O presidente dos EUA, Donald J. Trump, está a apelar aos aliados da NATO na Europa para que parem de comprar petróleo russo, enquanto pondera novas sanções contra a Rússia. Em declarações aos jornalistas no fim-de-semana passado, Trump criticou os países europeus por continuarem a importar petróleo russo enquanto os Estados Unidos adoptam uma postura mais firme.

Sublinhando que as sanções europeias à Rússia “não são suficientemente severas”, Trump afirmou:

“Os europeus são meus amigos, mas estão a comprar petróleo à Rússia, por isso não podemos esperar que sejamos os únicos que estão, sabe, a todo o vapor. A Europa está a comprar petróleo à Rússia. Não quero que lhes comprem petróleo.”

O presidente já tinha enfatizado anteriormente, numa publicação no Truth Social, que poderá impor “grandes sanções à Rússia” assim que os outros aliados da NATO apresentarem os seus próprios planos de sanções e terminarem as compras de petróleo russo.

 

 

De acordo com o governo federal americano, a Europa importou 21,9 mil milhões de euros em petróleo russo em 2024. Embora a União Europeia (UE) tenha reduzido a sua dependência da energia russa desde a invasão da Ucrânia, não cessou completamente as importações. Países como a Hungria, a França, a Bélgica e a Espanha continuam a ser importadores significativos, sendo que a Hungria, devido à sua geografia e à infra-estrutura de oleodutos existente, não consegue desvincular-se facilmente do fornecimento energético russo.

Trump destacou ainda a sua disponibilidade para impor novas sanções, afirmando:

“Estou disposto a impor sanções, mas os europeus terão de endurecê-las também de forma compatível com o que estou a fazer”.

Numa carta à NATO, o inquilino da Casa Branca sublinhou que sanções significativas só seriam implementadas quando todos os países da aliança atlântica concordassem em deixar de comprar petróleo russo.

Além disso, Trump instou os países membros da NATO a impor tarifas secundárias de “50% a 100%” à China, o que, segundo ele, poderá ser revertido assim que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia terminar. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, está a apoiar a imposição de tarifas, dizendo aos jornalistas na semana passada:

“Penso que é correcta a ideia de impor tarifas aos países que continuam a fazer acordos com a Rússia”.

Como o ContraCultura já noticiou, a Europa continua a comprar petróleo russo através da índia, perdendo biliões de euros no processo, e a França, por exemplo, continua a comprar crude directamente às energéticas russas. Em Maio de 2024, as receitas de Moscovo com a exportação de petróleo tinham subido 50%.

Ainda assim, não se pode dizer que 21 mil milhões de euros em petróleo russo seja um valor assim tão significativo para todo o bloco europeu, num ano de actividade económica. Na verdade este valor traduz apenas cerca de 10% das importações totais em 2024.

Esta poderá muito bem ser uma manobra de diversão de Trump, que sabe perfeitamente que a Hungria e outros países da UE terão grandes dificuldades em cessar de todo as importações de petróleo russo. Apesar de colocar o seu aliado Viktor Orbán numa situação ainda mais difícil no contexto europeu, a administração americana poderá protelar indefinidamente as sanções a Moscovo, evitando a intensificação das hostilidades, sem perder o argumentário em relação a Bruxelas e mantendo um discurso aparentemente agressivo em relação à operação militar russa na Ucrânia.

Esta será também uma forma de reforçar o braço de ferro comercial com a China e deixar a Europa completamente isolada e dependente política e economicamente dos EUA, sendo que já o é em termos militares.

Vindas de onde vêm, porém, estas declarações serão sempre difíceis de descodificar e avaliar. Até porque, na Casa Branca dos tempos que correm, o que agora é assim, será amanhã assado, dependendo do humor do presidente norte-americano e das pressões que sofre por parte do estabelecimento de Washington.