Tomás de Aquino segundo Gentile da Fabriano (detalhe)

 

“Terá que haver um primeiro motor que exista sobre todos – e a esse motor chamamos Deus.”
S. Tomás de Aquino . Suma Teológica

 

O teólogo central da doutrina da Igreja Católica.

São Tomás de Aquino (1225 – 1274), foi um frade católico italiano da Ordem dos Pregadores, cuja obra impactou seminalmente a teologia e a filosofia ocidental, principalmente na tradição conhecida como Escolástica. Muito por isso, é conhecido como “Doctor Angelicus”, “Doctor Communis” e “Doctor Universalis”.

O teólogo foi o mais importante proponente clássico da teologia natural e o pai do tomismo. a sua influência no pensamento ocidental é considerável e muito da filosofia moderna foi concebida como desenvolvimento ou oposição das suas ideias, particularmente nas disciplinas da ética, lei natural, metafísica e teoria política. Ao contrário de muitas correntes da Igreja na época, Tomás abraçou as ideias de Aristóteles – a quem ele se referia como “o Filósofo” – e sintetizou a filosofia aristotélica com os princípios do cristianismo. As obras mais conhecidas de Tomás são a “Suma Teológica” e a “Suma contra os Gentios”. Os seus comentários sobre as Escrituras e sobre Aristóteles também são parte importante de seu corpo literário.

Tomás é venerado como Santo pela Igreja Católica e foi proclamado Doutor da Igreja por Pio V em 1568. É considerado o professor modelo por dezenas de gerações de estudantes do sacerdócio, por ter atingido a expressão máxima da razão natural e da teologia especulativa.

Depois de uma vida não alheia a polémicas e tribulações – chegou a ser preso pelas suas convicções teológicas. mas ligada umbilicalmente a algumas da grandes universidades europeias da sua época, Tomás de Aquino morreu a 7 de março de 1274, enquanto ditava seus comentários sobre o Cântico dos Cânticos.

 

Triunfo de São Tomás de Aquino sobre Averroes (detalhe)

 

As Cinco Vias da Suma Teológica

Os escritos dos antigos filósofos pagãos confirmam os ensinamentos bíblicos de que é possível aos seres humanos conhecerem a existência de Deus sem nunca terem lido a Bíblia, testemunhando um milagre ou experimentando um momento de revelação metafísica. Não observamos Deus diretamente, mas pelo que vemos e experimentamos do mundo natural, podemos inferir que algo deve estar por trás da realidade cósmica. Algo que é responsável pela grandeza, pela beleza e pela ordem do mundo. É a essa entidade que descortinamos instintivamente na realidade que chamamos Deus.

No clip em baixo, o Frei James Bent coloca neste contexto os argumentos que S. Tomás de Aquino postulou em favor da existência de Deus (as célebres “Cinco Vias” da Suma Teológica).

 

 

Em síntese, os cinco argumentos sintetizam-se desta forma:

 

1° argumento: o Motor Imóvel

O movimento existe: isso é evidente aos nossos sentidos. Ora, se aquilo que se move é movido por alguma força, por algum motor, não é intelectualmente satisfatório pensar que cada motor seja movido por outro motor, sendo este, por sua vez, movido por outro motor, e assim sucessivamente até ao infinito: é razoável que exista uma origem primeira do fenómeno do movimento, ou um motor que move sem ser movido. Esse primeiro motor imóvel teria que ser Deus, o Criador de todo movimento.

 

2° argumento: a Causa Primordial

Se todo o efeito tem uma causa e cada causa é o efeito de outra causa, caímos no mesmo ciclo indefinido e infinito do problema anterior, o que não é satisfatório para uma honesta busca intelectual de respostas claras ao problema da existência de Deus. Qual seria a causa primeira das outras causas, uma causa que não seja provocada por nenhuma outra?

 

3° argumento: o Ser Não Contingente

Se todos os seres são finitos e contingentes, a sua razão ontológica depende necessariamente de um axioma não contingente, de um poder infinito, caso contrário nunca seriam dados ao mundo ou cessariam por completo de existir, o que é tão absurdo quanto afirmar que aquilo que existe foi gerado a partir do nada, sem qualquer causa primeira e sem qualquer motor imóvel. Acontece que a própria existência dos seres contingentes implica a imanência de um Ser Necessário, não contingente, que simplesmente “é”: Deus.

 

4° argumento: o Ser Perfeito

Podemos claramente perceber que uma coisa é maior ou menor que outra, menos ou mais verdadeira que outra, o que significa que somos capazes de compreender que os seres finitos têm algum grau de perfeição, mas nenhum representa a perfeição absoluta. Esta, no entanto, existe necessariamente, dado que há seres que a possuem em algum grau. Assim, o grau primeiro da perfeição do ser terá que ser Deus.

 

5° argumento: a Inteligência Ordenadora

Todos os seres tendem a uma finalidade que não é obra do acaso, mas de uma inteligência transcendente que os dirige. Logo, é preciso que exista um ser trancendentemente inteligente que ordene a natureza e a encaminhe para a sua finalidade: esse ser inteligente terá que ser Deus.

 

Adenda: um contributo abrangente do Bisbo Barron.

Numa eloquente adenda ao clip anterior, o Bispo Robert Barron, eminente teólogo americano, argumenta que a supressão da causa primordial (actus purus) exposta na primeira Via invalida a termo-dinâmica e o que conhecemos como matéria e energia, demonstrando assim a validade filosófica e teológica do argumento do Motor Imóvel.