Após a detenção do director executivo do Telegram, Pavel Durov, surgiram questões sobre o motivo pelo qual Mark Zuckerberg não enfrentou acusações semelhantes, uma vez que as plataformas da Meta – Facebook, Instagram e WhatsApp – também foram utilizadas para divulgar material de abuso sexual de crianças, tráfico de drogas e muito mais, e na medida em que o CEO da holding de Silicon Valley também já transitou muitas vezes pelos aeroportos franceses, sem ter sido incomodado pelo escrúpulo legalista dos procuradores do regime Macron.

O WhatsApp, a plataforma de mensagens encriptadas comprada pela Meta por 19 biliões de dólares em 2014, é a plataforma mais semelhante ao Telegram e tem muitos dos mesmos problemas no que diz respeito à disseminação de material de abuso sexual de crianças e tráfico de drogas.

A Proxy Impact, uma empresa que orienta grupos de investimento e fundações filantrópicas, afirmou que, em 2023, 36 milhões de denúncias de actividades criminosas foram relatadas online e 85%, ou 31 milhões de casos, foram relatados em plataformas Meta.

A empresa também criticou a Meta por implementar criptografia em todas as suas plataformas, não apenas no WhatsApp, afirmando que isso poderia tornar até 70% dos casos de actividade criminal “invisíveis”.

A Meta tem alegadamente lutado para evitar que as suas plataformas sejam utilizadas por pedófilos.

Dan Sexton, director de tecnologia da Internet Watch Foundation (IWF), sediada no Reino Unido, afirmou no início deste mês que o WhatsApp tem ferramentas para detectar actividades ilícitas, mas recusa-se a usá-las. Este comentário foi feito na sequência de um escândalo que envolveu o antigo pivot da BBC Huw Edwards, que tinha criado e difundido pornografia infantil num grupo do WhatsApp.

Ainda em 2022, o WhatsApp recusou-se categoricamente a quebrar a sua encriptação, depois do governo federal norte-americano argumentar que essa era a única forma de impedir a propagação de abuso sexual infantil.

O Telegram também se recusou a quebrar a sua encriptação para qualquer governo. Os procuradores franceses incluíram esta acusação contra Pavel Durov, juntamente com a cumplicidade em vários outros actos ilegais ocorridos no Telegram.

Neste contexto, a pergunta que permanece é esta: Porque é que Mark Zuckerberg não está a enfrentar as mesmas consequências que Pavel Durov?

 

Amiguinho dos poderes instituídos.

Embora tanto a Meta como o Telegram tenham visto as suas plataformas serem utilizadas por traficantes de droga, pedófilos, burlões e outros marginais, uma diferença determinante entre as duas entidades é a forma como interagem com os regimes globalistas de todo o mundo.

Mark Zuckerberg e a Meta censuraram activamente o discurso público, comportamento que Zuckerberg admitiu e pelo qual pediu desculpa na semana passada.

Zuckerberg confessou que serviu a volição censória dos poderes instituídos nos EUA durante a pandemia e nas presidenciais de 2020, tendo a Meta obliterado a história do laptop de Hunter Biden durante esse período eleitoral, por exemplo.

A este propósito Zuckerberg afirmou:

“Acredito que a pressão do governo estava errada e lamento que não tenhamos sido mais francos sobre isso… Estamos prontos para reagir se algo assim acontecer novamente.”

De acordo com Elon Musk, proprietário da X, Zuckerberg e outros gigantes das redes sociais concordaram com um pacto secreto e ilegal com a União Europeia para censurar as suas próprias plataformas.

Durov, por outro lado, tem-se recusado repetidamente a censurar o Telegram em nome de qualquer governo, incluindo a Rússia, os Estados Unidos e a França.

Durante uma entrevista com Tucker Carlson, Durov, de 39 anos, explicou que agentes do FBI e outros o abordaram e que recusou pessoalmente pedidos para remover conteúdos do Telegram:

“Sempre pensámos que isso seria pisar o risco – que não estaria de acordo com os nossos valores de liberdade de expressão e de protecção da correspondência privada das pessoas – ignorámos essas solicitações”.

 

A posição do ContraCultura sobre plataformas de mensagens encriptadas.

O problema das aplicações como o Telegram e o WahtsApp é muito fácil de equacionar: O primeiro argumento destes serviços digitais é precisamente a privacidade e inviolabilidade das mensagens trocadas pelos utilizadores. Ao abrir excepções a essa promessa, a confiança dos utilizadores no serviço prestado cai abruptamente. E se é verdade que maus agentes podem utilizar estas redes para estabelecer comunicações que facilitam a prática de crimes, isso acontece também com outras indústrias: Se um assaltante de um banco em Marselha utilizar um Porsche para fugir com o dinheiro, o CEO do construtor alemão vai ser preso da próxima vez que aterrar em Paris? Se um assassino utilizar uma Walter para matar um cidadão da Normandia, o CEO da empresa de armamento vai ser perseguido judicialmente pelos procuradores franceses?

Além disso, ao abrir excepções para facilitar aos estados a perseguição de criminosos, estas plataformas abrem um precedente para auxiliar forças de segurança cuja vertente ideológica não dominam. Porque a definição jurídica do que é um crime pode derivar muito, e muito deriva, não só de país para país como de regime para regime. Por exemplo: neste momento, no Reino Unido, uma pessoa que faça uso de “retórica anti-sistema” é considerada não só como criminosa, mas como potencial terrorista.

Se os utilizadores de uma plataforma de mensagens encriptadas não podem confiar no serviço que lhes é proposto porque, numa determinada mensagem disseram que os negros em Inglaterra têm uma tendência desproporcional para roubar bicicletas, e vão rapidamente meter-se em sarilhos com as ‘autoridades’ por causa disso, uma vez que essa mensagem foi entregue pelo servidor aos fascistas instalados no poder político, então não há razão sequer para que o serviço exista.

Certo?