Uma funcionária da FEMA ordenou aos trabalhadores da agência que evitassem as casas dos apoiantes de Donald Trump enquanto inspeccionavam os danos causados pelo furacão Milton na Florida, de acordo com correspondência interna obtida pelo The Daily Wire e confirmada por vários funcionários federais.

 

Uma supervisora da FEMA disse aos trabalhadores, numa mensagem electrónica, para “evitarem as casas que publicitem Trump”, enquanto eles vasculhavam Lake Placid, na Flórida, para identificar os residentes que poderiam qualificar-se para ajuda federal, segundo revelam mensagens internas obtidas pelo The Daily Wire. A supervisora em causa, Marn’i Washington, transmitiu esta mensagem tanto verbalmente como num grupo de conversação utilizado pela equipa de socorro, segundo testemunharam vários funcionários do governo federal.

Os funcionários do governo afirmaram que pelo menos 20 casas com cartazes ou bandeiras de Trump foram ignoradas a partir do final de Outubro e até Novembro devido à directiva, o que significa que não tiveram a oportunidade de se qualificar para a assistência da FEMA. Imagens partilhadas com o The Daily Wire mostram que as casas foram ignoradas pelos trabalhadores, que escreveram no sistema de rastreio governamental mensagens como: “Símbolos de Trump. Não entrar por ordem [da chefia]”.

Não se sabe se a mesma orientação foi emitida noutros locais do país. Os funcionários faziam parte de uma equipa do Departamento de Segurança Interna (DHS), o que significa que se voluntariaram a partir de outras agências do DHS para ajudar a FEMA, que tinha pouco pessoal, a lidar com um segundo grande furacão num espaço de apenas algumas semanas. Um dos funcionários afirmou:

“Sabia que tinham falta de pessoal, pensei que podíamos ir ajudar e fazer a diferença. Quando lá chegámos, disseram-nos para discriminar as pessoas. É quase inacreditável pensar que alguém no governo federal ache que isso é correcto”.

O funcionário disse que parecia errado discriminar os apoiantes de Trump quando estes se encontravam “mais vulneráveis”, acrescentando:

“Ofereci-me como voluntário para ajudar as vítimas de catástrofes, não para as discriminar. Não importa se as pessoas são negras, brancas, hispânicas, se são a favor de Trump ou de Harris. Toda a gente merece o mesma nível de ajuda”.

A orientação surgiu no momento em que o governo Biden foi criticado pela sua lenta resposta ao furacão Helene nas áreas rurais de todo o país. Em Roan Mountain, Tennessee, por exemplo, os habitantes locais esperaram quase duas semanas pela assistência da FEMA. A cidade está localizada no condado de Carter, que votou 81% em Trump na terça-feira.

Os agentes da FEMA que receberam ordens para não ajudar as casas com cartazes de Trump estavam a operar no condado de Highlands, uma área conservadora localizada no centro-sul da Florida que apoiou Trump em 70% nas eleições. A região foi atingida por tornados, ventos e chuvas torrenciais e inundações quando o Milton chegou em Outubro.

No grupo de conversação, Washington disse que seria “melhor prática evitar casas que publicitem Trump”, de acordo com fotos das mensagens partilhadas pelos denunciantes. Não foi dada qualquer explicação para esta orientação, que incluía outras recomendações como dizer aos trabalhadores para “praticarem medidas preventivas e de pacificação” e para “evitarem dietas ricas em sal e café”.

 

Mensagem publicada no grupo de conversação Microsoft Teams usado pelos funcionários da FEMA

 

Fotos do sistema utilizado pelos trabalhadores federais de ajuda humanitária para registar as casas que visitavam mostram que os trabalhadores de ajuda humanitária seguiram as orientações de Washington. Vários endereços foram marcados como “não é possível aceder à propriedade” com explicações listadas como: “Símbolos de Trump. Não entrar por ordem [da chefia]”; “Por ordem [da chefia] não parar na bandeira de Trump’”, “Símbolo de Trump” e ‘Símbolo de Trump, não contactar por ordem [da chefia].

