Donald Trump anulou um plano israelita para atacar as instalações nucleares do Irão, sugerindo a Benjamin Netanyahu que lançasse o ataque sozinho. Por uma vez, os sionistas cederam.

O presidente dos EUA suspendeu um ataque israelita planeado contra as instalações nucleares do Irão em favor da reabertura de conversações diplomáticas com Teerão. A decisão seguiu-se a meses de debate interno no seio da administração Trump, uma vez que o governo de Benjamin Netanyahu pressionou no sentido de uma campanha militar para atrasar as ambições nucleares do Irão em pelo menos um ano.

O relatório baseou-se em conversas com numerosos funcionários norte-americanos e israelitas, muitos dos quais falaram sob condição de anonimato devido à sensibilidade do planeamento militar.

O ataque israelita proposto, originalmente previsto para Maio, teria combinado uma campanha de bombardeamento prolongada com um ataque de comandos visando as instalações nucleares subterrâneas. No entanto, os líderes militares israelitas afirmaram que a missão não estaria pronta antes de Outubro, o que levou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a favorecer um ataque aéreo mais rápido que exigisse o apoio logístico e defensivo dos EUA.

Quando informado das propostas, Trump rejeitou a açcão militar. Numa recente reunião com Netanyahu na Sala Oval, anunciou que os EUA iriam iniciar conversações nucleares directas com o Irão, as primeiras sob a sua presidência. A primeira ronda de negociações teve lugar em Omã, no sábado passado, e foi descrita por ambas as partes como “positiva” e “construtiva”. Está prevista uma segunda reunião em Roma.

“Um acordo com o Irão só funcionará se permitir que os signatários entrem, façam explodir as instalações, desmontem todo o equipamento, sob supervisão americana e com execução americana”, disse Netanyahu, em hebraico, após a reunião.

Trump, que durante o seu primeiro mandato se retirou unilateralmente do acordo nuclear com o Irão firmado em 2015 por Barak Obama, procura agora um novo acordo com um prazo limitado para negociação. A sua decisão reflecte aparentemente alguma relutância em envolver-se noutro grande conflito no Médio Oriente.

Numa reunião realizada este mês – uma das várias discussões sobre o plano israelita – Tulsi Gabbard, a directora dos serviços secretos nacionais, apresentou uma nova avaliação dos serviços secretos que afirmava que a acumulação de armamento americano no Médio Oriente poderia potencialmente desencadear um conflito mais vasto com o Irão, indesejável neste momento para os Estados Unidos.

Vários funcionários fizeram eco das preocupações de Gabbard nas várias reuniões. Susie Wiles, a chefe de gabinete da Casa Branca; o Secretário da Defesa Pete Hegseth; e o Vice-Presidente JD Vance, todos manifestaram dúvidas sobre a pertinência do ataque.

Mesmo a criatura do pântano Michael Waltz, frequentemente uma das vozes mais agressivas em relação ao Irão, mostrou-se céptico quanto à possibilidade do plano israelita ser bem sucedido sem a assistência americana.

Tulsi Gabbard disse no mês passado, perante o Congresso:

“A comunidade de inteligência dos EUA continua a avaliar que o Irão não está a construir uma arma nuclear e que o líder supremo Khamanei não autorizou o programa de armas nucleares, que suspendeu em 2003.”

Ainda assim, Donald Trump tem feito tudo o que Israel manda desde que reassumiu o cargo e é inteiramente possível que aprove tal ataque num futuro próximo, como fez com o assassinato de Qasem Soleimani durante seu primeiro mandato.

Uma guerra com o Irão, no entanto, apresenta riscos: se o país islâmico for levado aos seus limites pela agressão israelita/americana pode ripostar e tornar-se um inimigo formidável. Basta pensar no que se passou no Afeganistão, para perceber que os EUA, já  sobrecarregados com as guerras na Ucrânia, em Gaza e no Iémen, poderão ter grandes dificuldades em defrontar uma potência regional, fortemente armada e organizada como o Irão, já para não falar que a Casa Branca não tem qualquer mandato eleitoral para fazer guerras seja onde for: o eleitorado “America First” não tem manifestamente nenhum apetite por novos ou eternos conflitos.

Ainda assim: