Nos recentes e duros tempos que atravessei, costumava passear pelos pastos de onde vivia e aproveitava a solidão absoluta para perder-me em pensamentos, dos quais saíram-me três livros e inúmeros artigos. Tal hábito ainda mantenho e, sabe-se lá por quais razões, meu cérebro funciona muito melhor ao caminhar sem destino, preferencialmente solitário. Deste modo, colecionei alguns poucos delírios – frutos de tal hábito – e, com as devidas e prévias desculpas, os apresento ao amigo leitor neste domingo ocioso.

 

CONSERVADORISMO É IDEOLOGIA?

Sempre existiu a discussão se o bom senso, o senso comum, a sabedoria popular poderiam ser considerados como uma das gêneses da filosofia.

Obviamente existem os que os defendem, bem como os que repudiam, mas adivinhem quais tipos de filósofos defendem ou negam uma e outra?

Evidentemente filósofos conservadores aceitam e abraçam o bom senso enquanto os pensadores esquerdistas o repudiam – pois não é possível criar ideologias quando temos a tradição como base.

Conservadorismo não é ideologia. É o resultado do aprendizado humano, durante séculos. Liberalismo não é ideologia. É, no máximo, um pensamento econômico. Já o “progressismo”, a esquerda, é o desejo individual de um grupo para que o mundo se curve às suas idiossincrasias.

Então não diga que “minha ideologia é direitista” se você é conservador e não sofre desta doença chamada “ideologia”, pois apenas defendemos que a vida humana em sociedade seja como sempre foi.

 

SOCIEDADE

A sociedade é uma criação do homem, fruto de seu instinto gregário e da necessidade de proteção.

Naturalmente, regras e padrões surgiram para balancear os individualismos, os abusos, omissões e frear aquilo que passou a ser considerado crime. Assim sendo, é perfeitamente normal – uma obrigação moral, diria – que o indivíduo se ajuste a sociedade, jamais tendo a pretensão que a mesma se ajuste a seus gostos, egoísmos, taras ou preferências.

Elementos que assim agem, impondo seus gostos aos demais e criminalizando a natural repulsa aos mesmos, são sociopatas egoístas, infelizmente elevados pela mídia ao posto de “inovadores, à frente do seu tempo”.

Nós, que respeitamos hábitos e gostos frutos de um consenso de milênios, somos acusados de “preconceituosos, retrógrados”, apenas por reprovamos absurdos de egocêntricos exibicionistas.

O homem deve se ajustar a sociedade, nunca a sociedade ao homem, pois isso é personalismo totalitário.

 

QUEM SOIS VÓS?

Quem é você, na verdade?

O que você mostra em público ou o que você jamais poderá esconder de Deus?

Não reclame da falsidade das relações humanas: a mentira começa quando você prefere apresentar seu personagem das redes sociais do que sua essência de alma.

Você tem livre arbítrio, podendo escolher o que mostrar e do que se envergonhar.

 

A PALAVRA MAIS CERTA

A dificuldade de entendermos Deus deve-se, basicamente, ao fato da Divina Essência transcender o conteúdo significativo de qualquer palavra existente – e isto é óbvio: pudéssemos compreendê-lo e toda sua grandeza se reduziria ao meramente humano.

Com isso, torna-se claro o valor que precisamos dar a preservação da língua portuguesa tal como ela é: não conseguimos racionalizar sobre aquilo que não dispomos de palavras para significar.

Novidades como “todes” ou desvios como o termo “inclusão” (ambos aqui, no Brasil. Não os sei na Europa) são propostos com dolo, restringindo sua capacidade de compreensão ao diminuir suas ferramentas gramaticais para tal.

 

VOCÊ É MARXISTA?

Marxista é quem leu Karl Marx. Anti-marxista é quem o leu e entendeu.

Simples assim.

 

A DIDÁTICA DA CHINELADA E AS VOCAÇÕES

Penso que a didática exige amor e paciência infinitos com os que apresentam dificuldades. Já a conscientização doutrinária vale-se da discriminação pura e simples aos recalcitrantes. Expurgo, exclusão e é o que vemos nas salas de aula, hoje.

Por outro lado, jamais imaginei-me professor. Minha megalomania levou-me ao jornalismo, a catarse da didática ditatorial.

Quem nunca acreditou ser a voz da verdade jamais sentará em uma redação.

 

BELEZA

Não confunda estética com conjuntivite.

A beleza não está nos olhos de quem vê, está no que acolhe, inspira e eleva nossa alma.

Ars gratia artis é conversa de cego que se acha um “artista inovador”.

 

 

WALTER BIANCARDINE
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Walter Biancardine foi aluno de Olavo de Carvalho, é analista político, jornalista (Diário Cabofriense, Rede Lagos TV, Rádio Ondas Fm) e blogger; foi funcionário da OEA – Organização dos Estados Americanos.

As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.