Donald Trump vai reunir-se com Vladimir Putin, na próxima sexta-feira, no Alasca.

É impossível prever como terminará a cimeira, mas o facto de os dois líderes se encontrarem pessoalmente é um sinal de que o processo de paz pode estar a caminhar na direcção certa. Quanto mais cedo esta guerra terminar, melhor, e as negociações poderão gerar progressos significativos e talvez até uma resolução.

Mas para a imprensa corporativa, a hipótese, mesmo que remota, de um acordo de paz, é uma possibilidade medonha. Repare em algumas das manchetes que têm surgido nos últimos dias.

“Trump corre o risco de parecer mais fraco do que Putin no Alasca — e no palco mundial.”
Mediaite

“Trump está a deixar Putin manipulá-lo, outra vez”
The Washington Post

“Trump está iludido se acha que o seu encontro com Putin é motivo de celebração”
The Telegraph

Na CNN, a cimeira já é um fiasco antes de acontecer.

 

 

A mensagem que os autores destes artigos e os produtores destes segmentos estão a tentar espalhar é que o envolvimento do presidente com a diplomacia é, de alguma forma, uma péssima ideia. O terceiro artigo citado, vindo do ávido e condecorado falcão de guerra John Bolton, diz isto sem rodeios. O encontro entre os dois presidentes pode acabar com a guerra, ou, pelo menos, com o envolvimento dos EUA numa guerra que nada tem a ver com os seus interesses e com os interesses dos americanos: Deus nos livre.

Qualquer líder responsável adoptaria a abordagem de Trump, que até já devia ter tido esta iniciativa mais cedo. Porque é que o presidente americano não pode falar com o seu homólogo russo? Joe Biden tentou a estratégia oposta, que correu super bem, não correu? Em vez de se dar ao trabalho de tentar envolver o Kremlin e pôr fim ao derramamento de sangue na Europa de Leste, a anterior administração optou por rejeitar Moscovo e usar a guerra para promover a sua histérica, estéril e perigosa agenda anti-Putin. Nunca comunicaram com os russos. Nenhuma reunião, nenhum telefonema, nenhuma conversa de bastidores. Isto levou a milhões de mortos e ao fortalecimento da aliança Rússia-China, mas a Casa Branca não quis saber. Tudo o que importava era gabar-se e dar-nos sermões sobre como isso provava a sua aparente superioridade moral.

E mesmo trump tem dado sinais equívocos, ora admoestando Zelensky, ora insultando Putin;. ora garantindo mais dinheiro e armas para a Ucrânia (como se fosse sensato que um auto-proclamado mediador da paz armasse um dos lados da contenda), ora suspendendo esse fornecimento. Está mais que na hora de uma nova abordagem.

Mais uma vez, não sabemos o que resultará desta cimeira. Talvez não resulte nada (é o mais certo). Mas não é esse o ponto. Quer se seja pró-Rússia, pró-Ucrânia ou nem uma coisa nem outra, uma análise honesta da situação mostra que vale a pena tentar a diplomacia. Deveria ter sido a primeira jogada de Washington depois de decidir que precisava de se envolver no conflito desde o início. Poderia ter salvo milhões de vidas. Esperamos que os eventos desta semana corrijam este erro.

 

 

Paulo Hasse Paixão
Publisher . Contracultura