Dentro do Departamento de Estado, trava-se uma batalha sobre como implementar a agenda do presidente Donald Trump para desmantelar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

Funcionários da administração Trump confidenciaram que o Departamento de Estado está dividido em duas facções, entre os que são principalmente leais ao presidente e os que estão alinhados com senadores republicanos do establishment de Washington que são avessos aos cortes na USAID. O Secretário de Estado Marco Rubio tem estado sob pressão dos seus antigos colegas do Senado para não desmantelar totalmente a USAID e não quis inicialmente assumir a tarefa quando foi solicitado por Elon Musk e pelo seu Departamento de Eficiência Governamental (DOGE).

O corte de gastos supérfluos tem sido uma das principais prioridades de Trump e do DOGE e, desde o início, a USAID foi uma das primeiras agências visadas. No entanto, o processo de o fazer tem sido aparentemente controverso.

Um funcionário da administração revelou:

“Quando recebíamos uma chamada de um senador ou congressista, de repente Mike Needham e Dan Holler diziam: ‘Meu Deus, é melhor fazer isto. É melhor dar a este membro o que ele quer’. Eles nem sequer vacilam em função das ordens executivas emitidas pelo Presidente. Pelo contrário, é como se nunca tivessem acontecido”.

Needham, antigo chefe de gabinete de Rubio no Senado, desempenha agora a mesma função no Departamento de Estado. Holler é o seu chefe de gabinete adjunto.

Um segundo funcionário da administração Trump também identificou Needham como um interlocutor-chave entre os senadores que fazem lobby contra os cortes e Rubio, afirmando que muitos senadores têm interesse em manter vivos os projectos de estimação que são financiados pela USAID, e daí o lobby junto do Secretário de Estado. A fonte acrescentou que o próprio Rubio pode querer manter vivos alguns desses programas com a esperança de trazer a USAID de volta a longo prazo.

Esses senadores incluem alguns do comité de apropriações, que fizeram forte pressão junto do Departemento de Estado e da sua equipa para reduzir os cortes da USAID, com algum efeito. Entre os senadores republicanos que fazem parte da comissão estão os suspeitos do costume: o senador do Kentucky, Mitch McConnell, e o senador da Carolina do Sul, Lindsey Graham, entre outros.

Mesmo depois de extensas revisões e planos para cortar certos programas por parte dos funcionários, Rubio por vezes interveio para se opor aos cortes, depois de sofrer pressões do Senado.

Um funcionário do Departamento de Estado negou entretanto estes rumores e apontou para uma declaração de Março do Departamento sobre o trabalho que estão a fazer para acabar com a USAID até Setembro. O funcionário disse que a equipa do DOGE tem trabalhado em conjunto com o departamento e sem grandes conflitos, e que os cortes estão a decorrer como planeado, e que qualquer confusão sobre isso é “categoricamente falsa”.

No entanto, outras fontes afirmam que as tensões entre o DOGE e Marco Rubio são factuais, já que o Secretário de Estado não estava interessado em supervisionar directamente o esvaziamento da USAID, quando pressionado nesse sentido por Elon Musk e pelo DOGE. Pete Marocco foi assim chamado para liderar o processo de eliminação da agência, trabalhando com o DOGE.

Porém, Marocco já não trabalha no Departamento de Estado, sem que grandes justificações tenham sido dadas pelo sucedido.

Nos últimos dias, alguns membros da equipa que está a trabalhar na redução da USAID saíram do edifício do Departamento de Estado e foram para o edifício da USAID, ou faltaram ao trabalho por doença, alegadamente devido a não poderem fazer o seu trabalho sem entraves no Departamento de Estado. Alguns mudaram-se enquanto ponderavam se ainda haveria oportunidades suficientes para implementar a agenda do Presidente e sentiam que precisavam de um local seguro para trabalhar sem medo de serem vigiados.

 

O projecto DOGE teve mais olhos que barriga.

Entretanto, Elon Musk reduziu substancialmente os seus ambiciosos objectivos de redução de despesas no governo federal. Musk tinha prometido cortes substanciais no orçamento, apontando inicialmente para uma redução de 2 triliões de dólares. Após a sua nomeação para dirigir o DOGE, as expectativas foram reduzidas para 1 trilião de dólares,

No entanto, na reunião do executivo de Abril, o CEO da Tesla e da SpaceX reduziu ainda mais as suas previsões, citando apenas 150 biliões em economias antecipadas com o corte de desperdício e fraude para o ano fiscal de 2026, o que para todos os efeitos representa uma redução de 92% em relação aos cortes originalmente prometidos.