Após dois meses de incerteza e caos no sistema político francês, o presidente Emmanuel Macron escolheu finalmente um novo primeiro-ministro, nomeando Michel Barnier, antigo negociador da UE para o Brexit, como novo primeiro-ministro do país.
Barnier é – sem surpresa – um conservador globalista e pró-europeu. Embora tenha feito carreira como moderado, mais tarde endureceu o seu discurso, afirmando que a imigração estava “fora de controlo”.
Barnier é deputado desde os 27 anos, tendo sido também Ministro dos Negócios Estrangeiros e Ministro da Agricultura. Nos últimos 15 anos, tem trabalhado na sede da UE em Bruxelas. Macron encarregou-o de “unificar a França” e pôr fim ao impasse político que o próprio Presidente criou.
O novo primeiro-ministro terá o desafio assustador de tentar fazer passar as reformas e o orçamento de 2025 por um parlamento amargamente dividido, sob a ameaça constante de um voto de desconfiança.
Depois de unir forças com Macron para manter o Rassemblement National (RN) de Marine Le Pen fora do poder, a esquerda sente-se agora traída por ele e está a deixar claro que fará oposição de linha dura.
O líder da extrema-esquerda Jean-Luc Melenchon, apelando a protestos de rua no sábado, afirmou:
“A eleição foi roubada ao povo francês.”
Outro legislador de extrema-esquerda, Mathilde Panot, chamou-lhe um
“golpe democrático inaceitável.”
A ironia é que o sucesso de Barnier dependerá, em grande medida, do Rassemblement National, que é o maior partido do Parlamento. E apesar de ser parcialmente verdadeiro que Macron está a tentar contornar os resultados das eleições que convocou, mais factual ainda é a circunstância do maior partido francês ter sido afastado do poder por uma coligação eleitoral que a única coisa que tem em comum é o ódio aos nacionalistas, na verdade deveras moderados, de Marine Le Pen.
O RN indicou entretanto que não iria bloquear Barnier “para já”, mas ameaça fazê-lo mais tarde – a menos que uma série de exigências sejam satisfeitas. Jordan Bardella, a segunda figura do partido, afirmou:
“Vamos defender que as principais urgências dos franceses – o custo de vida, a segurança, a imigração – sejam finalmente resolvidas e reservamos todos os meios de acção política se tal não acontecer nas próximas semanas”.
O mercado financeiro francês reagiu positivamente: As acções dos bancos subiram, os juros sobre a dívida do Estado caíram ligeiramente e a cotação do euro subiu.
A linha política de Barnier é, de um modo geral, próxima da de Macron, e é crucial para o Presidente francês que o seu novo Primeiro-Ministro não tente desfazer as reformas levadas a cabo nos últimos anos, em particular as alterações às pensões, que enfureceram a esquerda. Ainda não é claro se Barnier vai tentar implementar integralmente a agenda política de Macron ou apresentar novas propostas. De qualquer forma, terá de negociar com outros partidos para que a sua legislação seja adoptada no Parlamento.
Laurent Jacobelli, deputado do RN, afirmou que uma das condições para não votar contra Barnier será um compromisso de dissolução do Parlamento no início de Julho do próximo ano. Barnier deveria também manifestar o seu apoio a uma mudança na representação proporcional, substituindo o sistema francês de votação a duas voltas para círculos eleitorais únicos.
Dificilmente as exigências do RN serão satisfeitas. E é até possível que a esquerda acabe por viabilizar o executivo agora nomeado. Para ‘salvar a democracia’.
A ver vamos.
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