Um membro da equipa declarou numa queixa apresentada ao DHS sobre esta orientação:

“Se eles tivessem danos ou estivessem sem energia por mais de trinta e seis horas, era meu dever informá-los sobre os benefícios a que têm direito através da FEMA”.

Washington é a líder da equipa de Assistência a Sobreviventes de Desastres do Condado de Highland, segundo um gráfico de liderança da FEMA. A supervisora não respondeu a várias tentativas de contacto do Daily Wire.

Chad Hershey, supervisor da FEMA de Washington, disse à publicação que a agência está a analisar a situação. Pressionado para confirmar as mensagens, Hershey afirmou:

“Estamos cientes e estamos a tomar medidas neste momento em relação à situação de que estão a falar”.

Hershey acrescentou que a FEMA iria fornecer uma declaração mais completa, embora nenhuma tenha sido fornecida até ao momento. Afirmou também que estava “profundamente perturbado” e “horrorizado” com as acções da funcionária, e que “tomou medidas extremas para corrigir esta situação”, acrescentando:

“Embora acredite que se trata de um incidente isolado, tomámos medidas para retirar o funcionário da sua função e estamos a investigar o assunto para evitar que isto volte a acontecer. O funcionário que emitiu esta orientação não tinha autoridade e não recebeu qualquer ordem para dizer às equipas que evitassem estas casas e estamos a contactar as pessoas que podem não ter sido contactadas em resultado deste incidente. Este é um assunto que levamos extremamente a sério e estamos a fazer tudo o que podemos para garantir que todos os sobreviventes recebem apoio da FEMA. Até o momento, ajudámos mais de 365.000 famílias afectadas pelos furacões Helene e Milton no estado da Florida e fornecemos mais de 898 milhões de dólares em assistência directa aos sobreviventes. Estamos horrorizados com o que aconteceu e, por isso, tomámos medidas extremas para corrigir esta situação e garantimos que o assunto foi tratado a todos os níveis. Ajudar as pessoas é o que fazemos melhor e a nossa força de trabalho continuará a servir os sobreviventes durante o tempo que for necessário.”

Além destas declarações, um porta-voz da FEMA esclareceu que Washington não estava já a trabalhar activamente para a agência, enquanto aguardava uma investigação. Porém, os informadores  disseram que Washington não foi punida pela orientação, tendo sido transferida para outro condado na Florida. Entretanto, o New York Post noticiou que Marn’i Washington terá sido despedida.

A orientação foi emitida pela primeira vez por Washington verbalmente a 22 de Outubro e novamente no chat a 27 de Outubro, de acordo com um dos funcionários federais. As instruções relacionadas com Trump foram apagadas do chat alguns dias depois, segundo imagens desse grupo de conversação analisadas pelo The Daily Wire.

A 30 de Outubro, Washington começou a voltar atrás nas instruções sobre como evitar as casas dos apoiantes de Trump e a negar que tinha dado essas ordens, depois de uma reunião com outros administradores da FEMA, segundo disse um dos denunciantes.

Na queixa dos denunciantes é afirmado que a orientação mina ainda mais a confiança na FEMA e na sua resposta aos furacões.

“Esse comportamento levanta preocupações significativas de discriminação contra cidadãos dos Estados Unidos por causa de suas opiniões políticas. Essas acções não apenas minam a integridade de nossa agência e criam um ambiente de trabalho hostil para aqueles que podem ter crenças políticas diferentes, mas também ameaçam a própria democracia de nosso país.”

Não é assim de espantar que, como o ContraCultura documentou em Outubro,  os residentes das áreas afectadas pelo furacão Helena na Carolina do Norte estivessem de tal forma revoltados com a resposta deficiente e discriminatória do governo federal que se tornaram perigosos até para os funcionários que estavam a tentar ajudá-los.

A próxima administração vai ter que investigar o comportamento da FEMA nos estados do sudeste norte-americano, por ocasião dos dois furacões que os assolaram. E agir judicialmente. A circunstância é excessivamente vil para passar impune.