Não é preciso ser fã do género “Anime”, conhecedor de jogos de consola ou até ter paciência para filmes ou séries de animação. Logo nos nos primeiros minutos do primeiro episódio de “Arcane – League of Legends” percebemos que esta produção transcende largamente as suas referências imediatas.
Muito para além do deslumbramento visual – os gráficos são do melhor que podemos testemunhar actualmente e o contexto estético e cenográfico da série é de fazer cair o queixo – há nesta produção da Netflix, concebida por Christian Linke e Alex Yee, um raro impulso criativo que projecta os personagens para uma dimensão profundamente humana; que desenvolve um delicioso ecossistema retro e o faz oscilar entre a fantasia e a realidade; que engendra um enredo – complexo e repleto de subtilezas – desenhado para respeitar a inteligência e captar a atenção e libertar a imaginação do espectador.
Baseado ironicamente num mau jogo de consola, o “League of Legends”, Arcane acaba por ser um produto artístico, no clássico sentido da palavra. Na sua estética, procura uma ética. Na sua cinematografia cuidada anseia pela perfeição estilística. Na sua demanda subjectiva, objectiva o que é belo, o que é justo, o que é moral, o que é equilibrado. Tem consciência da entropia que corrompe esse processo; tem em conta as trevas e as corruptelas inerentes à viagem ficcional a que se propõe; considera com rigor que é frágil e fina e quebradiça a fronteira que separa o bem e o mal; mas arrisca um caminho, aventura-se por uma odisseia: fascina os sentidos e eleva o espírito.
Mais a mais e para espanto da plateia, a Netflix concedeu ao bom senso e, por uma vez, apresenta uma produção que não faz política. Que recusa a propaganda e o fedorento moralismo das elites. Que não repreende nem julga nem doutrina o espectador. Dados os tempos que correm, isto não é dizer pouco.
The Critical Drinker faz a apologia da série, em mais uma desassombrada recensão crítica que justifica a popularidade do seu canal no Youtube.
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