O fascismo woke é imparável e não conhece limites. E é por isso que as universidades britânicas estão a ser pressionadas para ‘descolonizar’ os conteúdos curriculares. Este Outono, a Quality Assurance Agency for Higher Education (QAA) – uma instituição de caridade independente que revê cursos universitários – lançou uma consulta que instava as universidades a ensinar uma “visão descolonizada” da matemática.

O facto é que o colonialismo é irrelevante para a validade da matemática. A civilização Maia estava a fazer matemática sofisticada nas Américas muito antes da chegada de Cristóvão Colombo ao continente. Por exemplo. A métrica rigorosa, com implicações celestiais, com que as pirâmides e os túmulos da profunda antiguidade egípcia foram erigidos não deve ter sido influenciada, que se saiba, pelos colonos brancos do Império Inglês. Outro exemplo e podíamos ficar aqui a manhã toda.

Então de onde vem a ideia de “descolonizar” a matemática? A teoria académica da descolonização afirma que, além de colonizar fisicamente o mundo, os europeus dominaram o planeta ao promoverem o “paradigma europeu do conhecimento racional”.

A ironia é que esta afirmação é em si mesma extremamente racista. Não há nada de particularmente europeu sobre o conhecimento racional. E nada que nos diga que os povos não ocidentais não recorram ao exercício da razão para desvendar os mistérios da natureza e da existência. A matemática tem sido desde sempre um recurso utilizado por povos diversos e culturas antípodas. Os dígitos 0123456789 que usamos hoje foram escritos pela primeira vez na Índia e inspirados pela matemática chinesa. Foram popularizados por matemáticos persas e árabes, e depois foram levados para a Europa através da conquista da Península Ibérica pelos árabes. É certo que essa conquista foi uma forma de colonialismo, mas aparentemente não o tipo de colonialismo que interessa aos senhores do QAA.

Aqueles que aderem à ‘descolonização’ não pensam que estão a ser racistas. Nesta visão ensandecida do mundo, não é insultuoso sugerir que os não europeus preferem “outras formas de saber” à racionalidade e à ciência.

A QAA também não explica o que significa ‘descolonizar’. Presumivelmente porque as cabecinhas brilhantes desta instituição desconhecem a sua bagagem flilológica, filosófica e científica. Mas isso não os impede de oferecerem conselhos brilhantes para descolonizar a matemática, como este:

“Os estudantes devem ser sensibilizados para questões problemáticas no desenvolvimento da matemática que lhes é ensinada, por exemplo, alguns pioneiros da estatística apoiaram a eugenia, ou alguns matemáticos tinham ligações ao tráfico de escravos, ao racismo ou ao nazismo”.

O reducionismo brutal e dogmático é evidente. Então e os matemáticos que foram perseguidos pelos nazis, como Emmy Noether, ou que contribuíram decisivamente para os derrotar, como Alan Turing? Os exemplos são inúmeros. A orientação do QAA levaria a uma perspectiva distorcida da história, vista inteiramente através da lente da colonização e escolhendo apenas exemplos que cumpram com a sua narrativa. Isto já para não constatar o óbvio: não há como julgar moralmente um eugenista do fim do século XIX, sabendo o que no Século XXI sabemos sobre a eugenia. A maior parte dos cientistas e académicos que fundaram ou colaboraram na fundação das teorias eugénicas estavam convictos que trabalhavam por bem da humanidade e do progresso social.

A história da matemática não é uma parte essencial de um diploma na disciplina, mas se vamos ensiná-la, que o processo seja realizado adequadamente. Isso significaria ensinar os alunos a pensar como historiadores e a saber criticar teorias como a descolonização, em vez de simplesmente aceitá-las como factos.

Incorporar a descolonização na matemática e desvalorizar o papel da razão ao rotulá-la como um produto do homem branco e, portanto, necessariamente racista, é uma das características mais censuráveis e perniciosas das novas propostas woke, mas é sintomático de uma tendência mais geral para que se defina centralizadamente o que as faculdades devem ensinar, que levará a uma espécie de sovietização do ensino superior. Propostas deste género têm tido cada vez mais aceitação nos últimos anos, mas não devido a qualquer mudança radical na natureza da matemática ou do conhecimento histórico sobre a disciplina. E fora do âmbito da matemática, o ensino superior inglês é agora obrigado a introduzir cadeiras de sustentabilidade e empreendedorismo em todos os cursos universitários. Ao exigir que todas as áreas temáticas incluam estes tópicos, o estado está a homogeneizar o ensino universitário e a obliterar a liberdade de escolha e a diversidade de pensamento.

Esta abordagem de cima para baixo é a antítese daquela que deve ser conduzida nos currículos académicos e que deveria ser a marca do ensino superior. É uma oportunidade desperdiçada ter matemáticos brilhantes a ensinar política racial, um assunto distante das suas áreas de especialização e interesse. Na prática, as propostas da QAA conduzirão a que as universidades desenvolvam cursos uni-dimensionais. Uma vez que tais cursos devem servir todos os estudantes, é mais que provável que isto conduza a uma diminuição do nível da formação.

Esse é precisamente o objectivo dos burocratas woke: uma sociedade mais ignorante, que seja mais fácil de doutrinar e controlar. E a verdade é que estão a levar a sua missão de cinzas avante, a uma velocidade espantosa, dada a insanidade das suas propostas.

Algumas universidades britânicas já lançaram cursos de ‘diversidade’ conceptualmente centralizados. Como exemplo, um desses cursos na universidade de Kent exige que todos os estudantes afirmem que

“O sexo é, de facto, uma forma de identidade diversificada e multiexpressiva e um espectro completo”.

Já não podemos assumir que a matemática, a ciência e as estatísticas serão imunes a tal activismo. Na Nova Zelândia, o programa de química e biologia escolar foi ‘descolonizado’ e agora invoca o conceito Maori de força vital, para dar à teoria atómica uma nova dimensão espiritual. Isto é devido a um diktat central de que o conhecimento Maori deve ser equiparado a outras formas de conhecimento, incluindo a ciência. Os activistas também têm as estatísticas na sua mira. Uma revisão académica dos manuais escolares de estatística “com um quadro teórico da teoria queer e matemática crítica” nota que “a gravidez foi utilizada frequentemente para dissolver relações sexuais entre mulheres”. O Gabinete de Estatística Nacional do Reino Unido já sucumbiu a tais ideias, propondo que os inquiridos fossem autorizados a auto-identificar o seu sexo no censo de 2021.

A solução para este esquizofrénico estado de coisas será certamente a de regressar aos princípios básicos da liberdade académica que historicamente definiram a nossa noção de universidade. Os currículos não devem ser ditados pelos governos nem devem ser controlados por activistas radicais. Devem ser determinados por académicos com base na sua experiência de investigação, nos conhecimentos intelectuais e nas realidades do mercado de trabalho que vai receber os estudantes. O currículo científico deveria ser cientificamente dirigido, o currículo filosófico deveria continuar a questionar a natureza do conhecimento, e os matemáticos deveriam ser autorizados a ensinar matemática livre de interferências políticas.

Não é complicado.