É recorrente a estranheza de quem ouve ou lê tal sentença, a qual reflete meu pensamento e que, inclusive, expressei em meu romance “Pretérito Perfeito”. Assim, por questões de brevidade começarei comentando a liberdade, reproduzindo o que recentemente escrevi em outro artigo.
“A liberdade não é um direito: ela é uma condição natural, inerente à existência do ser humano, que não pode ser negociada, condicionada ou concedida a ninguém, seja através da adesão a ideologias, crenças ou filosofias de vida. O homem é um animal gregário, seu DNA o impele à vida em sociedade tal qual formigas, elefantes ou macacos; enquanto ajustado ao meio social circundante, tal liberdade será desfrutada de forma natural e inquestionável.”
Desde modo, a liberdade é uma condição que nos foi dada por Deus e cuja única possibilidade de privação será o comportamento prejudicial de um indivíduo ao grupo social. Esta pena, presente na Palavra Revelada, reflete-se na criação humana das leis que, igualmente, preveem o afastamento do delinquente do convívio em sociedade.
Declarar que “queremos liberdade” é apenas um slogan pueril, palavra de ordem política ou reflete a absoluta falta de consciência de si mesmo, de sua real presença ontológica e da ciência que esta mesma liberdade é inversamente proporcional aos nossos afetos, necessidades de sobrevivência e, até mesmo, bens. Tudo se resume a uma questão de ter a coragem de escolher.
Já a democracia deve ser analisada sob ótica bastante semelhante à felicidade, pois ambas – de maneira alguma – podem ser encaradas como “objetivo”, sendo as mesmas a evidente consequência de nosso viver, dos atos ou escolhas por nós praticados ao longo da vida.
Quem encara qualquer um dos dois conceitos acima como objetivo está, simplesmente, rebaixando de forma materialista e condicional algo que, teoricamente, só seria alcançado SE tal coisa for comprada, feita ou concedida: “Só serei feliz se comprar aquela casa” ou “conseguir a promoção no trabalho é a única maneira de ser feliz”, ou ainda “preciso me casar com ela, só assim serei feliz”.
Para piorar, terceiriza a estranhos – no caso da democracia, especificamente – a possibilidade de vivê-la, pois crê ser responsabilidade de outrem (parlamentares, juízes, etc.) algo que está, evidentemente, em suas mãos; o esquecimento de suas escolhas ao votar, eleger ou rejeitar alguém em cujas mãos a pessoa entrega esta possibilidade – viver uma democracia – reflete a fuga completa de suas responsabilidades sociais.
Ambos – democracia e felicidade – são consequências diretas do que fazemos ao longo da vida. Se escolhemos representantes e governantes com prudência e sabedoria, o resultado ao longo do tempo nos trará, inevitavelmente, a democracia.
Igualmente, se tomamos decisões sábias para nossas vidas – um bom e honesto trabalho, onde possamos expressar aquilo ao qual somos vocacionados; a escolha de uma boa esposa ou marido, cientes de que naturalmente cederemos (com amor) boa parte de nossa liberdade – definirão uma trajetória a qual, um belo dia e sentado à sua varanda com um café nas mãos, você refletirá e certamente concluirá: – “Sim, eu sou feliz”.
A preguiça em pensar, preconceitos ou mesmo opiniões de terceiros, travestidas de “experiência de vida” nos trazem mais fracassos que a simples má sorte – e de nada adiantará culpar-se; você errou o alvo.
WALTER BIANCARDINE
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Walter Biancardine foi aluno de Olavo de Carvalho, é analista político, jornalista (Diário Cabofriense, Rede Lagos TV, Rádio Ondas Fm) e blogger; foi funcionário da OEA – Organização dos Estados Americanos.
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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