Viver vai matar-te. Este parece ser um princípio fundamental da visão do mundo dos bois que os poderes instituídos estão a criar.

Curiosamente, porém, a manada parece temer o que não deve e confiar no que deve temer. A manada teme o sal, mas não as vacinas mRNA. Teme o sol, mas não a radiação das antenas 5G e dos monitores dos computadores. Teme a ‘toxicidade do homem branco’, mas não a criminalidade do imigrante.

Os bois entram em pânico com uma vulgar tempestade de Inverno, mas sentam-se tranquilamente com os filhos num estádio a abarrotar e mesmo ao lado de mil e quinhentos macacos excitados de uma claque de futebol.

A manada está até disposta a uma guerra com a Rússia. Mas concorda com limites de velocidade de 50 kms/h.

O cão não pode andar solto no parque, mas o violador de crianças pode passear-se nas imediações das escolas.

Um dia na praia sem protector solar dá garantidamente direito ao cancro, mas os comprimidos para dormir nunca foram um negócio tão rentável.

Hoje em dia, vemos esta estranha dicotomia a manifestar-se por todo o lado. As pessoas parecem ter perdido a verdadeira definição de saúde – e de segurança – que não é, como parecem pensar, “evitar todos os riscos”. Se estivessem realmente a evitar “todos os riscos”, não comeriam cheeseburgers, nem injectariam terapias genéticas experimentais nos seus corpos.

Há até algumas cabeças de gado que vivem na esperança de evitarem a morte, o que será talvez o mais estúpido de todos os credos. Há até alguns quadrúpedes que, desconhecendo os males da idade avançada, perseguem estilos de vida que lhes permitam morrer de velhos, ou muito velhos mesmo, o que será talvez o maior equívoco de todos os mal entendidos.

Vivemos o apogeu da Protecção Civil, essa máquina de disseminar o medo da natureza. Enquanto ensinam aos nossos filhos que a espécie humana é constituída por 52 géneros e a hora do conto é interpretada por um travesti com uma saia rodada que lhe deixa ver os testículos.

Mas é esse o problema, não é? As pessoas já não conseguem distinguir entre o que é verdadeiramente perigoso e o que não é. Mais a mais, o que é seguro pode ser muito pouco saudável e o que é saudável pode ser um tanto arriscado. Em última análise, viver é um risco, mas se não o aceitarmos, que vida experimentamos?

Acresce que a saúde e a segurança são vectores que atravessam contextos não fisiológicos, como a moral e a cultura. Quem não sabe distinguir o que é perigoso do que é pacífico também não sabe diferenciar o que é vil do que é virtuoso. E uma sociedade sem valores é doente. E um país sem identidade corre o risco de desaparecer do mapa. Mas as pessoas não parecem interessadas em cuidar dessas super-estruturas, mesmo que a sua ruína seja a primeira ameaça à sobrevivência da espécie.

Vivemos o apogeu da Protecção Civil, mas na verdade nunca fomos tão vulneráveis. Qualquer ‘cisne negro’ pode levar rapidamente esta civilização de flores de estufa à erradicação total.

A resposta fácil a este paradoxo em que vivem cercados os bois, é que as elites leninista-globalistas estão decididas a treinar o gado para responder a certas coisas de uma certa maneira, independentemente de quão insensata e alienada essa resposta possa ser. Que melhor maneira de forçar a obediência à autoridade?

Emocional e operacionalmente dependentes dos conselhos, das advertências, dos mandatos e dos subsídios das autoridades corporativas, esplendidamente incubados de medos e receios espúrios, elaboradamente confundidos sobre a natureza da realidade e a autenticidade das ameaças com que os bombardeiam, os bois sapiens são os melhores mamíferos ungulados que um criador de gado pode ter. Até porque seguem alegre e obedientemente no sentido do matadouro a pensar que caminham na direcção da erva fresca da pradaria, esse amanhã que canta, sem que alguma vez se tenha ouvido a canção.

Mas esta abordagem, se bem que correcta, é excessivamente simplista. E o fenómeno pode resultar apenas da evolução de uma cultura empenhada em tornar a vida fácil, cómoda e preguiçosa. A agenda globalista pode limitar-se a aproveitar a pulsão humana natural e estar a usá-la em seu proveito. É interessante notar que a maioria das pessoas que constituem a “elite” correm grandes riscos pessoais: Voam à volta do mundo nos seus jactos multimilionários, expõem-se ao perigo dos países estrangeiros em guerra e dos comícios com atiradores escondidos em telhados, escorregam velozmente nas pistas de esqui de Chamonix e conduzem carros velozes. São figuras públicas, o que por definição é um estatuto deveras perigoso. Mas conhecem as vantagens de viver a vida ao máximo. É apenas a plebe que dever ser conduzida a um restrito e monitorado canto do inferno, onde a prometida segurança arde eternamente.

Suponho que todos estes perigos inócuos nos são enfiados pela garganta abaixo como distracções. Coisas para as quais somos alertados para provar que as ‘autoridades’ têm, de facto, os nossos melhores interesses no coração, enquanto os verdadeiros perigos ainda estão à espreita nas sombras.

Na verdade, muitos desses perigos já nem sequer estão nas sombras, porque a manada cegou e já não é preciso escondê-los.

Mas existem. Reais. Poderosos. Inesperados. E estão nas mãos de quem nos promete salvaguardas.

 

 

Paulo Hasse Paixão
Publisher . ContraCultura