A sequela da série “Vikings” é um desastre horroroso, um delírio fantasista, alegremente produzido pela Netflix, que despreza e mal trata o produto original, levado a cabo pelo History Channel.
“Vikings: Valhalla” passa-se oficialmente um século depois dos eventos retratados na primeira série, mas na verdade podia ocorrer no século trinta e dois e no planeta XPTO, porque ao contrário da sua predecessora, esta produção é completamente desfasada da realidade histórica.
A líder de Kattegat, a cidade mítica das tribos norueguesas, é interpretada por uma actriz que deve ter nascido na Nigéria, o que faz total sentido, para quem gosta de ser gozado.
Os Vikings vivem numa guerra civil por causa de uns (os vilões) serem cristãos e de outros (os heróis) serem pagãos. Porque não há ninguém mais bárbaro na história da humanidade do que um cristão, claro. Só mesmo a Netflix consegue produzir uma história em que os vikings pagãos são uns tipos doces, tolerantes e afáveis, santas criaturas que mutuamente se enchem de carinhos nos intervalos dos sacrifícios humanos.
A narrativa é de tal forma inconsistente que implica rainhas que trocam de tronos com uma facilidade impressionante (o mar do norte é uma máquina tele-transportadora), príncipes globalistas que sonham, no século XIII, com o fim do ódio entre os povos e com reinos abertos a todas as gentes do planeta, e milícias de amazonas que lutam galhardamente pelos ideais da liberdade, da igualdade e da paz, partilhando as aspirações das miss universo contemporâneas.
A defesa de Kattegat, aliás e aparentemente, é vedada aos homens. Contra todas as evidências arqueológicas, só as mulheres lideram, só as mulheres batalham, só as mulheres mandam. Os homens que pegam na espada estão do lado inimigo, são obviamente maléficos e sexistas e racistas cristãos e não têm qualquer hipótese no corpo a corpo com as donzelas.
A única virtude de “Vikings: Valhalla” é a de ser uma produção curtinha, com oito breves episódios. Porque mais um minuto desta delirante ópera “woke” seria um suplício excessivo.
Revisionistas politicamente correctos de todo o mundo: porque é que não criam de raiz as vossas séries que ninguém quer ver e os vossos filmes para atrasados mentais? Porque é que insistem em estragar o que foi bem feito e violentar a memória cinemática das pessoas?
Na verdade podem fazer o que quiserem, desde que isso não implique a adulteração de legados que não são da vossa autoria. Somos todos a favor da liberdade de expressão. Mas por todos os deuses do bom senso e do bom gosto, parem lá com isso de reinventar para pior o que já em melhor foi inventado.
Relacionados
15 Nov 24
The Penguin: Uma pérola no esgoto de Gotham.
A série da HBO é muito bem contada, muito bem filmada e interpretada por actores que desaparecem, para nos deixarem a conviver apenas com os personagens, que sendo ratazanas da pior espécie, gratificam o espectador com a sua tangibilidade dramática.
26 Ago 24
Ninguém quer ver: Amazon cancela série de “fantasia maricas” que apresentava um rei inglês como negro, gay e deficiente.
"My Lady Jane", uma série da Amazon Prime que apresentava uma versão negra, gay e deficiente do rei inglês Eduardo VI, foi cancelada após apenas uma temporada devido à falta de interesse do público. E a Disney também cancelou "The Acolyte", pelas mesmas razões.
12 Jul 24
BBC escolhe “elenco racialmente diversificado” para drama sobre a Batalha de Hastings, travada em 1066.
Mais um exercício de ficção woke sobre a história do Ocidente: A BBC e a CBS uniram esforços para produzir um série que nos tenta vender a ideia de que entre os anglosaxões do século XI podiam muito bem ser encontrados condes subsarianos e guerreiros do caribe.
29 Jun 24
Alma Mahler ou a vingança de Pandora.
Biografias de Minuto e Meio: Magnética ninfa de alguns dos mais proeminentes intelectuais e artistas da sua época, Alma Mahler libertou o caos passional para cumprir a sua vontade irredutível. Uma mulher incontornável, na tortuosa história do século XX.
21 Jun 24
Os XX Dessins de Amadeu: Um poema épico a tinta-da-china.
Os "XX Dessins", de Amadeu de Souza-Cardoso, constituem um virtuoso ensaio gráfico, que evoca vastos imaginários das tradições ocidental, oriental e africana; de D. Quixote às Mil e Uma Noites. A obra, iniciática, é simplesmente sublime.
17 Jun 24
Alguém vê este lixo? Bruxas lésbicas de Star Wars usam a ‘Força’ para engravidar.
O último desvario da Disney acaba em definitivo com o legado de George Lucas: porque depois de 'The Acolyte' ninguém nunca mais vai querer ver seja o que for que possa acontecer numa galáxia muito, muito distante.