Volodymyr Zelenskyy afirmou que se a sua nação não for rapidamente admitida na NATO poderá vir a ter armas nucleares, e em tempo real.

 

O presidente da Ucrânia sugeriu que o seu país poderia tentar desenvolver ou comprar armas nucleares, a menos que fosse autorizado a aderir à NATO. Kiev fez de uma rápida adesão à aliança militar um ponto-chave do seu Plano de Vitória, que Volodymyr Zelenskyy tem vindo a apresentar aos líderes ocidentais, mas as reticências que encontrou por parte da generalidade dos países europeus e também de Washington deixou-o frustrado e em maus lençóis no contexto interno.

Os líderes da NATO têm falado da adesão da Ucrânia à aliança, mas apenas numa data não especificada e não enquanto o país estiver em guerra com a Rússia, já que essa hipótese significaria o conflito directo com a segunda potência militar do mundo.

Neste contexto, numa cimeira do Conselho Europeu em Bruxelas, na quinta-feira, Zelenskyy ousou declarar:

“Ou a Ucrânia tem armas nucleares, e isso será a nossa protecção, ou devemos ter algum tipo de aliança. Para além da NATO, não conhecemos hoje nenhuma aliança eficaz.”.

Os comentários de Zelenskyy na reunião de quinta-feira foram os primeiros em que levantou a possibilidade de Kiev desenvolver capacidades semelhantes e deixaram os seus aliados ocidentais chocados.

Acresce que o tablóide alemão Bild citou recentemente um funcionário ucraniano especializado na aquisição de armas, dizendo que Kiev poderia construir uma bomba nuclear dentro de semanas:

“Temos o material, temos o conhecimento. Se a ordem for dada, precisaremos apenas de algumas semanas para ter a primeira bomba”.

Escusado será dizer que o processo de produção de uma bomba nuclear sairia caro a Kiev, que teria que adquirir vários componentes e urânio enriquecido a países ou organizações que estivessem dispostos a esse comércio. E de onde é que viria esse dinheiro? Da ajuda ocidental, claro.

O Ocidente criou um monstro e agora não sabe bem o que fazer com ele – ou o que ele pode fazer.

 

Kiev lança água fria sobre as alegações.

As ondas de choque que as declarações de Zelensky e da fonte anónima do Bild tiveram resultados imediatos e o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Heorhii Tykhyi, muito provavelmente pressionado pelas instâncias diplomáticas norte-americanas, disse que Kiev “continua a ser uma parte empenhada” no Memorando de Budapeste de 1994, no qual a Ucrânia concordou em desmantelar as suas armas nucleares em troca de garantias de segurança dos EUA, Grã-Bretanha e Rússia.

E 24 horas depois de ter dito o que disse, durante uma conferência de imprensa com Mark Rutte, Secretário-Geral da NATO, Zelenskyy virou o disco:

“nunca falámos que nos estamos a preparar para construir uma arma nuclear ou algo do género. O que eu quis dizer é que, hoje em dia, não existe uma garantia de segurança mais forte para nós do que sermos membros da NATO”.

Acontece que não foi isso que disse nem que quis dizer. O que disse e o que quis dizer foi um ultimato: ou a Ucrânia entra já na NATO ou recorre à solução nuclear.

Kiev herdou um número estimado de vários milhares de ogivas atómicas quando a União Soviética se desfez em 1991, mas entregou-as três anos mais tarde. Alguns analistas consideram que, mesmo que a Ucrânia tivesse uma arma nuclear, seria pouco provável que esta constituísse um meio de dissuasão eficaz. Para cada bomba atómica ou de hidrogénio que a Ucrânia conseguisse produzir, a Rússia terá centenas.

Pavel Podvig, investigador do Instituto de Estudos de Desarmamento das Nações Unidas, foi citado pelo jornal britânico The Telegraph como tendo dito que uma Ucrânia com armas nucleares apenas aumentaria o perigo de um conflito nuclear.

Alexander Mercouris, o mais bem informado dos youtubers sobre tudo o que tem a ver com a guerra na Ucrânia, discorre sobre o assunto e revela como as palavras de Zelensky criaram um terramoto diplomático, que obrigou o líder ucraniano a negar as suas próprias palavras no espaço de 24 horas.