O que aconteceu na quarta-feira à noite a Kamala Harris na Fox News pode ter sido o equivalente ao que aconteceu ao Presidente Joe Biden naquele infame debate de Junho – expôs irremediavelmente a candidata como inaceitável para os eleitores.

Naquilo que foi visto como uma manobra de desespero pela campanha de Kamala, a vice-presidente concordou em dar uma entrevista alargada à Fox News, uma das pouquíssimas entrevistas televisivas nacionais que deu desde que foi cooptada como a candidata do Partido Democrata.

Kamala não ofereceu nada de novo no que respeita à sua visão política, nem conseguiu ultrapassar as dificuldades que tem em articular respostas claras a perguntas básicas, e quando finalmente enfrentou um jornalista disposto a fazer essas perguntas fundamentais tentou mudar de assunto, uma e outra vez, e invariavelmente para direccionar ataques espúrios a Donald Trump.

Toda a entrevista foi tensa, marcada por um esforço óbvio do jornalista do “Special Report”, Bret Baier, para arrancar respostas directas a Kamala sobre questões a que, durante meses, ela respondeu com declarações sobre a sua “família de classe média” e o seu agrado pelas “ambições”, “sonhos” e “aspirações” dos americanos. A candidata democrata mostrou-se visivelmente perturbada e exasperada com as inúmeras interrupções de Beier, que insistia em que as suas perguntas fossem respondidas, muito porque até então não tinha enfrentado ninguém que estivesse determinado em fazer jornalismo.

As perguntas mais simples e óbvias que qualquer pessoa poderia fazer a Kamala são: porque é que ela está a fazer campanha como se não fizesse parte da actual administração; como é que a sua presidência seria reconhecidamente diferente desta; e quando é que ela decidiu tomar a posição exactamente oposta em várias questões políticas importantes em relação àquela que defendia num passado muito recente?

Baier fez estas perguntas e Kamala mudou sempre o assunto para Trump. Para seu crédito, o âncora da Fox fez um esforço exaustivo para a manter focada nos assuntos que interessam aos eleitores, facto que deixou Kamala visivelmente frustrada. Era perceptível na sua linguagem corporal e pelo tom da sua voz que estava desarmada e que não tinha respostas e que, se fosse honesta, seria imediatamente desqualificada da campanha.

Foi mesmo difícil e constrangedor assistir à entrevista, como é sempre constrangedor ouvir Kamala, e não pelo diálogo ser polémico, mas porque o miserabilismo discursivo da candidata até dá pena, como aconteceu com Biden durante o debate. Não houve nada de injusto ou sensacional no acontecimento que revelou que o Presidente era um sénior decrépito e mentalmente incapaz. Tratou-se simplesmente do momento em que ninguém podia mais negar o óbvio.

Foi provavelmente isso o que aconteceu com Kamala. Já não há como negar que ela é uma candidata superficial e intelectualmente deficitária que não inspira confiança nenhuma, nem convence ninguém que tem a visão ou a aptidão para liderar a maior economia do mundo e a mais poderosa força militar da história humana.

 

 

O simples facto de Kamala Harris ser candidata à presidência diz muito do que é hoje o Partido Democrata. E a perspectiva assustadora de que até pode sair vencedora das eleições diz ainda mais sobre os Estados Unidos da América.

 

Paulo Hasse Paixão
Publisher . ContraCultura