Sendo certo que a publicação de um site editorial dissidente, sem receitas, e contando apenas com a generosidade de um punhado de colunistas, é uma iniciativa condenada a lapsos e desvios da razão, há erros que não devem passar sem serem assumidos e devo reconhecer que cometi um, grosseiro, quando desconfiei dos objectivos de Robert F. Kennedy Jr. pelo facto da directora da sua campanha ser, para além de sua nora, uma ex-agente da CIA.

Tenho boas razões para desconfiar de qualquer pessoa que esteja ligada, no passado ou no presente, à mais mafiosa das organizações secretas desde que Homero inventou a espionagem.

Tenha boas razões para desconfiar que do clã Kennedy não podemos esperar nada senão esquemas do estado profundo, segundas intenções e agendas de poder mascaradas de intenções humanistas.

Tinha boas razões para suspeitar – se bem que erradamente – que a campanha de RFK se destinava a regatar votos de independentes que poderiam recair em Donald Trump.

E, por isso, mesmo quando o candidato independente decidiu endossar a campanha do candidato republicano, anulando a sua própria, continuei desconfiado.

Devia porém ter feito o devido trabalho de casa antes de atirar a senhora dona Amaryllis Fox Kennedy para a fogueira da suspeição.

Peço desculpa à rapariga e peço desculpa à gentil audiência do ContraCultura. Estava enganado. Redondamente enganado.

Como é demonstrável pela conversa de longo formato entre Amaryllis e Tucker Carlson, que deixo no vídeo em baixo, a ex-agente da CIA não podia ser mais desassombrada nas suas afirmações sobre os poderes instituídos em Washington (e como são controlados por outros poderes superlativos), sobre os ataques cerrados à liberdade de expressão, sobre o secretismo que é imposto pelas agências de segurança e inteligência dos EUA relativamente a factos sucedidos há dezenas de anos, em directa oposição ao direito que os contribuintes, que pagam a actividade destas agências, têm de ser informados. E ser-lhe-ia difícil até uma posição mais crítica relativamente à agência para a qual trabalhou, sob o risco de ser rapidamente encarcerada por trair compromissos inerentes de confidencialidade.

Amaryllis Fox Kennedy é afinal uma camarada de trincheira, apesar da sua génese liberal-elitista, e isto até diz muito em favor dela. Não admira assim que JFK tenha acabado por deixar cair a sua campanha para endossar o candidato republicano.

A rapariga que injusticei, merece agora a justiça deste texto. Ajudem-me amigos, na redenção, ouvindo o que ela tem para dizer.

Até porque vale mesmo a pena.

 

 

Paulo Hasse Paixão
Publisher . Contracultura