Kevin McCarthy (R-Califórnia) – Ex-lider da minoria republicana na Câmara dos Representantes e actual candidato a Speake

 

Depois dos péssimos resultados eleitorais das intercalares de Novembro, o Partido Republicano conseguiu ainda assim uma estreita maioria na Câmara dos Representantes, cabendo-lhe por isso a nomeação do Speaker da assembleia.

Mas, pela primeira vez em cem anos, a maioria republicana na Câmara dos Representantes do Capitólio não elegeu o seu speaker à primeira votação. Isto não é dizer pouco. O Partido Republicano, profundamente dividido entre populistas e RINOS (republicans in name only), conservadores cristãos e servos niilistas do establishment, falcões do aparelho industrial-militar e libertários “America First” já deixou há muito de ser uma unidade política coerente e minimamente eficaz. Kevin McCarthy, um rapazinho dos pântanos que não interessa a ninguém, mas que em circunstâncias normais seria o próximo speaker da Câmara, foi já submetido, nas últimas 24 horas, à humilhação de 4 votações inconclusivas, com um grupo de cerca de 20 congressistas a impedirem a soma dos 218 votos de que necessita.

 

 

Fiel a si próprio e à sua ignomínia, McCarthy teve porém o desplante de se mudar com malas e bagagens para o escritório do speaker, como se tivesse de facto sido eleito ou isso fosse algo de incontornável. É verdade que os políticos no ocidente têm cada vez menos respeito pelos mecanismos da democracia e pelos processos constitucionais, mas a ética desta iniciativa do representante pela Califórnia é, no mínimo, discutível.

Matt Gaetz, um dos irredutíveis que só muito dificilmente acabará por votar em McCarthy (ou apenas depois deste último lhe prometer mundos e fundos), escreveu ao Arquitecto do Capitólio, entidade que gere a infraestrutura do edifício, com a devida queixinha e a sugestão de que o candidato a speaker não passa de um “ocupa”:

 


Na altura em que são escritas estas linhas, o impasse é óbvio, porque os congressistas que se opõem a Kevin McCarthy não têm de facto alternativas válidas que possam avançar para a liderança. O representante mais credível seria Jim Jordan, mas é muito improvável, para não dizer impossível, que o republicano de Ohio consiga os 218 votos entre uma bancada onde criou mais inimigos que amigos, precisamente por ser, de entre os congressistas seniores, o que mais tem batalhado contra o corrupto sistema de interesses montado há décadas no Capitólio.

Por outro lado, é indiscutível que a pressão – e o opróbrio – que neste momento caiem sobre McCarthy vão fragilizar a sua posição e autonomia, no caso de ser eleito. As promessas que já deve ter feito a representantes não alinhados com o seu perfil político e que votaram nele, como Marjorie Taylor Green, por exemplo, devem ser inimagináveis.

Mas este é o resultado inevitável de um trajecto absolutamente errático do Partido Republicano nos últimos dez a vinte anos. Incapaz de se opor a um muito mais eficiente, agressivo, draconiano e organicamente poderoso Partido Democrata e tendo desistido por completo de interpretar as aspirações e defender os interesses do seu eleitorado, o partido de Abraham Lincoln é hoje uma abstração sem raízes no tecido social da América, sem coerência ideológica, sem vitalidade criativa, escravo do capitalismo corporativo que ajudou a criar e monstro devorador de si próprio; um fruto que apodreceu no ramo e que está apenas à espera de cair na lama do fim.

Não é por acaso que Trump está neste momento a equacionar uma candidatura independente ou por um terceiro partido, a criar entretanto.

Seja como for, ainda há quem consiga analisar o caos com algum humor.