A imagem dos políticos em geral nunca é muito positiva, o que é um sinal de que as pessoas ainda vão mantendo alguma sanidade. Mas a avaliação que fazemos dos eurodeputados está, se possível, abaixo daquela que fazemos das restantes figuras tristes que teimamos ainda assim em eleger.

As razões desse desamor são claras: o Parlamento Europeu tem poderes difusos, a informação que nos chega sobre a sua actividade, muitas vezes de natureza pidesca, é escassa, e os eurodeputados são frequentemente segundas escolhas dos partidos, que preferem que as suas personalidades mais fortes se candidatem a cargos públicos nos países de que são nativos.

Mas há excepções, como em tudo na vida, e mesmo no poço sem fundo de mediocridade desta infame assembleia, sempre encontramos alguns heróis. Este artigo evoca três desses casos raros. Um que por lá passou e de lá saltou para outras lutas e dois que estão lá agora e que trabalham como os políticos deviam todos trabalhar: em nome daqueles que os elegeram.

 

Farage: como um martelo pneumático sobre o cerebelo de Durão Barroso.

Aqui há uns bons doze anos atrás, muito antes do movimento Brexit de que foi figura de proa, Nigel Farage foi eleito por um partido anti-europeista, o UKIP, para o mais europeu de todos os hemiciclos e é claro que o seu mandato consistia em tentar destruir, sempre que lhe ligavam o microfone às colunas da assembleia, o projecto da União e as personalidades que então a lideravam.

Provando que o Parlamento Europeu pode ser muito mais entretido do que parece, estes cinco minutos repletos daquele género de verdades que os políticos não dizem (bom, quase todos os políticos) são dessa missão guerrilheira exemplo eloquente. Farage dá uma boa e divertida ensaboadela ao Comissário Europeu da altura e tudo o que o comissário europeu pode fazer é engolir em seco. A democracia é assim. E é por isso que figuras sinistras como Durão Barroso detestam a sua natureza e o seu processo.

 

 

 

Kolakusic: Como um herói da Marvel, mas ao contrário.

Ex-advogado e juíz, Mislav Kolakušić é um tesouro em forma de gente e o redactor deste artigo só lamenta não lhe ser possível votar nele.

Como o ContraCultura já reportou, a Comissão Europeia adjudicou à Pfizer, sem concurso público e numa negociata privada entre Albert Broula e Ursula von der Lyen, a aquisição de 1,8 mil milhões de doses de vacinas, para uma população total de 450 milhões de pessoas, numa altura em que se sabia muito pouco (ou quase nada) sobre a eficácia, ciclo de vida e efeitos secundários desta terapia genética. Nesta breve declaração em baixo, o super-herói croata, que foi eleito para o Parlamento Europeu como independente, comenta o escândalo de forma lapidar, afirmando a verdade que milhões de cidadãos europeus querem que seja afirmada.

 

 

Aliás, Mislav tem uma opinião sobre as vacinas que o ContraCultura subscreve por completo e é dos poucos políticos no Ocidente com a coragem necessária para dizer o que pensa. Sem reticências.

 

 

 

Sobre os actuais excessos de mortalidade, que políticos, burocratas, capitalistas e jornalistas evitam como quem foge de um tsunami, o eurodeputado croata não tem papas na língua, chegando até, pasme-se, a fazer a óbvia comparação entre índices de vacinação e de mortalidade nos países europeus. Isto, convenhamos, é de uma heroicidade brutal, considerando a profissão que o senhor exerce e o ambiente pidesco a que é por isso submetido quotidianamente.

 

 

É mesmo gratificante ouvir este homem falar. Por exemplo, quando abre o livro sobre outra causa cara ao ContraCultura, o poder que as elites não eleitas e o capitalismo corporativo estão a exercer sobre os destinos da humanidade, Kolakušić não poupa palavras nem tem medo de ninguém.

 

 

Mislav Kolakuši. Só lhe falta uma capa vermelha, porque super-poderes já ele os tem em generosa quantidade.

 

Legutko: um discurso à velocidade de dez verdades por minuto.

Para fechar este restrito grupo de homens com H enorme, apresento à ilustre audiência o Professor Ryszard Legutko. De nacionalidade polaca, faz parte da direcção do Grupo Parlamentar Conservador e Reformista.

Numa recente declaração à assembleia, decide proferir dois minutos de verdades inconvenientes, que são quatro, porque o professor está constantemente a ser interrompido pelos canalhas que não gostam de ser confrontados com as suas vilanias. O breve discurso constitui um momento delicioso de crítica certeira e iluminado esclarecimento. Vale mesmo a pena ouvi-lo.

 

 

O ContraCultura faz questão de deixar aqui uma tradução livre dos quatro parágrafos deste brilhante e sintético ataque de lucidez, para referência futura.

“Senhora Presidente, Primeiros-Ministros. Dois minutos de verdade, de verdade amarga. E a verdade amarga é que o Parlamento Europeu tem provocado muitos danos à Europa. Tem enviado uma falsa mensagem que representa as populações europeias. Não há, e não haverá nenhuma representação dessas populações. O Parlamento infectou a Europa com um descarado partidarismo e a infecção tornou-se tão contagiosa que se propagou a outras instituições, como a Comissão Europeia.

O Parlamento abandonou a função básica de representar as pessoas. Em vez disso, tornou-se uma máquina para implementar o chamado projecto europeu, alienando assim milhões de eleitores. O Parlamento tornou-se um veículo político da esquerda para impor o seu monopólio, com a sua feroz intolerância para com qualquer visão dissidente. Não importa quantas vezes se repita a palavra “diversidade”. A diversidade está a tornar-se uma espécie extinta na União Europeia e particularmente nesta câmara.

O Parlamento é um quase-parlamento porque rejeita o princípio essencial do parlamentarismo, nomeadamente a responsabilização. O deputado – permitam-me que vos recorde – é eleito pelos eleitores e deve ser responsável perante os eleitores que o elegeram. Não é assim na União Europeia. A ideia de que, digamos, os deputados espanhóis, alemães, franceses, etc., responsáveis perante os seus próprios eleitorados nacionais podem ditar algo, digamos, à sociedade húngara ou a qualquer outra sociedade perante a qual não possam ser responsabilizados e que não os possa levar a prestar contas, é simplesmente absurda.

Chamem-lhe o que quiserem. Mas democracia, não é. Em suma, o Parlamento representa populações que não existem, trabalha para o projecto que ignora a realidade e a lei, evita a responsabilização, vira as costas a milhões de pessoas e serve o interesse de uma orientação política. E isto é apenas a ponta do iceberg. Dito isto, senhoras e senhores, descanso o meu argumento”.

 

Não deixa de ser consolador constatar que até no Parlamento Europeu, espécie de pântano infecto onde a democracia apodrece todos os dias, subsistem vozes que clamam pelas virtudes do processo democrático, pela sua representatividade e pela sua ética . Que ainda existem representantes eleitos que procuram de facto representar e defender os interesses de quem os elege. Que não se recusam a expor a corrupção das altas esferas do poder elitista-globalista-corporativo. Que trazem a verdade de volta ao discurso político.

Precisamos de mais gente assim. Com urgência.