Dois anos após ter sido eleito, o salvador libertário que ia revolucionar a economia e a sociedade argentinas, Javier Milei, está no mesmo caminho que os seus antecessores e, depois de em Abril o país ter sido resgatado pelo FMI com uma injecção de 18 biliões de dólares, e pela China, com um acordo de swap de 5 biliões de dólares, é agora a vez dos EUA contribuírem para que a segunda maior nação da América do Sul possa cumprir as obrigações referentes à sua dívida colossal.

Depois de um período de forte volatilidade do mercado financeiro na Argentina, Scott Bessent, secretário do Tesouro norte-americano, afirmou que “todas as opções estão em cima da mesa” para apoiar o país. A oferta de um salva-vidas económico surge depois de Milei ter gasto 1,1 biliões de dólares das reservas de 20 biliões de dólares do país, para suportar o peso da dívida pública.

Bessent e Donald Trump vão reunir-se com Milei em Nova Iorque na terça-feira, para tentar amenizar os receios sobre a desvalorização do peso e evitar que a Argentina mergulhe num colapso de incumprimento. Aparentemente, um financiamento de 20 biliões de dólares por parte dos EUA será crucial para “manter a agenda de reformas” do presidente argentino, impulsionar os mercados e evitar uma crise política e económica.

A este propósito, Bessent afirmou:

“Continuamos confiantes de que o apoio do Presidente Milei à disciplina orçamental e às reformas pró-crescimento são necessários para quebrar o longo historial de declínio da Argentina. As oportunidades para investimentos privados continuam a ser amplas e a Argentina voltará a ser grande.”

Bessent esclareceu que os EUA poderiam usar fundos do Tesouro para comprar pesos ou títulos do governo argentino, ou que a Reserva Federal poderia fechar um acordo de swap cambial com o banco central argentino.

A circunstância ocorre quando Milei, ao recorrer à China para financiar o tesouro argentino, deu sinais de que o seu país poderia aderir ao BRICS, sendo que a administração americana parece agora investida em trazer o governo sul-americano de volta para a sua esfera de influência.

Uma recente e dolorosa derrota eleitoral de Milei, numa importante eleição regional na província de Buenos Aires, e um escândalo de corrupção envolvendo a sua irmã, deram aos EUA uma oportunidade para ganhar mais influência sobre o seu governo.

Milei disse na sexta-feira que as negociações com os EUA estavam “muito avançadas e é uma questão de tempo”. O presidente argentino já sinalizou também que pode aumentar as despesas com a assistência social, revertendo parcialmente uma forte campanha de austeridade que tem dominado a sua agenda até agora.

Na semana passada, dezenas de milhares de manifestantes marcharam nas ruas de Buenos Aires, exigindo maiores despesas com a saúde e a educação. Javier Milei precisa de manter os eleitores e os mercados financeiros do seu lado, mas enfrenta o desafio de pagar 9,5 biliões de dólares em juros da dívida, no próximo ano.

Para colocar a Argentina em condições de cumprir a dívida e impedir que a inflação suba para dois dígitos, tem tentado manter o peso forte. O ministro da Economia, Luis Caputo, disse na semana passada que o Governo “venderia até ao último dólar” para sustentar a moeda, que caiu quase 10% desde o resultado das recentes eleições regionais.

A inflação estabilizou num dígito, mas os investidores nervosos aumentaram os rendimentos dos títulos do governo argentino, denominados em dólares, e venderam acções de algumas das maiores empresas do país.

Como desgraçadamente acontece com todos os populistas que chegam ao poder, Milei comprometeu-se imediatamente com o estabelecimento de Buenos Aires, abandonando rapidamente a ideia, já de si complicada, de ‘dolarizar’ a economia argentina e colocando Luís Caputo como ministro da economia e finanças, um homem que desempenhou o mesmo cargo no governo globalista de Maurício Magri.

Em resultado, e apesar da motosserra, dos despedimentos na função pública e do excedente orçamental de 2024, a economia argentina pouco ou nada mudou.

O presidente argentino tem também cumprido com outros pontos da agenda globalista: em 2024 decidiu utilizar sistemas de inteligência artificial para “prever futuros crimes” e, logo nos primeiros momentos da sua presidência, voltou atrás com a palavra dada em campanha, ao enviar representantes do seu governo para a cimeira climática COP28.