Kaja Kallas, a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, atacou o Presidente Donald J. Trump e o Vice-Presidente J.D. Vance por alegadamente serem “amigos” da Rússia e fazerem eco das “narrativas e argumentos russos” sobre a guerra na Ucrânia. Kallas, ex-primeira-ministra da Estónia, também reagiu às observações do vice-presidente Vance sobre a erosão da liberdade de expressão na UE, afirmando que este é “um dos valores fundamentais da União Europeia”, apesar de as restrições à liberdade de expressão serem endémicas em todo o bloco.

Sobre as declarações de Vance, a diplomata afirmou:

“Foi muito surpreendente. Porque é que ele atacou e disse que temos um problema com a liberdade de expressão, quando este é um dos valores fundamentais da União Europeia? Recuso-me a aceitar essa crítica porque simplesmente não é verdade.”

Ficámos assim a saber que Kallas vive em Marte. Embora o livre discurso esteja supostamente garantido pelo artigo 10º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, a Convenção refere que a liberdade de expressão está

“sujeita às formalidades, condições, restrições ou sanções previstas na lei e que sejam necessárias numa sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da integridade territorial ou da segurança pública, para a prevenção da desordem ou da criminalidade, para a proteção da saúde ou da moral, para a proteção da reputação ou dos direitos de outrem, para impedir a divulgação de informações recebidas a título confidencial ou para manter a autoridade e a imparcialidade do poder judicial”.

Isto permitiu aos governos europeus introduzir uma série de restrições ao chamado discurso de “ódio”, bem como leis de blasfémia de facto que protegem o Islão. Em alguns países, incluindo a França e a Alemanha, o mero insulto a políticos pode resultar em rusgas da polícia e acusações criminais.

Os comentários de Kallas surgem no meio de relações tensas entre a UE e os EUA, sublinhadas pelo cancelamento abrupto de uma reunião planeada com ela na quarta-feira pelo Secretário de Estado Marco Rubio. O Departamento de Estado atribuiu a decisão a “razões de agenda”, mas os diplomatas europeus suspeitam de motivos políticos por parte da equipa de Trump. “É preciso perguntar-lhe porque cancelou”, queixou-se Kallas, acrescentando em referência às negociações de paz da administração Trump com a Rússia:

“As declarações feitas em relação a nós são bastante fortes. As declarações em relação à Rússia são muito amigáveis. É uma mudança. Eles podem falar com Putin o quanto quiserem, mas para que qualquer tipo de acordo seja implementado, eles precisam dos europeus, e se os europeus ou ucranianos não concordarem com isso, então qualquer acordo não funcionará. As declarações [de Trump] sobre a Europa são muito fortes e a questão é: porque é que são tão fortes? Quero dizer, de onde é que tudo isto vem?”

Vem da verdade dos factos. E Kallas está a sonhar alto quando diz que os europeus são precisos para um acordo de paz na Ucrânia. Só há uma nação que é precisa para um acordo paz na Ucrânia. Tem capital em Moscovo.

 

“O mundo livre precisa de um novo líder”.

No dia seguinte, Kaja Kallas decidiu voltar à carga, para sua desgraça, afirmando na sexta-feira, no rescaldo da cataclísmica visita de Zelensky à Casa Branca, que ficou claro que “o mundo livre precisa de um novo líder”, acrescentando que os europeus deveriam “aceitar esse desafio”. A diplomata escreveu na plataforma X:

“A Ucrânia é a Europa! Nós apoiamos a Ucrânia. Vamos reforçar o nosso apoio à Ucrânia para que possa continuar a lutar contra o agressor. Hoje, ficou claro que o mundo livre precisa de um novo líder. Cabe-nos a nós, europeus, aceitar este desafio.”

O “mundo livre” onde eleições com resultados inconvenientes são anuladas. O “mundo livre” em que os cidadãos não podem dizer o que pensam nas redes sociais. O “mundo livre” em que os povos são despojados de todos os seus direitos por causa de uma gripe. O “mundo livre” em que os estados, as empresas e a imprensa trabalham em uníssono corporativo. O “mundo livre” em que ninguém elegeu a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança nem a sua chefe von der Leyen. O líder deste “mundo livre” terá que ser um tirano. Lamentavelmente, haverá muitos candidatos, no Ocidente.

Os comentários da burocrata da UE surgem no momento em que vários líderes europeus expressaram solidariedade para com Zelensky, depois deste ter sido literalmente corrido da Casa branca.