JD Vance sugeriu que o apoio dos Estados Unidos à NATO deverá depender da posição da União Europeia em relação à plataforma X.
O senador do Ohio e vice-presidente eleito criticou, numa entrevista ao YouTuber Shawn Ryan, um alto funcionário da UE que ameaçou prender Elon Musk se ele permitisse que o ex-presidente Donald Trump voltasse ao X.
“O líder, esqueci-me exactamente que funcionário era da União Europeia, enviou a Elon esta carta ameaçadora que basicamente dizia: ‘Vamos prendê-lo se der plataforma a Donald Trump’, que, a propósito, é o próximo presidente dos Estados Unidos.”
O vice-presidente eleito sugeriu então que o apoio dos EUA à NATO deveria ser utilizado como forma de pressionar os líderes europeus a não se envolverem nas políticas de liberdade de expressão do X.
“Se a NATO quer continuar a ter o apoio dos EUA não deve respeitar os valores americanos e a liberdade de expressão? É uma loucura apoiarmos uma aliança militar se essa aliança não for a favor da liberdade de expressão. Penso que podemos fazer as duas coisas. Mas temos de dizer que o poder americano vem acompanhado de certas condições. Uma delas é o respeito pela liberdade de expressão. Não vou a nenhum país dizer-lhes como devem viver as suas vidas. Mas os países europeus deveriam teoricamente partilhar os valores americanos, especialmente no que diz respeito a algumas coisas muito básicas como a liberdade de expressão.”
É completamente factual que a União Europeia, através do seu apparatchik Thierry Breton, tentou pressionar Elon Musk a não publicar a sua entrevista de longo formato com Donald Trump, que somou no crossover cerca de um bilião de visualizações.
Ou seja, a União Europeia tentou objectivamente censurar aquele que é agora o presidente eleito dos Estados Unidos da América. Não há volta a dar a este embaraço monumental.
Em 2022, Breton já tinha ameaçado Musk, afirmando:
“Se o Twitter não cumprir a DSA [Lei dos Serviços Digitais da UE], há sanções – 6% das receitas e, se continuarem, proibição de operar na Europa”.
Na mesma entrevista, Vance apresentou um plano de paz para o conflito na Ucrânia que passa essencialmente por assumir que a Rússia já ganhou a guerra. O vice-presidente eleito disse que um possível acordo de paz poderia significar que a Rússia manteria os territórios que tomou e que uma zona desmilitarizada seria implementada ao longo das actuais linhas da frente. Vance acrescentou que a Ucrânia também daria à Rússia uma “garantia de neutralidade”.
“O mais provável é que algo como a actual linha de demarcação entre a Rússia e a Ucrânia se torne uma zona desmilitarizada, fortemente fortificada, para que os russos não voltem a invadir.”
Vance também sugeriu que a Europa, especificamente a Alemanha, e não a Rússia, teria que financiar a reconstrução da Ucrânia.
“A Ucrânia continuaria a ser soberana e independente. A Rússia receberia a garantia de que a Ucrânia não irá aderir à NATO e a outras instituições aliadas. Os alemães e outras nações têm de financiar a reconstrução da Ucrânia”.
Estas condições serão muito provavelmente aceites por Putin, mas serão difíceis de aceitar pelos poderes instituídos na Ucrânia e na maior parte dos países europeus, que recusam as realidades no terreno e continuam a apostar tudo numa guerra perdida.
Para além disso, há que sublinhar que JD Vance não pode na verdade garantir que seja a Europa a financiar a reconstrução da Ucrânia, já que, como o Contra documentou em Novembro de 2023, expoentes máximos do capitalismo da guerra norte-americano, como a BlackRock e o JPMorgan Chase, deverão colher lucros inesperados de biliões de dólares ao garantir contratos sem licitação para reconstruir a Ucrânia – após anos a financiar o prolongamento do conflito.
De acordo com a administração Biden e a imprensa corporativa, os dois titãs financeiros globalistas lideram o “esforço humanitário” (é preciso ter lata) para estabelecer o Fundo de Desenvolvimento da Ucrânia, um banco de reconstrução projectado para direccionar programas de reconstrução que podem atrair biliões de dólares em investimento público e privado ndos EUA.
A estratégia é tão lucrativa quanto dantesca: os tubarões do mercado financeiro lucram com a morte e com a destruição, e depois surgem dos escombros que ajudaram a criar como benévolos e filantrópicos agentes da reconstrução.
E dificilmente Vance, ele próprio um ex-gestor de fundos de Wall Street, poderá contrariar interesses que transcendem largamente o âmbito da Casa Branca.
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