Apostando tudo na guerra cultural que grassa no Ocidente, o Daily Wire tem vindo, nos últimos dois anos, a construir uma plataforma multidimensional de conteúdos que abrangem os âmbitos editorial, cinematográfico, documental e até de lançamento de produtos, como uma marca de lâminas de barbear que não precisa de insultar os seus clientes para exercer actividade económica.

 

Do western ao documentário, por 8 dólares por mês.

Assumindo a concorrência com Hollywood e a Netflix, a companhia de Jeremy Boeiring e Ben Shapiro (onde também pontificam os pundits Matt Walsh, Candace Owens, Michael Knowles e Andrew Klavan), está a produzir longas metragens com estrelas de cinema que foram entretanto canceladas pelo regime woke que domina a América, como é o caso de Gina Carano, que depois de ter sido despedida pela Disney por ter publicado um comentário politicamente incorrecto no Twitter, foi contratada para protagonizar o último filme lançado pelo Daily Wire, um western low budget, mas intenso e tecnicamente irrepreensível.

 

 

A criação sistematizada de conteúdos para vastas audiências permitiu ao Daily Wire implementar uma plataforma de streaming a pagar (8 dólares por mês), o DW+, que no espaço de menos de um ano já tem perto de um milhão de subscritores.

E ontem, num evento a que não faltou glamour e ambiente operático, Jeremy Boeiring anunciou um programa de realizações que integram duas das mais proeminentes figuras do panorama conservador norte americano: Dennis Prager e Jordan Peterson.

A cobertura de todo o envento está aqui, mas o destaque vai, claro, para o momento de anúncio da participação de Jordan Peterson no projecto e a conversa que manteve depois, ao vivo, com Ben Shapiro.

 

 

O primeiro episódio da nova série protagonizada por Peterson, “Dragões, Monstros e Homens”, momento iniciático desta parceira, já está disponível no DW+. Nesta objecto documental, o célebre professor de Toronto desenvolve a sua tese de que o homem tem que se transformar num monstro, dominar essa monstruosidade, e utilizá-la com parcimónia de forma a vencer sobre os dragões da existência.

O teaser da série revela claramente dois factos: que Jordan Peterson está em grande forma e atingiu a maturidade como comunicador vocacionado para grandes audiências, e que a sofisticação técnica e estilística da produção evidencia que neste projecto ninguém está a brincar em serviço.

 

 

É claro que o milhão de subscritores do serviço DW+ ainda está longe de rivalizar com as centenas de milhões de subscritores da Netflix, por exemplo. Mas o contra-ataque conservador na frente da guerra cultural tem que começar por algum lado, tanto mais que os públicos que já não suportam o fascismo woke e o uníssono dos meios de comunicação social e das máquinas de entretenimento e dos grandes conglomerados económicos, existem de facto. E são em quantidade brutal. Há muita margem para crescer, neste negócio.

Aliás, só Jordan Peterson tem qualquer coisa como 5,6 milhões de subscritores no seu canal do Youtube. Jeremy Boering não vai de certeza perder dinheiro com este contrato.

Uns dias depois do evento, o psicólogo canadiano explicou, com a claridade que se lhe reconhece, porque é que resolveu unir forças com o Daily Wire. E fê-lo com o tom de menino travesso que tem adoptado nos últimos tempos e que, independentemente de ser ou não genuíno, é divertido.

A promessa de retomar as “Biblical Series”, projecto que infelizmente interrompeu já há uns anos, é, se calhar, a melhor notícia deste breve aviso à navegação.

 

Lâminas para fazer a guerra cultural.

Esta história conta-se num instantinho e vale a pena perder esse instantinho com ela: a Harry’s Razors é uma popular embora cara marca de lâminas de barbear. Durante anos publicitava as suas linhas de produto nos conteúdos do Daily Wire.

Aqui há coisa de um ano atrás, a Harry’s Razors deixou de anunciar na plataforma de Jeremy Boering. Até aqui tudo bem. As marcas anunciam e deixam de anunciar os seus produtos nos meios que bem entendem em função de critérios como custo/benefício, ajuste do targetting, restrições orçamentais, reposicionamento do branding, etc. O problema é que a marca de lâminas de barbear tornou público que abandonava a relação que mantinha com o Daily Wire não por motivos financeiros ou mercantis, mas por razões políticas, declarando que a organização mantinha “pontos de vista inaceitáveis sobre o género” e promovia um “discurso de ódio”.

Um ano depois, Jeremy Boeiring faz isto:

 

 

Para além do carácter mimético, espampanante e de gosto discutível desta produção (atenção que, para além do óbvio meme, a marca Jeremy’s Razors existe de facto e vende efectivamente lâminas de barbear); há aqui argumentos sérios: quando a cultura é dominada pelo movimento radical woke e quando o capitalismo se dedica a doutrinar os consumidores na ideologia da esquerda globalista, compete àqueles que não se identificam com esses valores – e que detêm poder financeiro e plataformas mediáticas para ir à luta – a edificação de sistemas culturais e económicos alternativos, que respondam à procura por parte dos consumidores conservadores e combatam a hegemonia dogmática das forças inimigas.

Porque a cultura e a economia precedem e fundamentam a realidade política, a guerra ideológica dos tempos que correm trava-se precisamente nas escolas e nas universidades, nos estúdios de cinema e nos conselhos de administração das empresas, nas galerias de arte e nos lineares de supermercado. Jeremy Boeiring sabe disso e o Daily Wire ataca em todas as frentes da batalha. O combate é, claro, de David contra Golias. Mas alguém tem que o travar.

Na altura em que se escrevem estas linhas, a Jeremmy’s Razors, que está no mercado há pouco mais de 6 meses, já vendeu para cima de 100.000 kits de lâminas de barbear. E a conta do Twitter da marca tem cerca de dez vezes mais seguidores do que a Harry’s Razors.

Daqui se conclui que, para além da batalha de valores culturais, morais e ideológicos que é urgente levar a cabo, há dinheiro a ganhar com o mercado conservador.

Para quem quiser ficar por dentro do pensamento de Jeremy Boeiring sobre este assunto, ele explica-se, bem, neste clip: