Charlie Kirk, ativista conservador e fundador da Turning Point USA, foi assassinado em 10 de setembro, durante uma palestra em uma universidade de Utah. O episódio, por si só trágico, tornou-se imediatamente matéria-prima para uma engrenagem ainda mais sinistra: a guerra informacional conduzida por Rússia, China e Irã.

A coreografia é conhecida. Dentro de poucas horas, canais alinhados a Moscou despejavam teorias conspiratórias: democratas culpados, guerra civil iminente, “forças ocultas” no comando. Pequim, sempre ávida em retratar o Ocidente como um manicômio em chamas, amplificava a narrativa da violência endêmica americana. Teerã, por sua vez, não desperdiçou a chance de injetar seu veneno habitual: anti-Israel e antissemitismo de manual.

Nada de novo — apenas o mesmo método de reciclar ruído doméstico e devolvê-lo turbinado ao ecossistema digital global. Em uma semana, a máquina estatal estrangeira já havia mencionado o nome de Kirk mais de seis mil vezes. Não se trata de solidariedade póstuma, mas de engenharia social: testar rachaduras, explorar fraturas, semear caos.

O mecanismo é sempre tripartite: desinformação (a mentira deliberada), misinformation (o erro espalhado por tolos úteis) e malinformation (a verdade torcida para ferir). O alvo, porém, é único: a confiança do cidadão em suas próprias instituições.

O que está em curso é menos propaganda e mais guerra psicológica. Não se busca consenso, mas colapso; não se pretende convencer, mas saturar até a exaustão. A morte de Kirk foi transformada em laboratório de micro-targeting narrativo: diferentes versões para diferentes públicos, da direita conservadora aos grupos LGBTQ+, todos cutucados em seus pontos mais sensíveis.

Não se trata de “notícias falsas”, mas de um arsenal de guerra — e cada cadáver político ou literal é imediatamente transformado em munição.

 

MARCOS PAULO CANDELORO

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Marcos Paulo Candeloro  é graduado em História (USP – Brasil), pós-graduado em Ciências Políticas (Columbia University – EUA) e especialista em Gestão Pública Inovativa (UFSCAR – Brasil). Aluno do professor Olavo de Carvalho desde 2011. É professor, jornalista e analista político. Escreve em português do Brasil.

As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.