O mundo civilizado e pensante assiste, com alívio comedido, os primeiros sinais da derrocada “woke” nas indústrias e, por consequência, em suas propagandas. Do mesmo modo artistas, como o inefável Clint Eastwood – do alto de seus 94 anos – ainda aspira a volta de bons filmes, do entretenimento puro, e tem conseguido reunir à sua volta alguns outros (poucos) renomados atores, para que produzam películas realmente dignas de serem vistas, não mais o descarado discurso ideológico-identitarista, tal qual as atuais.
Confesso ignorância por não saber se outras iniciativas semelhantes, de outros artistas ou mesmo intelectuais, escritores, propagandistas, músicos – o que seja – está em curso. Os dois pífios exemplos acima foi tudo o que consegui reunir de pronto, sem o auxílio de maiores pesquisas. E esta é minha preocupação.
Nietzsche, apesar de minhas reservas com o mesmo, já dizia algo muito certo quando afirmava que só se vence aquilo que se substitui. Meras e óbvias razões de mercado, somadas a um acaso social de rejeição, fizeram com que algumas indústrias e pouquíssimos produtores culturais deixassem o “wokismo” de lado, é certo. Mas, o que temos para substituí-lo? Pior: o que podemos oferecer para ocupar o vasto lugar da pesada – e centenária – pandemia doutrinária esquerdista, nas artes e na cultura mundial? As pessoas anseiam por tal substituição, mas nada lhes é oferecido.
Se, no Brasil, a esquerda vê-se hoje culturalmente em xeque-mate, tal se deve exclusivamente ao filósofo Olavo de Carvalho, que não se limitou a apontar o dedo para as mazelas vermelhas, xingá-las ou acusá-las mas, essencialmente, ao poderoso fato de ter aberto um verdadeiro e amplo horizonte de ideias disponíveis. Sem nada para colocarmos no lugar da cultura popular comunista, dizia Olavo, estaremos apenas fazendo buracos n’água. E ia além: “Se, ao invés de apenas falarem de Bolsonaro (então Presidente do Brasil) em comentários políticos, tais pessoas escrevessem peças de teatro, shows ou filmes, tudo estaria melhor”. E dizer que “Olavo tem razão” é, hoje, pleonasmo.
Que todo aquele envolvido nas áreas da cultura, do entretenimento, jamais perca tal pensamento. Acrescento ainda os responsáveis pelo design – estilo – das mais diversas coisas ao nosso redor, de roupas a automóveis, passando pelo mobiliário doméstico à arquitetura, pois tudo isso cria a inevitável “sensação conjuntural” – se tudo ao redor é feio e apocalíptico, deprimimo-nos, aviltamo-nos e nos tornamos promíscuos, tal qual a esquerda quer – e para os que me creem exagerado, sugiro a leitura do sempre necessário Sir Roger Scruton, e sua defesa veemente da beleza.
Privilegiada é uma Europa, anfitriã de invernos gélidos os quais favorecem a introspecção, o intelecto e a criação – impossível estudar com gotas de suor pingando por sobre as páginas de um Platão. Usem o que Deus lhes deu, valham-se das circunstâncias favoráveis e jamais – jamais – se deixem levar pelo comodismo e indolência, tipicamente tropicais.
Se queremos que tudo volte a ser como sempre foi, pois então os embalem para presente. Escrevam sobre isso, criem romances, façam filmes, projetem casas, desenhem eletrodomésticos, roupas, o que for – mas façam!
Ou serão apenas como brasileiros, sempre esperando que alguém, mais corajoso, tome a iniciativa.
WALTER BIANCARDINE
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Walter Biancardine foi aluno de Olavo de Carvalho, é analista político, jornalista (Diário Cabofriense, Rede Lagos TV, Rádio Ondas Fm) e blogger; foi funcionário da OEA – Organização dos Estados Americanos.
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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