E a vida eterna é esta: que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.
João 17:3
O homem ocidental criou um mundo que é hostil para consigo próprio.
Não há lugar para a humanidade na nossa cultura. Não há lugar para a perseguição do belo – a verdadeira missão da arte. Não há lugar para a religião ou a filosofia – fundamentos culturais dos povos. Não há lugar para Deus – razão de ser do cosmos-, nem para a nação nem para a família – pilares da sociedade.
No Ocidente contemporâneo não são permitidas expressões da humanidade subjacente, uma vez que temos de nos submeter à máquina. Ninguém fala sobre a experiência humana, ninguém nos ensina sobre como viver bem ou melhor, porque esses ensinamentos secundarizam a ascensão da máquina.
Ninguém fala sobre o niilismo luciferino das elites, a solidão e o isolamento dos cidadãos, já que não nos consideramos dignos de amor como indivíduos e como sociedade. Já que fomos implacavelmente doutrinados a obedecer aos mandatos das “autoridades”.
A pós-modernidade não leva a sério os nossos próprios sentimentos ou necessidades, permitindo que sejamos explorados como engrenagens de um destino escatológico.
Achamos que a civilização que os nossos avós levantaram, a mais livre e próspera da História, deve ser aniquilada. Não partilhamos quem somos e o que sentimos, não falamos das nossas aspirações e dos nossos medos, porque desprezamos a nossa própria humanidade e responsabilizamo-nos pelos males e as injustiças deste mundo, poupando a esse juízo os verdadeiros criminosos.
Mas por que raio vivemos assim? Não precisamos de viver assim. Podemos ser mestres do nosso próprio mundo, mas, aparentemente, preferimos ser escravos.
Sempre que o niilismo, o autoritarismo, o desespero, a alienação, o isolamento e o empobrecimento nos oprimem, enquadramos o problema do ponto de vista pessoal e não social. Campanhas de propaganda usam termos como “amor-próprio” para promover a consciencialização sobre a saúde mental e centrá-la no eu, quando o cerne do problema é que foi a sociedade ocidental que estabeleceu as condições da degradação psíquica das pessoas. Algo está fundamentalmente arruinado no coração do homem ocidental, porque ele não tem condições de transcendência nem permissão para sentir orgulho, ou esperança, ou ter qualquer poder real sobre a sua vida.
Ao homem ocidental não é dada a hipótese da redenção. Quando muito, é-lhe oferecida a saída indolor mas trágica da conformidade e de um altruísmo que anula a sua própria cultura: odeia-te a ti próprio, entrega-te apaixonadamente àqueles que não falam a tua língua, que não rezam ao mesmo deus, que não partilham a tua cultura.
Vivemos esmagados pela culpa, como que em permanente dívida para com o banco da moral pós-moderna. Vivemos sob o jugo de transhumanistas, cujo objectivo declarado é o de acabar com a espécie Sapiens, porque é na humanidade que reside o último vestígio da gloriosa obra de Deus.
Esta é a verdadeira “ameaça existencial”. Antes de chegarmos ao ponto de não retorno ontológico, é urgente reagir.
E reconhecer que o humano é produto do divino. E assim, sagrado e inalterável.
Paulo Hasse Paixão
Publisher . ContraCultura
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