Duas corvetas fundeiam
Ao largo da baía –
Até as gaivotas fazem continência
Ainda agora começou Setembro
Mas o corpo gasto
Já pede agasalho
Quando era criança
O Verão não tinha
Noites frias
É bom ter vizinhos
Principalmente quando eles
Vão de férias
Quando for grande, o Facebook
Quer ser como os sinos
Da minha aldeia
Sentes a velhice a chegar
Quando te crescem pelos
Nas orelhas
Uma coisa é jogar ténis
Outra coisa é o Federer
Com uma raquete nas mãos
Nem os Concertos de Brandenburgo
Convencem o sol –
A noite chega sempre a horas
A pobreza só é uma virtude
Na poesia
Chinesa
Há coisas que a ciência
Não explica –
Graças a Deus
É maior a glória da traineira
Que parte ou da traineira
Que chega?
Quando a tarde cai
Ao som de Bach
Até o gin tónico é respeitável
Mesmo quando a conta bancária
Sorri, choras
Pelo que não tens
A saudade é uma dor volátil –
Morre logo na presença
Do saudoso
Tão pequeno o meu escritório
Que até as moscas
Sofrem de claustrofobia
Por mais flautas que Bach faça tocar
O silêncio é sempre
O maestro
Um cão não pergunta por deus
Mas é mais fiel
Que os fariseus
Glórias da idade –
Quanto mais cansados os meus olhos
mais nítido o mundo
O haxixe tem uma coisa boa –
É mais barato
Que o tabaco
O mar atrai as pessoas
Como a merda
Atrai as moscas
_____________
A Arte do Haiku: Introdução.
Mais haikus no ContraCultura.
Relacionados
10 Jan 25
O Homem Alpendre
A pedra misturou-se por instantes infinitesimais com as laranjas suas primas para matarem no Aleph que sobrou a saudade impossível. Um poema de Alburneo.
8 Jan 25
Nas dunas
A arte do haiku: Nas dunas estás noutro planeta; onde és ensurdecido pelo oceano, mal tratado pelo empregado de mesa, os flamingos sabem mais que tu e nem os grilos vencem o silêncio.
30 Dez 24
Oração de Ano Novo.
Senhor; que a Adão ofereceste a queda, que a Abraão exigiste o filicídio, que a Moisés impuseste a jornada, que aos faraós rogaste as pragas; salva-nos agora, do colapso desta hora.
23 Dez 24
Haikus da Consoada
A arte do haiku: Um cobertor para o menino, um concerto no paraíso, o frio que faz lá fora e o calor que faz cá dentro. Na consoada, o mundo é mais bonito.
13 Dez 24
Ceptro de Vento
Entre o abismo do alto e o abismo do fundo, um anjo antigo vem e segura o tesouro impossível. Um poema de Alburneo.