A baía adormece –
Mas as gaivotas
Ainda discutem
A gaivota está stressada –
Até para as aves
É difícil a vida
A baía é um triunfo –
Todos os dias vence
Sobre o caos
De tanto escrever haikus
Do alto da falésia
Fico com vertigens
Como seria ético
Um universo
Sem moscas
Do outro lado do Atlântico
Protestam furacões –
Deste lado, não
A sós –
Aproveito para matar
As saudades que tinha de mim
Acordo com o grito
De um martelo pneumático –
Puta que pariu
A Marinha é de boa companhia –
Sabe manter as devidas
distâncias
Não há tédio
Que um copo de vinho
Não resolva
Uma gaivota faz ninho
No meu telhado –
Vai haver confusão
Esqueço-me do saco do lixo
À porta de casa –
As gaivotas agradecem
O haiku depende muito
Da qualidade
Do caderno
Hoje vou jantar ao Canhão –
A tarde
alegra-se
Dou graças a Deus por saber misturar
Trabalho com
Prazer
Os ateus não sabem
A paz que
Perdem
Só um cego não repara
No desenho
Inteligente
A BIC fica sem tinta
Quando ainda estou carregado
De palavras
Todos os versos que já rasurei
Eram capazes
De uma Odisseia
A baía discursa –
Mas é quando se cala
Mais eloquente
O melro observa-me
E observa o ninho da gaivota –
Prós e contras
No alto da falésia
Ficas mais perto
De Deus
Não há como uma moto-serra
Para estragar
A paisagem
Traineira minúscula –
É grande quando entra
Na doca
A Mãe Natureza
Tem sempre nota 20
A matemática
Candeeiros, telhas, chaminés,
Antenas, painéis solares –
mobília de gaivotas
A traineira é da formiga.
O iate é da
Cigarra
A marina não passa
De uma doca
Vaidosa
Entra um besouro enorme
Pela sala a dentro –
E agora?
Lua cheia –
Até os candeeiros
Ficam envergonhados
_____________
A Arte do Haiku: Introdução.
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