A Torre de Babel . Pieter Bruegel o Velho . 1563

 

“E escalarei as nuvens, e serei semelhante ao Eterno”
Isaías 14:13 –15

 

Este foi o propósito arrogante e soberbo do Rei da Babilônia, o qual pretendia estender seu domínio e poder por sobre toda a humanidade e face da Terra. Um poder global, mundial, exercido sobre povos, gentes e mesmo a natureza. Contudo, encontrou seu limite: “E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo”, sentenciou o Senhor.

A ambição humana de poder não conhece, entretanto, limites e deste modo valeram-se de toda a humanidade falar um só idioma para unirem-se a construir uma cidade, na qual pretendiam erigir uma torre que chegasse aos céus – a mesma ambição de reinar em lugar de Deus, do poder universal e global, desta vez justificado por não ser a pretensão de um só, mas de um grupo que se auto justificava. E ergueram Babel e sua torre.

E descendo Jeová sobre a terra, viu a obra que os homens faziam e disse: “Eis que são um só povo e um só idioma. Ora, nada do que intentem fazer lhes será agora inalcançável; desçamos e confundamos o seu idioma para que não escutem o próximo”. E Deus os espalhou por sobre a face da Terra. (Gênesis 11:6 – 7)

A ânsia humana pelo domínio global não cessa e, por isso, alguns milhares de anos seriam necessários até que uma boa justificativa – oriunda da razão egocêntrica, e não de pretensões obviamente individuais ou de pequenos grupos – viesse à tona, sob a forma de um pensamento filosófico denominado Iluminismo, parido nos séculos XVII e XVIII, mas caridosamente amamentado até os dias atuais.

A defesa da razão em detrimento da fé, postulando a separação entre Estado e Igreja, abriram caminho para o Estado Laico, não temente a Deus e, portanto, sem seus parâmetros morais e princípios. Uma causa aparentemente nobre – crítica ao absolutismo e defesa de uma limitação do poder real – desembocaria na situação institucional anárquica (proposital, creio) vivida hoje, bem como a crença que o desenvolvimento científico levaria ao progresso da humanidade acabaria por resultar no amplo espectro de problemas que abordei em meu artigo anterior, “Inocência e Conhecimento ou O Ovo da Serpente”.

René Descartes expeliu de seu ventre nomes como Thomas Hobbes, John Locke, Montesquieu, Voltaire e Jean-Jacques Rousseau os quais, como arquitetos de uma nova Torre de Babel, acenam alegremente para compradores de seu imóvel, todos eles oriundos de lucrativos empreendimentos meta-capitalistas, muito bem associados às economias inegavelmente fascistas das potências atuais, sócias do portentoso condomínio conhecido como Nova Ordem Mundial.

Um desses sócios, Vladmir Putin, disse recentemente que “a Nova Ordem Mundial (a dele) é inevitável”, já esfregando as mãos em sinal de ansiedade para habitar seu belo apartamento, em Babel. Outros, mais para o lado da China, começam desde já a criar brigas de vizinhos ao desacatar George Soros – um dos financiadores da Torre – e criam, com isso, um “clima ruim” entre condôminos tão próximos.

Pouco importa. O que nos compete saber – como faxineiros do edifício que somos – é que o tempo passa, o mundo dá voltas, o homem ousa e Deus castiga, mas a megalomania sempre vence.
O que Deus reservará para a nova Torre de Babel Globalista – agora com “wi-fi” incluso – dos dias atuais?

Não saberia dizer. Mas ouso supor que, se aguardarmos a eleição do primeiro síndico, já teremos perdido todas as chances e esperanças.

 

 

WALTER BIANCARDINE
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Walter Biancardine foi aluno de Olavo de Carvalho, é analista político, jornalista (Diário Cabofriense, Rede Lagos TV, Rádio Ondas Fm) e blogger; foi funcionário da OEA – Organização dos Estados Americanos.
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.