho de latão, que tilinta pela paz irrecuperável.

“The Far Country”, de Anthony Mann: uma oratória do gatilho feliz, uma ópera do oeste gelado, um triunfo cinemático, para ver e rever e prestar homenagem ao cinema americano, que já foi épico, que é hoje defunto.

 

The Far Country (1954) de Anthony Mann, com James Stewart, Ruth Roman, Corinne Calvet, Walter Brennan.