Quiçá contarei meia dúzia de leitores que, como eu, examinem a atual geopolítica e concluam ser a melhor saída cavar abrigos subterrâneos ou refugiarem-se, via Space X, em alguma estação orbital da NASA. E explicarei as razões de tal desalento.
Nítida é, aos meus olhos, a pressão crescente – principalmente impulsionada pela mídia mainstream – das forças motoras dos diversos aspirantes ao domínio global: califado islâmico, eurasianismo e o comuno-globalismo ocidental. Diante de ações cada vez mais ousadas, incisivas e sem nenhuma reação das potências tradicionais do ocidente – concluir pela cumplicidade de seus governos é de uma obviedade primária, desnecessário discutir.
O punctus dolens é exatamente este grau de ousadia e avanço, o qual nos deixa poucas ou nenhumas opções de reações políticas, pautadas pela civilidade diplomática. Em minha antiga ocupação na aviação, poderia chamá-lo “ponto de não-retorno” o qual, uma vez ultrapassado, já não existirão meios de se retornar ao aeródromo de partida.
Temos uma Europa despovoada de europeus e invadida por imigrantes árabes, africanos ou seja lá quais mais forem suas origens, mas quase todos – quase todos – coincidentemente homens jovens, sem família, soldados perfeitos, em suma. Temos também uma avalanche cultural a prestigiar o lumpemproletariado – leia-se imigrantes e minorias – impondo sua (des)cultura, (falta de)valores e exaltando a destruição de nossos símbolos, heróis e história.
Do mesmo modo a mídia mainstream os louva e conduz o cidadão comum – pelas orelhas – a encará-los como “amigos precisando de ajuda”, apontando o dedo em nossas caras e expondo nossa suposta falta de empatia, compaixão e amor ao próximo. Esta mesma mídia os eleva a cargos políticos, os canoniza como ídolos populares e, no frigir dos ovos, faz-nos concluir que a minoria – privilegiada e desumana – somos nós.
O eurasianismo de Dugin não é amigo dos califas muçulmanos e, muito menos, de George Soros ou Klaus Schwab. Mas estão todos alegremente de mãos dadas, pois farejam o colapso iminente de toda a civilização ocidental, poderosamente auxiliada por um Papa militante e lá colocado via golpe de Estado, através das mãos de Bill e Hillary Clinton et caterva.
O quê nos restou? Quais soluções diplomáticas ainda serão possíveis? Como refrear civilizadamente a insanidade da mídia e dos produtores de cultura? Quem matará a fome de poder das elites globalistas, de todas estas vertentes? Algum diálogo ainda será possível? E se for, quantas décadas levaremos – sempre ameaçados pelas eventuais recaídas – até que o mundo volte aos eixos?
Os Estados Unidos? Os de Joe Biden ou o de Donald Trump, este último sozinho contra o mundo? E como fará isso, sem um big stick escondido por detrás do sorriso e da mão estendida?
Este é o ponto onde meu desalento reside.
Talvez seja eu um pessimista crônico, mas nenhuma solução enxergo além de uma poderosa e catastrófica guerra mundial, a devastar não apenas todos os símbolos e forças de nossos oponentes como, inevitável e infelizmente, os nossos também.
Sem que me acusem de ser um “frankfurtiano” (Escola de Frankfurt), adianto que a “destruição de tudo” não é para que “surja algo novo e melhor” mas, sim, para que permaneçamos – nós, nossos valores e cultura – ainda vivos sobre a face da terra, mesmo que isto resulte no “despovoamento global” por eles almejado.
Sim, eu sei: é uma opinião desesperada e desanimadora mas, infelizmente, tenho a lucidez como minha maior inimiga.
Peço encarecidamente ao amigo leitor que me prove estar eu errado.
Sem nenhuma vergonha admitirei meus erros de análise e exibirei orgulhoso minha cara de burro – burro sim, mas exultante de felicidade por estar vivo, não ser escravo e poder rezar pelo meu Deus.
WALTER BIANCARDINE
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Walter Biancardine foi aluno de Olavo de Carvalho, é analista político, jornalista (Diário Cabofriense, Rede Lagos TV, Rádio Ondas Fm) e blogger; foi funcionário da OEA – Organização dos Estados Americanos.
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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