O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) foi declarado “definitivamente de extrema-direita” pela poderosa agência de espionagem nacional, o Gabinete para a Protecção da Constituição (BfV). O partido está a reagir com indignação.

O BfV afirma que o partido está a desenvolver esforços contra a “ordem democrática livre”. Anteriormente, o AfD era apenas declarado como “caso suspeito”, mas esta nova designação abre caminho não só à proibição, mas também à vigilância em massa de todo o partido, incluindo os seus militantes. Com esta nova designação, o BfV pode vigiar os membros do partido político, incluindo os seus e-mails, chamadas telefónicas e conversas, sem mandado judicial. Além disso, o BfV pode agora infiltrar-se legalmente nas fileiras do partido utilizando informadores e outras técnicas de espionagem.

Filiais regionais do AfD já estavam classificadas como “definitivamente de extrema-direita”, mas a nova designação aplica-se agora a nível nacional.

O partido está a reagir com indignação, com Alice Weidel a escrever no X:

“A decisão do Departamento Federal para a Protecção da Constituição é um duro golpe para a democracia alemã!”

Numa declaração formal, Alice Weidel e Tino Chrupalla afirmaram:

“A decisão de hoje do Gabinete para a Protecção da Constituição é um duro golpe para a democracia alemã: nas sondagens actuais, o AfD é a primeira força. O governo federal tem apenas quatro dias de mandato, a agência de inteligência nem sequer tem um presidente. E a classificação de caso suspeito ainda não é juridicamente vinculativa. No entanto, o AfD, enquanto partido da oposição, está agora a ser publicamente desacreditado e criminalizado. A interferência associada e direccionada ao processo democrático tem, portanto, uma clara motivação política. A AfD continuará a defender-se legalmente contra estas difamações que põem em perigo a democracia”.

 

 

O BfV tentou, no seu comunicado, justificar a decisão, que será vista por muitos como um ataque ao maior partido da oposição do país, com o alegado “carácter extremista de todo o partido, que desrespeita a dignidade humana”. Os vice-presidentes da autoridade, Sinan Selen e Silke Willems, indicaram ainda que as declarações e posições do partido “violam o princípio da dignidade humana”.

Um dos principais factores que o BfV tenta utilizar para justificar a designação é a alegada posição do AfD sobre os “alemães étnicos”. A este propósito lê-se no comunicado:

“O entendimento étnico-descendente do povo que prevalece no partido não é compatível com a ordem básica democrática livre. O AfD, por exemplo, não considera os cidadãos alemães com um historial de migração de países predominantemente muçulmanos como membros iguais do povo alemão, tal como definido etnicamente pelo partido”.

O BfV, que durante anos foi liderado por um democrata-cristão que se opunha ferozmente ao AfD, escreve ainda:

O BfV chegou a esta conclusão após uma análise intensiva e exaustiva de peritos. De acordo com o seu mandato estatutário, o BfV teve de avaliar as acções do partido à luz dos princípios fundamentais da Constituição: a dignidade humana, o princípio da democracia e o Estado de direito. Para o efeito, foram examinadas, para além da plataforma e das declarações do partido federal, as declarações e outros comportamentos dos seus representantes, bem como as suas ligações a actores e grupos de extrema-direita”.

 

 

A notícia surge numa altura em que o AfD é o partido número um do país, de acordo com as sondagens nacionais, uma posição que alcançou pela primeira vez. Com o crescimento do partido, os seus rivais democratas estão a ficar cada vez mais preocupados, o que levou a pedidos de proibição por parte não só da esquerda, mas também do tradicional “centro-direita”, que se tem deslocado cada vez mais para a esquerda ao longo dos anos.

 

 

O processo de interdição pode agora avançar.

A decisão do BfV faz parte de um plano para a proibição do partido, com muitos dos chamados “moderados” a esperarem por esta declaração dos serviços secretos para avançarem com uma votação de proibição do partido.

No entanto, ainda não há certeza de que a interdição seja bem sucedida, com muitos membros da CDU cépticos quanto à proibição do partido mais popular do país, bem como algumas personalidades da esquerda.

As tentativas anteriores de proibir o NPD, um outro partido de direita, não tiveram êxito, com o tribunal superior a argumentar que o partido não era suficientemente grande para representar uma ameaça séria à ordem democrática. Também foram levantadas questões sobre o número excessivo de informadores, o que dificultou a determinação de quanto do extremismo no partido se devia aos informadores e não aos próprios membros da agremiação política.

Em contrapartida, o AfD será actualmente o partido mais popular do país.

 

Administração Trump protesta.

Entretanto, a administração americana reagiu a esta notícia com alguma virulência. Marco Rubio, por exemplo, afirmou:

“A Alemanha acabou de dar poderes à sua agência de espionagem para vigiar a oposição. Isto não é democracia. É tirania disfarçada. O que é verdadeiramente extremista não é o popular AfD – que foi segundo nas recentes eleições – mas antes as mortais políticas de imigração de fronteira aberta. A Alemanha deve inverter o rumo.”