A cimeira que reuniu na Coreia do Sul as comitivas de Donald J. Trump e de Xi Jinping trouxe alguns benefícios para os agricultores e os consumidores americanos, e para os industriais e os exportadores chineses, mas na verdade protelou apenas a guerra comercial entre as duas potências, em vez de levá-la a uma conclusão pacificadora e abrangente.

A China concordou em aumentar as suas compras de soja dos EUA, finalizar a aprovação da venda do TikTok, adiar por um ano a implementação de controlos à exportação de minerais raros e combater a exportação de precursores de fentanil. Em troca, Trump concordou com reduções nas tarifas dos EUA sobre produtos chineses.

Mas a tensão entre as duas partes dominou o ambiente, sendo até ostensiva a frieza de Xi Jinping face às tentativas de Donald Trump para manifestar cordialidade em frente às câmaras. O Presidente norte-americano disse posteriormente à imprensa, já a bordo do Air Force One:

“Foi uma reunião incrível. As negociações foram doze em dez”.

O presidente norte-americano está tão habituado a mentir, que já não sabe dizer a verdade.

O desenvolvimento mais significativo que emergiu da cimeira foi o acordo de três anos da China para comprar 25 milhões de toneladas métricas de soja aos EUA, anualmente. Como parte da disputa comercial com os EUA, a China havia reduzido as importações de soja americana a quase zero.

O secretário do Tesouro de Trump, Scott Bessent, disse a este propósito na manhã de quinta-feira:

“Os nossos grandes produtores de soja, que os chineses usavam como peões políticos, estão fora de questão e devem prosperar nos próximos anos.”

Além disso, o secretário Bessent revelou que o presidente Trump garantiu a aprovação de Xi para a venda da aplicação de rede social TikTok, afirmando sobre este assunto:

“Em Kuala Lumpur, finalizámos o acordo TikTok em termos de obter a aprovação chinesa, e espero que isso avance nas próximas semanas e meses, para vermos finalmente uma resolução.”

A aplicação passará das mãos dos chineses para o controlo dos interesses sionistas em Washington. A diferença em censura, manipulação e toxicidade não será grande.

Xi Jinping vai protelar por um ano os controlos de exportação sobre minerais raros e equipamentos necessários para os processar, que tinha anunciado este mês como medida de retaliação sobre as tarifas impostas pela administração Trump às exportações chinesas. É importante sublinhar que a Pequim não retirou a ameaça desse controlo, estabelecendo antes uma estratégia de “esperar para ver”.

Por último, o presidente Trump anunciou que Xi se comprometeu a trabalhar “muito arduamente para impedir o fluxo” de precursores de fentanil para os cartéis de droga da América Central e do Sul. Mas não é claro quais as medidas que os chineses pretendem implementar para impedir este trânsito.

Em troca, Trump concordou em reduzir para metade a tarifa de 10% sobre os produtos chineses, imposta em resposta ao comércio de fentanil. Isto reduzirá efectivamente a taxa tarifária global sobre as exportações chinesas de 57% para 47%.

As duas comitivas nem sequer realizaram qualquer conferência de imprensa e o encontro entre os dois líderes durou apenas uma hora e meia. O assunto Taiwan não foi mencionado por ninguém. Um eloquente silêncio.

De modo geral, os mercados estão a avaliar os modestos resultados da cimeira como uma pausa táctica na guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais. Mas um regresso ao conceito globalista de uma parceria entre as duas nações parece já completamente fora de questão.