Os Estados Unidos estão actualmente em negociações com as forças iemenitas apoiadas pela Arábia Saudita (que há muito lutam contra os rebeldes Houthi) para montar uma nova ofensiva terrestre contra o grupo xiita que é aliado do Irão.

A infeliz ideia surge cerca de um mês depois do primeiro ataque aéreo contra os Houthis, uma operação encomendada pelos sionistas e ordenada pelo Presidente Donald Trump que não atingiu o seu objectivo de acabar com os ataques à navegação no Mar Vermelho, uma rota comercial vital.

Os EUA estão agora a considerar um ataque terrestre, uma vez que os Houthis provaram ser impossíveis de desalojar apenas através de ataques aéreos, que têm sido intensos e contínuos desde 15 de Março.

As forças iemenitas que a Casa Branca quer lançar para a guerra estão ligadas ao Conselho de Liderança Presidencial (PLC) do antigo presidente do Iémen, Abd-Rabbu Mansour Hadi. O PLC é o governo “reconhecido internacionalmente”, mas que está agora baseado na Arábia Saudita (no exílio), uma vez que os Houthis controlam de facto a maior parte do país.

A coligação saudita-UAE-EUA já tinha travado uma guerra aérea e terrestre por procuração entre 2015 e 2022, que matou centenas de milhares de pessoas e bloqueou recursos vitais para a população faminta, mas toda a campanha não fez nada para expulsar os Houthis – na verdade, muito pelo contrário, uma vez que eles se entrincheiraram nos locais estratégicos mais importantes.

Mercenários americanos já estão a ser utilizados para coordenar as facções anti-Houthi no terreno e os EUA estão abertos a apoiar uma operação terrestre das forças locais, segundo disseram funcionários norte-americanos, embora tenham salientado que ainda não foi tomada uma decisão sobre o apoio a esse esforço.

Os contratantes privados de segurança americanos aconselharam as facções iemenitas sobre uma potencial operação terrestre, segundo pessoas envolvidas no planeamento. Os Emirados Árabes Unidos, que apoiam estas facções, abordaram o plano com as autoridades americanas nas últimas semanas.

 

 

É claro que isto já foi tentado antes e falhou completamente. Desta vez, os Houthis estão ainda mais encorajados, uma vez que possuem mísseis balísticos e drones capazes de atingir tanto Israel como os navios de guerra dos EUA no Mar Vermelho.

E se juntarmos a isto empreiteiros privados americanos, que tentam ser bem sucedidos naquilo que a coligação americano-saudita no Iémen não conseguiu fazer durante meia década, temos um plano mal cozinhado que será certamente um desastre, como todos os processos bélicos de mudança de regime em que os EUA se enfiam.

(O Contra abre aqui este parêntesis para perguntar ao estimado leitor: quando é que uma acção de mudança de regume orquestrada pelos Estados Unidos deu bons resultados para o país visado ou o mundo em geral?

Nunca. A resposta é nunca.)

Seria óptimo que os americanos aprendessem qualquer coisa com as suas recentes experiências na Somália, na Líbia, no Afeganistão e na Síria (este último caso correu mesmo bem). E o facto de estarem a ponderar a utilização de proxies e mercenários, e não de forças regulares dos EUA, não garante de todo que tudo isto não acabe no costumeiro caos. Mesmo que se comprometam com uma operação terrestre “limitada” utilizando forças terceiras, há sempre a possibilidade de uma escalada séria que conduza o Pentágono para um conflito directo, no terreno. Toda a campanha no Iémen parece ser uma situação sem saída airosa e, em última análise, será sempre para maior benefício de Israel – e não necessariamente de Washington. E muito menos dos desgraçados iemenitas.

Mas as coisas são como são e os Estados Unidos da América precisam da guerra como de pão para a boca.